quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
2009: VIVA LA VIDA
Cheguei ontem do Norte com a cabeça a fervilhar de ideias ( em parte devido à febre, convenhamos ) e desejosa de as transmutar em histórias, como tanto prazer me deu fazer, nestes quase cinco meses, em que muitas vezes vos contei realidades diluídas ou ampliadas pela imaginação.
A dureza, o frio, o cinzento das paredes e das gentes do nosso Portugal profundo, interior e nortenho, misturada com a igreja a céu aberto em que se tranformam as ruas, principalmente nesta época do ano mexeu com a minha paz interior.
O Vermelho, das passadeiras estendidas nas ruas, onde os Santos que nos espreitam dos altares abertos em plenas avenidas, se rendem ao sinal da cruz feito pelas transeuntes mais devotas, em contraste com o tom igualmente vermelho das peças expostas na montra da « Langerie Rosita » incomodou-me.
A minha alegria e vivacidade naturais não suportaram tanta devoção, tanta pedra, tanta tradição... e devolveram-me mais cedo do que o programado a Lisboa.
Vim do Norte a pensar que muitas das pessoas com as quais me cruzei têm vidas muito pouco felizes, conservadoras, monotonas, cinzentas....cumpridas, ao contrário dos domingos de que nos falou a nossa mosca, há muitas pessoas que se limitam a cumprir a vida, a fazer dela aquilo que julgam ser os designios de deus, como se todos nascessemos com a mesma finalidade e nos bastasse cumpri-la para sermos felizes, sem nos questionarmos, sem necessidade de criar ou recriar os dias.
A pretexto de tais pensamentos, mais uma vez me interroguei sobre o que é a felicidade, se existe uma receita mágica para a alcançar, se existe forma de vivenciar plenamente esse conceito.
Onde, como, com quem, em que circunstancias somos mais felizes?
Cada um poderá responder de forma diferente a esta pergunta. Mais do que cumprir os designios traçados, o fado, aquilo que todos temos de cumprir no ANO NOVO que se aproxima são sobretudo os nossos designios pessoais, proprios de cada um, ainda que para tanto seja necessário quebrar barreiras, destruir preconceitos, ganhar coragem...só assim cumpriremos o caminho que cada um individualmente deve traçar para a sua felicidade.
Eu por mim vou continuar a encontrá-la na honestidade pela qual sempre me pauto, no teatro, nas compras, nos SPAS, nos jantares, nos livros, nos hobbies mais variados... e sempre, SEMPRE, NOS AFECTOS...nos amigos, nos verdadeiros amores... na minha profissão...
Mas este é apenas o meu caminho actual... cuja rota pode vir a ser ampliada ( quem sabe ?! )em 2009...
Mais do que cumprir a vida, devemos TODOS em 2009 VIVER A VIDA!
domingo, 28 de dezembro de 2008
cores de almodovar, cores de frida kahlo: manifesto da ressaca
neste período de interim entre o natal e o fim de ano acontece-me fechar para balanço como os estabelecimentos comerciais.
divide-se a págima em branco imaginária em duas colunas: a do deve e do haver, preenche-se e, a final, julgamos o ano passado como meritório, medíocre, indiferente.
neste período de reflexões acontece-me, por vezes, por andar com os nervos mais à flor de la piel, cair em excessos.
hoje padeço muito de uma longa noite de excessos. dói-me a cabeça que não pára de tocar um medley natalício todo cheio de sininhos irritantes.
não consigo discernir grande coisa, mas tenho uma certeza toda cintilante a erguer-se majestosa e orgulhosa no meio das trevas: o próximo ano eu quero-o, ainda, tão autêntico como o mundo lamechas e de lantejoulas do almodovar e tão feericamente colorido como as dores da frida khalo!há um longo caminho a percorrer até atingir a calma monocromática e zen que desejo para a maturidade. enquanto o percorro quero embriagar-me desta vida toda ilusória toda feita de carne e sangue.
divide-se a págima em branco imaginária em duas colunas: a do deve e do haver, preenche-se e, a final, julgamos o ano passado como meritório, medíocre, indiferente.
neste período de reflexões acontece-me, por vezes, por andar com os nervos mais à flor de la piel, cair em excessos.
hoje padeço muito de uma longa noite de excessos. dói-me a cabeça que não pára de tocar um medley natalício todo cheio de sininhos irritantes.
