terça-feira, 16 de setembro de 2008

TIC TAC TIC TAC



Nem queria acreditar que estava a caminho do Parque da Bela Vista para ver a Madonna. 75000 pessoas...só queria o meu sofá e uma noite calma. Só mesmo a minha mãe me levava para aquela confusão infernal. Ainda por cima andar de metro com aquela gente toda...Talvez devesse ter vendido o bilhete. Tinha ouvido dizer que estavam a pagar €500, mas isso era crime, não podia ser. Só me restava ir. O metro estava suportável mas foi um alívio sair para a rua, mesmo estando no meio de Chelas, era melhor do que debaixo da terra!

A multidão impressionava, mas estava ordeira. O "povo" estava sereno, relaxado e divertido. Comecei a pensar que se calhar até ia ser divertido.

Acomodámo-nos a meio da subida do vale com uma boa vista para o palco. A entrada do parque continuava a vomitar pessoas num fluxo compacto e interminável. As filas para as escassas barraquinhas de víveres eram intermináveis, desencorajavam os mais optimistas. O melhor era sentar-me e esperar. Oh não! Um formigueiro mesmo por baixo de mim. As formigas sobem-me pelo braço. O campo é mesmo detestável! Mudo de lugar, descubro umas palhas sem sinais de insectos ou outras ameaças da natureza e relaxei. Saquei dos binóculos, comprados para ver animais nos parques naturais. Ali estava o palco. Via-se bem.

A multidão agita-se. Um gigante a ondular perante a visão da estrela que nos olha com desprezo (eu vi com os meus binóculos!). Quase lhe ouvia os pensamentos: "Vamos lá despachar isto que tenho as massagens à espera no Pestana Palace." A certa altura deixei-me levar pelo espectáculo. O movimento, a coreografia, a voz clara e forte a ecoar na noite do parque impressionava.

Constato que a irreverência sexual já não faz efeito. Nenhum movimento mais ousado ou dança de varão em roupa interior consegue chocar um público que já está à espera de tudo. É então que surgem as mensagens políticas e sociológicas nos ecrãns gigantes, sendo óbvio que tal não passa de uma nova forma de conseguir tablóides e de chocar o mundo. Ficamos, então, a saber que o Ghandi, o Martin Luther King e o Obama são bonzinhos, enquanto o Robert Mugrave e o John Mcann são uns malvados. Consumir também é uma coisa muito feia e faz-nos estúpidos. Obrigado Madonna, sua motherfucker! Até à próxima!

2 comentários:

Belinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Belinha disse...

Como eu te compreendo Missanguinhas!
A Madona reporta-me sempre a umas férias da Páscoa, na Praia Verde,há bastante atrasado... e ao velhinho « Holiday » que durante quinzes dias tocou constantemente num « tijolo », vulgo « gravador » de um amigo meu. Mas as saudades desse tempo e a curiosidade de ver a moça actuar ao vivo não foram suficientes para enfrentar o povo, o metro, o cheiro a suor, as formigas( essa pobres timidas amigas )... em suma Chelas no seu melhor...Admiro, pois, a tua força, a tua determinação, a tua coragem.
Curiosamente, enquanto vocês se acotovelavam e tentavam por entre árvores e binoculos, adivinhar a diva, eu disfrutava de uma massagem no Pestana Palace ... e que massagem....