domingo, 8 de fevereiro de 2009
a doença da morte
«O choro acorda-a.Olha para ti.Olha para o quarto. E olha novamente para ti. Acaricia-te a mão. Pergunta: Porque é que chora?Tu dizes que é ela que tem de dizer porque é que choras, que ela é que deveria sabê-lo.
Ela responde muito baixo, docemente: Porque não ama. Tu respondes que é isso.
Ela pede-lhe que lhe digas isso claramente. Dizes: Eu não amo.
Ela diz: Nunca?
Tu dizes: Nunca.
Ela diz: O desejo de estar quase a matar um amante, de o guardar para si, para si apenas, de se apoderar dele, de o roubar contra todas as leis, contra todos os impérios da moral, não conhece esse desejo, nunca o conheceu?
Dizes: Nunca.
Olha para ti, repete: É curioso um morto.»
M. Duras, Textos Secretos, A Doença da Morte.
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12 comentários:
Há testos que bem que podiam ter sido escritos por nós... se a inspiração nos tivesse dotado ... ou a coragem...
Textos, claro:)
uma mosca na aula magna lá para os idos de 2002/3?? experiência inolvidável ter conhecido a voz dessa senhora na rádio, ia já a noite exageradamente negra, com les litanies du satan. tremendo.
"Embriagai-vos!
deve-se estar sempre embriagado. nada mais conta.
para não sentir o horrível fardo do tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas. mas de quê? de vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. mas embriagai-vos.
e se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio vos responderão:
"são horas de vos embriagardes!"
para não serdes os escravos martirizados do tempo, embriagai-vos sem cessar! de vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."
baudelaire, tradução, josé saramago (paraisos artificiais(?) n'os "famosos" livros negros portáteis da livro b da ed. estampa)
bom golo de bicicleta! le mal de vivre de que padecemos de quando a quando a combater com toda a sorte de alucinogéneos, sendo a poesia um dos mais saudáveis! também o acto de rodopiar sem cessar das crianças...dá um efeito semelhante a combater - quando a naúsea da tontura o exige- pela manobra elementar de rodopiar em sentido contrário...
"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar."
precisa-se, mosca, digo, clarice lispector
quando leio alguns dos teus textos neste blog lembro-me de que crescemos ao som de algumas vozes comuns. Muita Duras, sempre, Yourcenar, O´Neill, Eugénio de Andrade, Vinicius e Jobim... São vozes que dalguma forma tecem teias entre as pessoas. Ontem à noite, por causa deste texto, reli Duras noite dentro. As minhas olheiras, hoje, são culpa tua.
A provinciana.
tu sabes que depois dela morrer, aliás como aconteceu com o Virgílio Ferreira, eu proibi-me de voltar a lê-los, para os guardar para períodos de fome e de velhice...como uma açambarcadora. ultimamente, porém, lá voltei à Duras, mas com parcimónia. com muito cuidado para não me perder nos meus próprios labirintos.tu bem como é ténue e frágil o meu fio de ariane. fico contente por poder partilhar contigo alguns pensamentos, como fazíamos quando erámos ainda inacreditavelmente novas. nunca te cheguei a dizer como foi importante para mim receber um belo texto escrito por ti na vêspera duma data ritual, lá para os idos de 1997. obrigada.
quanto a ti plexquba, revelas ser, aos meus olhos, um moço/a, whatever, perspicaz. tenho sido acusada de pessimisto-depressiva por causa dos textos das micro-solidões. o norrin, um dia destes, pediu-me para parar de escrever coisas daquelas. mas não me vejo nada assim. e isso de partilhar os momentos fugazes de alegria, é, mesmo, urgente!é urgente ser feliz!montar na pluma do vinicius e rolar com a gota de orvalho numa pétala de flor...isso é muito mais giro de fazer acompanhado do que sozinho, e a rir alto e a bom som e não a sorrir ensimesmado..
confesso-te que tenho uma curiosidade enorme de conhecer a Clarice Linspector, o que ainda não me aconteceu. li noutro dia qualquer coisa que dizia que uma mulher tão bonita não precisaria de escrever...seja lá o que é que se quer dizer com tal barbaridade.
“a possíveis leitores
este livro é como um livro qualquer. mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém. a mim, por exemplo, o personagem g. h. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria.”
c.l.
uma carita laroca a discorrer sobre a morte de uma barata. que náusea! ou talvez não... empresto, se solicitado.
solicito, então! vais é ter de explicar como é que seres virtuais - uma mosca e um jogo de plavras com um disco raro de música electrónica- emprestam livros!
sim plex
a sair do esconderijo de pele morta
renovado(a) e fresco(a)
nick personificado
da provocação e das brincadeiras com palavras
rodopiando 33 e 1/3 revoluções por minuto
sem cessar feito criança
oroboro a combater o próprio rasto
na silhueta da
música para 70 serpentes - pluxquba
o livro? fácil: ficará pousado no banco de um jardim qualquer
parece-me bem! plexa, plexo, pexol, xolepa, alexp. escolhe o banco, o dia e a hora! lá estarei para recolher a lispector...num vôo discreto e rápido de mosca espia undercovered...deixo-te algo para a troca para devorares letras e não caudas! adoro mistérioooooossssss e intercâmbios....la mouche qui ri! sugestão: disfarça o livro num recipiente insuspeito- tipo uma caixa de flocos ou um tetra-pack de leite - sob pena de ser desviado por famintos literários...o que tb pode acontecer se por ali passar uma alma green-war e resolver meter a caixa no eco-papelão.
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