quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Canção sábia... ou SENSATEZ
Não se Casem Raparigas
Já viram um homem em pêlo
Sair de repente da casa de banho
Escorrendo por todos os pêlos
Com o bigode cheio de pena
Já viram um homem muito feio
A comer esparguete
Garfo em punho e ar de bruto
Com molho de tomate no colete
Quando são bonitos são idiotas
Quando são velhos são horríveis
Quando são pequenos são maus
Já viram um homem gordo à beça
Extrair as pernas do ó-ó
Massajar a barriga e coçar as guedelhas
Olhando pensativo para os pés
Não se casem raparigas não se casem
Façam antes cinema
Fiquem virgens em casa do papá
Sejam serventes no carvoeiro
Criem macacos criem gatos
Levantem a pata na Ópera
Vendam caixas de chocolate
Professem ou não professem
Dancem em pêlo para os gagás
Sejam matadoras na avenida do Bois
Mas não se casem raparigas
Não se casem
Já viram um homem à rasca
Chegar tarde para o jantar
Com baton no colarinho
E tremeliques nas gâmbias
Já viram no cabaret
Um senhor não muito fresco
Roçar-se com insistência
Numa florzinha de inocência
Quando são burros aborrecem
Quando são fortes fazem sports
Quando são ricos guardam o milho
Quando são duros torturam
Já viram ao vosso braço pendurado
Um magrizela de olhos de rato
Frisar os três pêlos do bigode
E empertigar-se com um ar de bode
Não se casem raparigas não se casem
Vistam os vossos vestidos de gala
Vão dançar ao Olímpia
Mudem de amante quatro vezes por mês
Peguem na massa e guardem-na
Escondam-na fresca debaixo do colchão
Aos cinquenta anos pode servir
Para sacar belos rapazes
Nada na cabeça tudo nos braços
Ah que bela vida será
Se não se casarem raparigas
Se não se casarem
Boris Vian, in "Canções e Poemas"
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6 comentários:
Um Bom Par de Chapadas
Quando se está completamente farto
Quando se esgotou tudo
O vinho o amor as cartas
Quando se perdeu o vício
Das sopas de camarões
Das salsichas de Sarthe
Quando a visão de um strip-tease
Nos faz dizer Que parvoíce
Não arranjaram melhor
Ainda resta um jeito
Que nunca perde o efeito
De ver a vida a cor-de-rosa
Um par de chapadas na tromba
Um bom pontapé no cu
Um murraço nas queixadas
Dá-nos outra juventude
Um bom par de chapadas na tromba
Um directo em cheio no estômago
Os dedos dos pés debaixo duma mó
Um biqueiro em pleno tralálá
Apaga tudo, a droga e a aspirina
Os espinafres, o snif e a Badoit
É mais bacana que o foie gras em terrina
Pois é menos caro e não engorda
Um bom par de chapadas na tromba
E a vida volta a ter valor
Numa manhã em que nos sintamos sós
Toca a partir a cara entre amigos
Quando ela deu de frosque
Levando o dinheiro
E a máquina de costura
Deixando-nos o lava-louça
Cheio de louça por lavar
E o sal no pote do açúcar
Quando o nosso melhor amigo
Telefona no dia seguinte
Dizendo Vem-na buscar
A gente casquina e pensa
Espera um pouco Hortênsia
Vais ver o que vais levar
Um par de chapadas na tromba
Um bom pontapé no cu
Um murraço nas queixadas
Dá-te outra juventude
Um bom par de chapadas na tromba
Um directo em cheio no estômago
Os dedos dos pés debaixo duma mó
Um biqueiro em pleno tralálá
Aborrecias-te no meu quartinho
Suspiravas querias coisa nova
Doravante de Janeiro a Dezembro
Conta comigo para te servir à discrição
Um bom par de chapadas na tromba
Isso há-de consolar-me minha rica
Dos serões em que manipulavas
O rolo da massa
Toma lá cabra
idem, ibidem
«Coitarados!
Meninos, tiveram pouca mamã.
Carências afectivas afunilaram-nos psiquicamente
desde a impoética infância até este corrimento senti-
[mental
em que, grandinhos, se compensam, comprazem.
Continuam a gotejar.
Coitarados!
Gulosos de pontas de dedos,
perdem-se em beijoqueirices, diminutivas ternurinhas.
Têm sempre rebuçadinhos d'alma para as mulheres.
Falam freud ao colo das amigas.
Fraldiqueiros. . .
Vai levar-lhes isso a nojo, machão?
MuIheres gostam. Riem, prazidas.
«Venha cá à mamã!»
O golpe do coitadinho (não confundir com o golpe
do irmãozinho, esse na base do esquema da alma gémea)
é o que estás a ver: saltar para o regaço e pedir nhém
[nhém
em nome do Sigismundo, daquele que dizia, salvo erro:
A alma? Geme-a...
Fraldiqueiros
a mandarem beijinhos por teleférico!
[de saliva
Engatinhantes, tiram do estojo complexos em forma
[de saxofone
e tocantam-lhes a pingona freudista canção do bandido
,
Fraldiqueiros. . .
Mulheres gostam. Até onde?»
Fraldiqueiros
Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda
having the flu and with nothing else to do
a destrabalhar -as usual- e com uma saúde que até dá naúseas!
O que nos vale é ser Carnaval...e haver Magalhães em Torres Vedras e tudo....deixa-nos mais descansados...ainda há pior... muito pior... se há!
Hilariante o poema das chapadas!! Sim, machista, mas que divertido é lê-lo!
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