sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pesadelo








Deitada ao sol admiro o mar.... uma voz, ao longe, vem interromper o silêncio apenas quebrado pelo barulho das ondas...



Olho e vejo papeis... pilhas e pilhas divididos em volumes, presos, e eu refém da secretária, onde me esperam....



Volto a olhar e vejo a minha imagem reflectida no vidro do armário, negra, disforme..... e pequena perante o abismo que me espera....


Estou aterrorizada... sinto a cabeça pesada.... e redonda, como um ovo.... e tenho asas, patas e penas.... e processos pilhas e pilhas de processos.... e vagueio entre as ondas da praia da Torre e a serra, vou ao volante de um descapotavel... ao luar e ao sonho, na Serra de Sintra.... e declamo poemas de Pessoa...

E sou seguida por dezenas de outras figuras, grandes e brancas, que carregam mais e mais processos e falam em unissono de validações e prisões....
E eu em fuga alcançando a estrada... Marginal...

De novo uma voz, ao longe, apregoa « Bolas de Berlim » ....

Acordo. Ainda estou na praia... Até 15 de Setembro....E tu, Calimero estás deitado ao meu lado...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Adeus Maia

Finalmente, com muita paciência, o meu irmão conseguiu ensinar-me a fazer posts com vídeos. Admito que não foi fácil, demorou algum tempo (também não foi assim tanto, tanto...suas malvadas!) mas aqui fica o resultado: o genérico da Abelha Maia para recordar e para uma de nós se reconciliar com tão simpática personagem da mitologia da nossa infância!

Receita para viver 100 anos


Amar: Sim

Rir-se: Muito ( sobretudo de si mesmo )

Comer: Pouco ( mas de tudo )

Caminhar: Sempre ( e passear )

Beber vinho: Com moderação ( e algum excesso )

Ir ao Médico : Quantidade necessária ( encontram sempre alguma coisa )

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Limpar medos, deitar fora preconceitos

Pôr de lado ciumes e rancores

Preservar a criança que há dentro

de cada um de nós


Cortar finamente, com paciência

Bater com energia, saltear com coragem

Acrescentar generosidade

Amassar com as mãos

Levar o desejo ao ponto de ebulição


Ralar uma pitada de loucura

Condimentar com vida interior

E perfurmar com amigos

Ligar com trabalho e diversão

Deixar repousar


Pode ser acompanhado com música

E/ou crianças

Decorar com bom humor

E servir com alegria


Maitena in « Curvas Perigosas » ( Obrigada Missangas )


A simplicidade da brincadeira


Esta é a foto do brinquedo que de momento é capaz de prender a atenção do meu rapaz pelo tempo necessário para eu poder tomar um banho (com direito a lavagem de cabelo e exfoliação!).

Não é engraçado ver como algo de tão simples pode surgir como fascinante quando temos apenas dois meses de estadia neste mundo e as nossas capacidades ainda são algo limitadas?
Acho que é a partir daqui que tudo se complica...

Aos nossos filhos


Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
Aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
Onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
De nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
Conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
O vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.

E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
O que vos interesse para viver. Tudo é possível,
Ainda quando lutemos, como devemos lutar,
Por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
Ou mais que qualquer delas uma fiel
Dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
Não tem conta o número dos que pensaram assim,
Amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
De insólito, de livre, de diferente,
E foram sacrificados, torturados, espancados
E entregues hipocritamente à secular justiça,
Para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.

Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
A uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
À fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
Foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
E os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
Ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
Por serem de uma classe, expiaram todos
Os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
De haver cometido. Mas também aconteceu
E acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
Aniquilando mansamente, delicadamente,
Por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.

Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
Foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
Há mais de um século e por violenta e injusta
Ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
Que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
E de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
Nesta cadeia de que sois um elo ( ou não sereis )
De ferro e de suor e sangue e algum sémen
A caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
Vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
Não é senão essa alegria que vem
De estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
Alguém está menos vivo ou sofre ou morre
Para que um só de vós resista um pouco mais
À morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
Sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
E sobretudo sem desapego ou indiferença,
Ardentemente espero. Tanto sangue,
Tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão ? Mas, mesmo que o não sejam,
Quem ressuscita esses milhões, quem restitui
Não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado ?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
Aquele instante que não viveram, aquele objecto
Que não fruíram, aquele gesto
De amor, que fariam « amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
Nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
Que não é só nossa, que nos é cedida
Para a guardarmos respeitosamente
Em memória do sangue que nos corre nas veias,
Da nossa carne que foi outra, do amor que
Outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena
Em Líricas Portuguesas I Volume, Edições 70, 1984

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Exigências




Confesso que gostava de ser uma mulher mais moderada, principalmente nas emoções e nos afectos, mas não sou nem nunca fui. Desde que me conheço que sou assim: só sei amar ou odiar e tenho de te confessar que nunca gostei de ti.

Nunca soube explicar o que mais me irritava, se os teus caracois, se o teu olhar languido de carneiro mal morto, se a tua voz, esganiçada, se o facto de teres por amigo alguém com um ar ainda mais apalermado que o teu, ou o de estares sempre vestida ás riscas- sem originalidade, sem estilo, sem grife.... actualmente as riscas estão na moda... mas também nunca fizeram muito o meu género.

