terça-feira, 27 de julho de 2010

Despedidas... e desencontros

3 de Março. A Primavera teimava não se fazer anunciar e a chuva caía sem se importar com as convenções climatéricas estabelecidas no calendário.

Ela não sentiu a chuva que batia fortemente nos vidros do carro, tão absorvida ia nos seus pensamentos.... nem percebeu que o frio que se fazia sentir lhe gelava as mãos.

Afinal seria apenas um almoço banal com um quase desconhecido que, sem saber explicar porquê, o seu intimo jurava a si mesma há muito conhecer...

Ele tentou concentra-se toda a manhã nas pilhas de papel que o impediam de ver o horizonte.... mas várias foram as vezes que deu por si a pensar que ao meio dia o telefone não iria tocar... não sabendo se temia ou desejava que isso acontecesse.

Ao meio dia em ponto encontraram-se como se fosse inquestionável a certeza de ser aquele um almoço banal.

A chuva continuava a cair... ele disfarçou mal a vontade inexplicável que teve de a abraçar quando a cumprimentou...

Ela fingiu não ter de esconder o que pressentiu.. com esquecimentos, risos, conversas aparentemente seguras...no almoço, antes, e depois dele....

Nesse dia não deixaram a despedida acontecer como a sentiram, não entendendo porque a sentiam e julgando não ser possivel ou legitimo senti-la assim....

Durante o dia ensairam ambos um sms inoquo para transmitir ao outro subtilmente o que sentiram...

Ela emotiva e frontal... não o consegui de forma isenta.... e desistiu...

Leu o dele... enviado já ao fim da tarde... e respondeu-lhe com igual isenção e timidez....

Tudo se repetiu depois num dia de sol....

Nesse dia ela serenou com a serenidade dele e brindou-a com sorrisos, enquanto ele tentava desvendar-lhe a alma, que continuava a parecer-lhe familiar...

Depois, na despedida, podia ter acontecido o que desde o dia de chuva ambos desejavam... trocaram beijos cordiais, confundiram olhares ... enlearam as mãos ..com o desejo inconfessado de as deixarem ficar....

Depois partiram....não pediram nem deram explicaçõs a si mesmos.... guardaram o momento... e ficaram ... bem no intimo secreta e inconfessadamente a desejar o próximo... e uma outra despedida....

Maria Luisa adormeceu ao sol, e deiou-se inebriar, pelos laivos de verdade que não conseguia apagar da memória, enquanto a dormencia dos sentidos a impedia de recordar com precisão tudo o que vivera....

Queria esquecer... queria que todas as recordações não passassem de memórias criadas pela sua imaginação....

O sol continuava a queimar-lhe a pele.... e a alma....

Na boca permanecia o gosto a champanhe... e na pele o toque suave que a fez estremecer....

Para trás ficaram os silêncios... os desejos... as vidas que nem sempre podem ou devem ter sequencia lógica....

Foi acordada pelo rapaz do hotel que lhe oferecia uma espetada de fruta para refrescar...

O sono e o sonho voltaram a envolver-lhe o corpo e a alma....queria permanecer no sonho.... manter viva a ilusão da verdade que apenas existia em dias especiais.... que faziam parar a rotina e a monotonia dos dias por ambos vividos...

Depois da dormencia deixada pelo chapanhe partilhado... a envolvência de uns braços forts e suaves....

Acordou.... naquele dia, o sonho havia-se quebrado.... o sol encobria-se e procurou noutro abraço o calor que precisava para se continuar a sentir viva....

Pouco entendia de toda a história que sonhara... e temia que a verdade, a crueza da vida não a deixasse voltar a ser adormecida pelo borbulhar do espumante e pelo silêncio revelador da companhia...

Lá fora, o mar convidava-a à reflexão.... e a brisa que se fazia sentir envolvia-a num abraço familiar....

A vida continuava...e, quem sabe, se forte, o sonho também ?