não consigo discernir grande coisa, mas tenho uma certeza toda cintilante a erguer-se majestosa e orgulhosa no meio das trevas: o próximo ano eu quero-o, ainda, tão autêntico como o mundo lamechas e de lantejoulas do almodovar e tão feericamente colorido como as dores da frida khalo!há um longo caminho a percorrer até atingir a calma monocromática e zen que desejo para a maturidade. enquanto o percorro quero embriagar-me desta vida toda ilusória toda feita de carne e sangue.
confissões de uma hedonista ressacada.
atentem, amigas, na coreografia fantástica do vídeo...não acham que nos ficava tão bem aquela teatrialidade toda feita de pestanas e brilhos falsos só para despistar os sentimentos verdadeiros e excessivos da canção melosa?
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Postal de um Natal Alentejano
O carro dá a curva e a primeira casa branca (que por acaso é a igreja da terra, pois também as há no Alentejo) desponta por entre os sobreiros. Chegámos a esta pequena aldeia alentejana artilhados para passar um Natal de estalo, com direito a menino Jesus e tudo.
Os preparativos tinham sido simples – apenas o necessário para encher o carro de banheiras, carrinhos, mudas de roupa intermináveis, cremes para isto e para aquilo, Ben-u-ron, babetes, biberons, papinhas, etc, etc…. A juntar a isto as prendas para os tios, primos, avós e amigos, nestas partes conhecidos por “Ti”.
No percurso, a paisagem tinha apresentado o Alentejo em todo o seu esplendor e os dias que se seguiram não o desmentiram – o sol brilhou e as cores vibrantes do campo, com as searas ainda em crescimento, contrastavam com o azul límpido do céu. Portugal tem destes dias de Inverno com sol inigualáveis.
O presépio estava montado à entrada da aldeia, lembrando a quadra – uma Nossa Senhora algo matrona, um São José com um ar resignado, um burro e uma vaca com ar de quem estava ali a fazer um biscate. O menino Jesus era um simples boneco Nenuco, já velho e sem alguns membros, numa escala muito menor que as restantes figuras, como se o original tivesse sido roubado sendo aquela figura um substituto de última hora. A mão esquerda da Virgem, fosse porque se partisse ou por uma vontade sobrenatural de dar uma festa ao seu filho abençoado, encontrava-se agora deitada nas palhinhas. Numa nota mais pagã, umas luzes coloridas colocadas à entrada da rua principal, que passa junto à Sociedade Recreativa, desejavam aos poucos moradores e ainda mais escassos visitantes as Boas Festas.
Os moradores passam o Natal de forma simples. A média de idades ronda os 70 e muitos passam mesmo esta quadra sozinhos a cavar as suas hortas e a dar de comer aos animais. A família está longe a fazer pela vida e o Ti Fortunato, a Ti Rosa, e os outros Tis aquecem a açorda ou a sopa de legumes e pensam com mais força nos netos que não vêm há meses. Mas, nem tudo é mau – fiquei a saber pelo Ti Jacinto que se ganha hoje bastante bem a guardar porcos, a Ti Emília ia ter um bisneto novo a qualquer hora e o gato novo da Ti Teresa teimava em querer dormir em cima das couves…
Assim se passaram três dias em passeios, à borralheira da salamandra, em amenas conversas sobre a vida e a ouvir os mais velhos a contar histórias doutros tempos – a melhor foi a do Pepe, a grande estrela do Lusitano de Évora nos anos 50 e que ainda assim jogava à borla com o clube da sua terra. Hoje o Pepe é um industrial de sucesso na região e passou por lá para comer uma azevia.
A grande novidade deste ano foi o choro e riso do meu pirralho a pairar pela casa, enquanto passava do colo da Ti Augusta para o colo da Ti Teresa e logo de seguida para o da Ti Rosa, com todas elas a dizerem embevecidas (e com acentuado sotaque alentejano): “Ah! Está tã bom, benza-o Deus”. Ele, diplomaticamente, ia distribuindo risos de forma equitativa a todas elas.
Ah! E a televisão que é sempre uma revelação nesta quadra. Já não falo da nova e renovada visualização da “Música no Coração”, mas daqueles programas que apenas em família se descobrem – as tardes da Júlia ou mesmo as criancinhas a cantar os êxitos da música popular portuguesa.