Não gostava e ponto. Nunca o questionei.

Um destes dias reencontrei-te numa loja de langerie e, talvez por me trazeres á memória a infância, há muito perdida, gostei de te ver e consegui fazê-lo, para além dos aspectos que sempre me irritaram, com os olhos do coração.

Por incrivel que pareça, tantos anos volvidos, tu lá estavas fiel ao teu amigo de sempre, ambos felizes, talvez mesmo apaixonados, e essa fidelidade, hoje inusitada e fora do comum, comoveu-me.

Reconheço que fui injusta contigo, amiga Abelha Maia.


Gostei de te rever! Mas, se queres um conselho de amiga, muda de penteado! Afinal até o Marco Paulo já deixou de usar, há muito, os caracóis iguais aos teus... e mais dia menos dia, se calhar, até a boa vontade do teu Willy não lhes vai resistir...


O sapo e o pelicano


Sento-me à secretária. As torres de processos rodeiam-me. Penso no pelicano a engolir-me e eu, pobre sapo indefeso, a resisitir, dia após dia a deitar as torres abaixo, a estrangular pelicanos imortais que se multiplicam sem parar todos os dias, a todas as horas...penso em abandonar as torres, deixar o pelicano vencer por um tempo, tomar um prolongado café...mas...oh, não! É Agosto! O café está fechado! Só me resta continuar...never, ever, give up...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ó Laré laré pipu, laré pipu...

É verdade que não recordamos a Heidi exactamente assim. Para ser honesta, também não é esta a imagem que guardo do avôzinho, das cabrinhas, do Pedro, da avó ceguinha (para os mais distraídos, encontra-se a descer a montanha, a alta velocidade, de cadeira de rodas, enquanto fuma o seu charro) e muito menos do cão (acho que não se ria) mas tenho pena.
Em vez dos episódios melodramáticos que, despudoradamente, nos exibiam, após os quais receávamos amargamente perder os nossos amados pais, que as nossas avózinhas cegassem ou que nos mandassem para Frankfurt para as garras da governanta Rottmayer, deviam ter-nos apresentado este elenco despreocupado e jovial. Aquelas imagens deviam ter sido censuradas por quem de direito e nunca deviam ter chegado aos nossos pequenos olhos e cérebros infantis.
Estou convencida que se tinha salvo toda uma geração de portugueses da nacional depressão (isto se, entretanto, não tivessem emitido o Marco e, a seguir, o Bana&Flappy. Não sei se se lembram, mas nesta série o avô Mocho morria a salvar os esquilos, órfãos e criados por uma gata, de um incêndio. Por muitos anos que viva nunca ultrapassarei o trauma desse episódio fatídico).
Se nada disto nos tivesse acontecido, hoje em dia éramos uns porreiros, sempre de gargalhada a sair da algibeira. Fica então, como consolo, esta imagem. Não sei se vos sucede o mesmo mas, de cada vez que a vejo, salta-me uma gargalhada da algibeira (gostei da palavra algibeira!).

Sugestão


sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tributo







«O amigo gay é a unica pessoa que nos diz como estamos mais giras, mais magras ... é o unico que nos faz crer que somos altas, poderosas e que se o Vasco não ligou pior para ele ».




Estas frases lidas hoje, ao acaso, em mais um livro, exposto nas novidades da FNAC, que se propõe explicar-nos as diferenças entre homens e mulheres, fizeram-me pensar, mais uma vez, no quanto gosto de homens gays e render-lhes aqui a minha homenagem, á forma como se tratam... e nos tratam; ao bom gosto que evidenciam; aos interesses que não se resumem ao futebol e ás cervejas... e ás gajas boas ( e burras ); ao facto de serem inteligentes, sensiveis, elegantes, saberem ouvir-nos e falar connosco.


Os gays são os homens perfeitos. Bom.... eu sei, eu sei.... e quem disse que a perfeição existia?


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Paixões


Procuram-se actrizes talentosas, disponiveis e interessadas, para integrarem um grupo de teatro que se propõe, no inicio de 2009, representar « A Casa de Bernarda Alba » de Frederico Garcia Lorca.

Deixo aqui o convite para todas aquelas que também queiram viver ( ou reviver ) a paixão pelo teatro.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Um alerta... entre dois banhos e uma massagem


O Outono vai trazer até à nossa Av. da Liberdade uma loja Prada.
Antes, já no próximo dia 24, estará nas lojas a nova colecção Hoss Outono-Inverno 2008/2009, a minha marca de eleição.

Hoje entre sol, mar e aromas de algas e jasmim fica apenas este alerta, em jeito de experiência, com a promessa de mais e melhores temas, quando a nostalgia outonal me inspirar, e o sol tiver deixado de me adormecer o corpo... e as ideias...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pintura japonesa UKIYO-E



Inicio a minha colaboração no nosso blog com duas imagens da pintura ukiyo-e. A Tachen acabou de lançar um livro sobre este tipo de pintura que eu acho muito bonita. Mais sobre este tipo de pintura em: