Há um tédio e uma tristeza próprios de domingo.
Sunday, dizem os ingleses, ainda que esteja um imenso nevoeiro.
Há uma esperança de luz e felicidade acrescida aos domingos, vá-se lá saber porquê, e esta, quando não se concretiza- o que acontece com frequência- deixa um sabor particularmente amargo: o sabor dos domingos tristes.
Há as imagens , sons e cheiros dos domingos. As famílias que se passeiam nos seus fatos de ir-ver-a-deus ou nos actuais uniformes dos fatos de treino dos tristes rituais dos centros comerciais.As comidas demoradamente apuradas de domingo: as grandes feijoadas , os cozidos, os lanches preguisosos à lareira, os guisados da mãe. Os entediantes relatos de futebol sofridos pelas mulheres que fazem o crochet aborrecido no carro virado para o rio onde o olhar bovino se perde e de onde não surgirá qualquer Ulisses. O som circular da fórmula um e o ressonar sonoro do pai do sofá invariavelmente perturbado pelos gritos impacientes dos miúdos a reclamarem felicidades em forma de jardins e sacos de pipocas.
Não há nada realmente pior que um domingo que não se cumpre!
12 comentários:
Fantástico o poema, as imagens.. e
sempre o Mário Viegas. Cumpram-se ou não eu não gosto dos domingos, talvez por não gostar da osiosidade pura....
eu adoro a ociosidade pura, mas prefiro durante a semana, a modos de contra-corrente... aos domingos banaliza-se, mais vale trabalhar... a contra-corrente,... porrinha, afinal também me sujeito à ditadura do que devia ser cada dia... domingo estragado
Pois eu acho que não ha como o trabalhinho á semana e uns « hobbizitos » em qualquer dia. Nada de ociosidades....E depois, vá-se lá saber porquê, também tenho de ganhar a vida e a ociosidade aos dias de semana não dá jeitinho nenhum... infelizmente, amigo, não posso ser da contra-corrente, nesse aspecto...
é o mundo maravilhoso das diferenças, faz com que haja sempre alguma ociosidade a decorrer. já as correntes tem mais que se lhes diga, mas por vezes sabe bem aproveitar, e se ainda por cima der para ganhar a vida... nã, simples demais!
E vivam as diferenças!
Eu também gosto de provocações....
bendita sejas
Hum hum... e tu és?
Mosca Albertina, mosca Albertina, voltei...
Diz-me só uma coisa: o que é que tu tens contra os domingos e contra a Familia?
O Domingo é o dia do Senhor, o sétimo dia, em que Ele descansou depois de ter feito a sua obra.
A familia é um espaço fantástico, de liberdade, de respeito, de compreensão, de amor, é um refúgio assim como um porto de abrigo em dia de temporal.
Não sejas assim tão ... tão ácida, envelheces mais depressa e não te fica bem.
Ainda por cima agora que se aproxima a festa da familia
Amiga, relembrei este domingo, depois de me ter deitado de manhã, como já não fazia há muito tempo, que houve uma altura em que gostava de domingos, nos tempos em que não havia filhos e nos deitavamos ao amanhecer sabendo que no dia seguinte podiamos preguiçar no sofá durante a tarde, a ler, a ver filmes parvos na TV, a falar ao telefone. Outros domingos há, de almoços em esplanadas com amigos, com Sol de fim de Outono a iluminar, em que nos esquecemos que é Domingo. Mas poucos são aqueles em que não se sente, nem que seja por instantes, um travo amargo de promessa por cumprir. É bom saber que partilho essa "amargura". Uma provinciana.
Não tenho nada, mesmo nada contra as famílias, ó Zorro embirrador! Até te vou dedicar este textito do Mário Henrique Leiria para que percebas como gosto de todos os rituais que a fortaleçam. E não penses que é embirração. Como mãe dedicada que sou até o li um dia destes na escola do meu filho mais velho a pedido do próprio. Não só gosto da família como incuto aos meus rebentos , desde novos, os supremos valores familiares!
A família.
«Vamos à pesca
disse o pai
para os três filhos
vamos à pesca do esturjão
nada melhor do que pescar
para conservar
a união familiar
a mãe deu-lhe razão
e preparou
sem mais detença
um bom farnel
sopa de couves com feijão
para ir também
à pescaria do esturjão
e a mãe e o pai
e os três filhos
foram à pesca
do esturjão
todos atentos
satisfeitíssimos
que bom pescar
o esturjão!
que bom comer
o belo farnel
sopa de couves com feijão!
e foi então
que apanharam
um magnífico esturjão
que logo quiseram
ali fritar
mas enganaram-se na fritada
e zás fritaram o velho pai
apetitoso
muito melhor
mais saboroso
do que o esturjão.»
Não te parece esta uma verdadeira família funcional e autofágica, sustenta-se a si própria como qualquer célula estaminal...vivá família, vivó Natal, vivós domingos...ama, reproduz-te e faz muitos zorrinhos para nos estimularem as conversas. Um cheirinho a rabanadas...
«Vamos para casa!- disse o esturjão.»
É assim que acaba o poema que amputei sem querer! Ora, nós não queremos poesia amputada.
Rir para combater o christmas´s blues...É Natal, é Natal, tudo tem mais luuuuuzzzzzzzzzz!!!Vivas filhoses!
LAMENTO QUE NÃO TENHAS PERCEBIDO UMA COISA QUE ME PARECIA SIMPLES: IRONIZAVA A PROPÓSITO DO ESPAÇO QUE É A FAMILIA, O DOMINGO E A CRIAÇÃO, PROVOCANDO-TE PRIMEIRO...IRRITAS-TE COM FACILIDADE. É POR SER COMIGO, O ZORRO EMBIRRADOR COMO ELEGANTEMENTE ME CHAMASTE, OU É GERAL?
NÃO INTERESSA. MAS JÁ QUE QUEBRASTE UMA REGRA, FALANDO-ME DE TI, DIR-TE-EI QUE OPTEI POR NÃO FAZER FAMILIA PARA TER O ESPAÇO TODO MEU.
OBRIGADO PELO POEMA QUE DESCONHECIA. VOU REGISTÁ-LO E, UM DIA, SE RESOLVER TER ZORRINHOS, É BEM PROVAVEL QUE LHES LEIA ESTA HISTÓRIA. TALVEZ REINVENTE O FINAL.
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