A colaborar para este quadro idílico junta-se a ausência de formas de comunicação modernas: as operadoras de telemóvel ainda não acharam necessário colocar uma antena para aqueles habitantes e, apesar de a prima ser uma aldeã moderna, com ADSL montada e colaboradora activa do blog familiar, a Internet teimou em não querer funcionar durante a nossa estadia. Os vírus cibernéticos descobriram o Alentejo profundo…
Por isso, minhas caras co-bloggers - e todos aqueles que, educadamente, vão lendo e comentando os nossos considerandos sobre tudo e nada - não vos pude deixar, atempadamente, neste nosso espaço de confraternização os votos de um Feliz Natal. Faço-o agora com a ajuda do Tom Waits.
Christmas Card From a Hooker in Minneapolis:
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
UM PRESENTE ... ENTRE O BACALHAU E O PERU
Hugh Jackman:
Foi eleito pela revista People como o homem mais sexy de 2008.
Talvez tenha sido uma escolha polémica... a própria mulher acha que não é merecido ( gosto destas mulheres objectivas que não pensam que o marido é sempre o melhor de todos )... de qualquer forma merece o registo fotográfico...
Aqui ficam as fotos, para apreciarmos enquanto fazemos a digestão das rabanadas e nos preparamos para trinchar o perú.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
saravá gente linda!
saravá!
para todas as companheiras do blogue, para os amigos, para os meus amores, para o norrin, a amiga pronvinciana, o zorro, o faisca, o cajú, a jeune fille joana, il dotore, e todos os outros que têm a pachorra de nos ler, para a vaca e o burro que aconchegaram o menino com o seu bafo quente, para a mulher que serviu de mala ao desígnio procriador de um deus que se quis homem e mandou uma pomba fazer o serviço, para todos, um natal à medida dos desejos e aspirações de cada um!
aqui vai aquele abraço e aquela música que até me faz gostar da quadra: MERRY CHRISTMAS MR. LAWRENCE!!!!
para todas as companheiras do blogue, para os amigos, para os meus amores, para o norrin, a amiga pronvinciana, o zorro, o faisca, o cajú, a jeune fille joana, il dotore, e todos os outros que têm a pachorra de nos ler, para a vaca e o burro que aconchegaram o menino com o seu bafo quente, para a mulher que serviu de mala ao desígnio procriador de um deus que se quis homem e mandou uma pomba fazer o serviço, para todos, um natal à medida dos desejos e aspirações de cada um!
aqui vai aquele abraço e aquela música que até me faz gostar da quadra: MERRY CHRISTMAS MR. LAWRENCE!!!!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Uma Carta ao Pai Natal...IO
UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS quantos nos seguem, lêem e comentam!
Deixo-vos com Boss Ac e vou fritar as azevias....
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Menino de Sonho
Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair
no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e
humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu
brincar.
Fernando Pessoa ( Alberto Caeiro )
Ana Filipa
Não te vou tratar por Esmeralda, bem basta a imprensa sempre a insistir nesse nome foleiro que deves detestar.
Sempre achei que não devias ser entregue ao Baltazar, fossem quais fossem as suas razões. Nem nunca me interessou sabê-las. Isso era lá a vida dele. Para ti não era pai de espécie alguma. Só um estranho que vinha ameaçar a tua infância.
Foi por isso que fiquei com o coração apertadinho quando soube que te obrigaram a ir passar o Natal com ele. Só me lembrava da Heidi quando a tiraram de casa do avôzinho nas montanhas e a levaram para Frankfurt. Não deves saber quem é a Heidi e ainda bem, chatices já tens tu de sobra na tua vida...Mas será que os senhores do Tribunal não viram?
É verdade que o Baltazar (não vou chamar-lhe teu pai, imagino que não queiras ouvir tal coisa. Que te interessa a ti a biologia e o ADN?)tem nome de Rei Mago e pode ser que aches graça a esse detalhe. Espero que sim. Em tudo o resto será um estranho. Um estranho que te sorrirá, que te tratará por filha, que fará tudo para te agradar mas que não o conseguirá. A biologia é assim. Não esteve contigo nas noites em que estiveste doente, não conhece o teu boneco preferido, aquele que levas sempre contigo para a cama, não sabe como gostas que te aconcheguem os lençóis, desconhece qual á a tua história preferida, aquela que queres sempre que te contem, ignora o teu DVD preferido, o que vês várias vezes seguidas, não sabe que não gostas de sopa...só sabe que é teu pai...biológico e que tem muita razão.
