sábado, 11 de julho de 2009

Amores que não cumprimos....


As mais belas histórias de amor são as que resistem à previsibilidade e à rotina. Muitas ficam, por razões várias, retidas apenas no coração dos seus intervenientes, sem palavras, sem declarações, sem passado nem futuro...

Os medos vários, as diferenças, as incertezas, as inseguranças, ou apenas o medo de estragar o que nos parece demasiado importante para ser morto lentamente, paralisam, muitas vezes sentimentos que convivem em paralelo com as nossas vidas, sem se deixarem abalar por elas...

Só o correr dos anos nos mostra a verdade dessas histórias .... e a importancia desses sentimentos...
são romances que não o chegam a ser... mas que persistem nos corações e nas memórias para além dos que o foram ....

Está demasiado sol e o seu brilho reflete-se na água azul que serena a minha tarde de sábado. Uma tarde em que mergulho na inspiração alheia para colmatar a que o calor e o cansaço não me têm dado...

Na ficção, como tantas e tantas vezes na realidade, há histórias de amor que apenas intuimos... gestos, partilhas, cumplicidades, olhares, presenças... quase romances...

Quando o Outono chegar talves vos conte algumas dessas histórias reais ( ou não )... hoje fico-me pela ficção, alheia...


« Através da janela do quarto, percebi que a tarde estava a acabar e que as luzes da cidade se iam acendendo. Lá de fora vinha o ruído do transito ao fim do dia, um ruido de gente e automóveis apressados, gente que queria voltar para casa, onde estavam os que amavam ou os que se tinham habituado a amar, sem fazer demasiadas perguntas nem exigir nada mais do que esse amor tranquilo de todos os dias. É verdade que nunca quis ou nunca vivi para querer isso para mim. Queria mais, vê tu! Queria viver no limite todos o dias queria que as coisas estivessem sempre a correr. Conhecer novas pessoas todo o tempo, sair, ir a discotecas todos os dias, sentir que podia seduzir todos à minha volta e brincar com isso. Mas agora, agora que a noite chegou e fiquei sózinha, agora que te foste embora para a tua vida, agora que sei que também tu voltaste para uma casa onde tens alguém à tua espera, alguém que te ama, alguém que te dá paz, também a mim, de repente, me apetecia poder ir para casa e ter á minha espera alguém que me amasse. Não, não estou a dizer que queria que fosses tu. Não estou a dizer isso, estou a falar de alguém. Alguém sem nome.
Queria só dar um sentido á nossa viagem, Já sei, já sei que nada dura para sempre - só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? Com o tempo contado, com tudo préviamente estabelecido e com prazo de validade previsto à partida? Foi só isso o nosso encontro? Não ficou mais nada lá atrás, não deixámos nada de nós os dois no deserto que atravessámos? »

in « No teu deserto - quase romance », Miguel Sousa Tavares

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