Imagino-te numa casa que nada te diz, com a vontade de chorar sempre na garganta, rodeada de pessoas que te apaparicam mas com quem não queres estar...que saudades da tua mãe a ralhar-te...contas os minutos, as horas e os dias. Que saudades tens do teu quarto, da tua árvore de Natal, do cheiro do jantar na tua cozinha, das vozes dos teus pais a falar ao longe enquanto adormeces, de abrires as prendas rodeada pelo calor da família que sempre foi a tua, de te sentires segura e protegida. Nunca pensaste desejar que o Natal passasse depressa.
Que te interessam a ti os erros da tua mãe biológica, dos teus pais adoptivos, do Baltazar e da Justiça? Porque tens tu que pagar por eles? Sim, se calhar deverias ter estado mais vezes com o Baltazar no passado. A verdade é que não estiveste. Sim, os teus pais nunca te entregaram, mentiram à Justiça e até fugiram. Mas que tens tu com isso??
Ouves em toda a parte que todos estão a zelar pelo teu "superior interesse" e não podes deixar de odiar essa frase, que te faz passar o pior Natal da tua pequena vida.
Eu estou contigo, pequena Ana Filipa. Na verdade, o teu "superior interesse" não passa de um pretexto para castigar os teus pais adoptivos por se terem portado mal e premiar o Baltazar por ter sido um menino bonito. Tu estás fora da equação.
Se se lembrassem que tu existes, imaginariam logo uma menina triste e só, tirada aos pais para passar um Natal, que nunca esquecerá, com um estranho de quem nunca gostará, nem que seja por se lembrar do que lhe fez na época do ano de que mais gostava. A biologia é assim, não percebe o amor.
Sempre achei que não devias ser entregue ao Baltazar, fossem quais fossem as suas razões. Nem nunca me interessou sabê-las. Isso era lá a vida dele. Para ti não era pai de espécie alguma. Só um estranho que vinha ameaçar a tua infância.
Foi por isso que fiquei com o coração apertadinho quando soube que te obrigaram a ir passar o Natal com ele. Só me lembrava da Heidi quando a tiraram de casa do avôzinho nas montanhas e a levaram para Frankfurt. Não deves saber quem é a Heidi e ainda bem, chatices já tens tu de sobra na tua vida...Mas será que os senhores do Tribunal não viram?
É verdade que o Baltazar (não vou chamar-lhe teu pai, imagino que não queiras ouvir tal coisa. Que te interessa a ti a biologia e o ADN?)tem nome de Rei Mago e pode ser que aches graça a esse detalhe. Espero que sim. Em tudo o resto será um estranho. Um estranho que te sorrirá, que te tratará por filha, que fará tudo para te agradar mas que não o conseguirá. A biologia é assim. Não esteve contigo nas noites em que estiveste doente, não conhece o teu boneco preferido, aquele que levas sempre contigo para a cama, não sabe como gostas que te aconcheguem os lençóis, desconhece qual á a tua história preferida, aquela que queres sempre que te contem, ignora o teu DVD preferido, o que vês várias vezes seguidas, não sabe que não gostas de sopa...só sabe que é teu pai...biológico e que tem muita razão.
Imagino-te numa casa que nada te diz, com a vontade de chorar sempre na garganta, rodeada de pessoas que te apaparicam mas com quem não queres estar...que saudades da tua mãe a ralhar-te...contas os minutos, as horas e os dias. Que saudades tens do teu quarto, da tua árvore de Natal, do cheiro do jantar na tua cozinha, das vozes dos teus pais a falar ao longe enquanto adormeces, de abrires as prendas rodeada pelo calor da família que sempre foi a tua, de te sentires segura e protegida. Nunca pensaste desejar que o Natal passasse depressa.
Que te interessam a ti os erros da tua mãe biológica, dos teus pais adoptivos, do Baltazar e da Justiça? Porque tens tu que pagar por eles? Sim, se calhar deverias ter estado mais vezes com o Baltazar no passado. A verdade é que não estiveste. Sim, os teus pais nunca te entregaram, mentiram à Justiça e até fugiram. Mas que tens tu com isso??
Ouves em toda a parte que todos estão a zelar pelo teu "superior interesse" e não podes deixar de odiar essa frase, que te faz passar o pior Natal da tua pequena vida.
Eu estou contigo, pequena Ana Filipa. Na verdade, o teu "superior interesse" não passa de um pretexto para castigar os teus pais adoptivos por se terem portado mal e premiar o Baltazar por ter sido um menino bonito. Tu estás fora da equação.
Se se lembrassem que tu existes, imaginariam logo uma menina triste e só, tirada aos pais para passar um Natal, que nunca esquecerá, com um estranho de quem nunca gostará, nem que seja por se lembrar do que lhe fez na época do ano de que mais gostava. A biologia é assim, não percebe o amor.
domingo, 21 de dezembro de 2008
DOMINGO POR CUMPRIR
Há um tédio e uma tristeza próprios de domingo.
Sunday, dizem os ingleses, ainda que esteja um imenso nevoeiro.
Há uma esperança de luz e felicidade acrescida aos domingos, vá-se lá saber porquê, e esta, quando não se concretiza- o que acontece com frequência- deixa um sabor particularmente amargo: o sabor dos domingos tristes.
Há as imagens , sons e cheiros dos domingos. As famílias que se passeiam nos seus fatos de ir-ver-a-deus ou nos actuais uniformes dos fatos de treino dos tristes rituais dos centros comerciais.As comidas demoradamente apuradas de domingo: as grandes feijoadas , os cozidos, os lanches preguisosos à lareira, os guisados da mãe. Os entediantes relatos de futebol sofridos pelas mulheres que fazem o crochet aborrecido no carro virado para o rio onde o olhar bovino se perde e de onde não surgirá qualquer Ulisses. O som circular da fórmula um e o ressonar sonoro do pai do sofá invariavelmente perturbado pelos gritos impacientes dos miúdos a reclamarem felicidades em forma de jardins e sacos de pipocas.
Não há nada realmente pior que um domingo que não se cumpre!
Quer que embrulhe?
Dezembro é o mês em que as pessoas ditas integradas- que se regem pelos padrões sociais instituidos - deixam de ser quem são e se transformam, de repente, em pessoas, com tempo, com disponibilidade, com amigos, com família, com valores, com sentimentos.
O chefe carrancundo, que leva onze meses sem quase dizer bom dia e olhar de frente os seus subordinados, organiza o almoço de Natal;
O executivo com os minutos contados e sem tempo para convivios familiares, lembra-se do tio que vive só durante todo o ano, em Freixo-de-Espada-à-Cinta e pede ao motorista que o vá buscar « Para não passar o Natal sózinho »;
O amigo de infância lembra-se de telefonar a quem já não vê há um ano « É pá se não nos lembrarmos dos amigos nesta altura quando nos lembraremos? »;
A senhora doméstica, sem tempo para nada, porque tem todas as tarefas da casa e da família a seu cargo, lembra-se de rifar, a mantinha que tricotara, para ajudar os pobrezinhos do bairro;
Todos se lembram de ser bons com hora marcada, por encomenda, e é por isso que também eu não gosto do Natal dos adultos e gostava, nesta época, de voltar a ser criança.
De poder voltar a rir à gargalhada- sem julgarem que sou louca;
De poder sorver a sopa- sem passar por mal educada;
De poder dizer ao chefe tudo o que penso dele- e ser desculpada por ser criança e não ter noção do que digo;
De poder voltar a lambuzar-me com doce- sem pensar nos quilos a mais;
De poder dizer sem medos aos colegas com quem não simpatizo, que não gosto deles- sem pensar nas consequências;
De poder dizer amo-te - sem medo do ridiculo, do compromisso, das consequências;
De poder fingir que acredito no pai Natal e no menino Jesus - e que estou a dormir enquanto os pais põem as prendas no sapatinho;
Perco-me nestes pensamentos banais enquanto espero.Á minha volta há gritos, confusão, luzes, canticos que ecoam, ao longe. E dentro de mim há, apenas, sonhos....
Na minha frente fazem-se embrulhos, enrolam-se fitas, rasgam-se folhas de papel, com bonecos... há estrelas que cintilam - nos papeis, nas luzes e no tecto...
- Mamã, mamã, não te esqueças de fazer os sonhos!- grita uma voz ao meu lado- de cenoura... - e também quero um coelho de chocolate...
No meu tempo de criança o coelho ia com o Pai Natal no comboio ao circo e eu cruzáva-me com eles entre risos de palhaços... e ilusões....
Continuo à espera, perdida dentro dos grandes armazéns, num Natal que não é meu, com que não me identifico, que não quero viver, mas que me suga mesmo sem que eu queira...
Pouso, distraidamente, no balcão um shampo e uma pasta para os dentes - essenciais para a minha higiene diária...
- Quer que embrulhe? - pergunta a empregada - enquanto estica sobre o balcão uma folha vermelha com pais Natal prateados...
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Espírito Natalício
Todos os anos me esforço para que o espírito natalício me envolva e ouça os anjos em coro celestial a cantar-me na cabeça, invadindo o meu ser de calma e de uma vontade incontrolável de ser muito boazinha, mas nada...
Enervam-me as luzinhas, as árvores de Natal que nos rodeiam em qualquer sítio onde se vá (nem nas repartições de finanças se está a salvo da praga), os pais Natais mortos pendurados nas fachadas dos prédios, as teias de aranha com que a CML embrulhou as árvores da Avenida da Liberdade, a palavra Natal escrita em toda a parte, os anúncios rídiculos de reis magos com telemóveis e todos os outros que começam com a frase "neste Natal", os outdoors com renas estupefactas a publicitar computadores, a Luciana Abreu de gorro de pai Natal...
Depois há as pessoas, e essas entristecem-me... o ar enjoado do pobre cidadão desesperado que procura incansavelmente o presente perfeito (e baratinho...) em lojas atafulhadas de inutilidades, de outras pessoas, de canções de Natal cuspidas no volume máximo por altifalantes fanhosos ("Rudolf, the red nosed reindeer, had a very shiny nose, and if you ever saw him, you would even say it glows..."). Que vencida a batalha da escolha da prenda, espera pacientemene na caixa para pagar e que espera, ainda mais pacientemente, pelo embrulho, enquanto a menina (ou o menino), muito devagarinho, pergunta se quer papel fantasia ou infantil, laço azul ou côr-de-rosa e, lentamente, ajeita as pontinhas do lacinho enquanto o cidadão reprime a sua vontade de gritar e aceita o embrulhinho com um esgar que pretendia ser um sorriso.
E, no entanto, não consigo deixar de me comover com a rena Rudolf e o seu nariz luminoso...
Enervam-me as luzinhas, as árvores de Natal que nos rodeiam em qualquer sítio onde se vá (nem nas repartições de finanças se está a salvo da praga), os pais Natais mortos pendurados nas fachadas dos prédios, as teias de aranha com que a CML embrulhou as árvores da Avenida da Liberdade, a palavra Natal escrita em toda a parte, os anúncios rídiculos de reis magos com telemóveis e todos os outros que começam com a frase "neste Natal", os outdoors com renas estupefactas a publicitar computadores, a Luciana Abreu de gorro de pai Natal...
Depois há as pessoas, e essas entristecem-me... o ar enjoado do pobre cidadão desesperado que procura incansavelmente o presente perfeito (e baratinho...) em lojas atafulhadas de inutilidades, de outras pessoas, de canções de Natal cuspidas no volume máximo por altifalantes fanhosos ("Rudolf, the red nosed reindeer, had a very shiny nose, and if you ever saw him, you would even say it glows..."). Que vencida a batalha da escolha da prenda, espera pacientemene na caixa para pagar e que espera, ainda mais pacientemente, pelo embrulho, enquanto a menina (ou o menino), muito devagarinho, pergunta se quer papel fantasia ou infantil, laço azul ou côr-de-rosa e, lentamente, ajeita as pontinhas do lacinho enquanto o cidadão reprime a sua vontade de gritar e aceita o embrulhinho com um esgar que pretendia ser um sorriso.
E, no entanto, não consigo deixar de me comover com a rena Rudolf e o seu nariz luminoso...
sábado, 13 de dezembro de 2008
MODERNICES: carta aberta às minhas amigas ( e amigos, porque não?)
Dizem que todos os dias devemos comer uma maçã por causa do ferro e uma
banana por causa do potássio.
Também devemos comer uma laranja por causa da vitamina C e uma chávena
de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias devemos beber dois litros de água (sim, e depois uriná-los, o que requer o dobro do tempo que perdemos para os beber).
Todos os dias devemos comer um Actimel ou um iogurte por causa dos "L. Casei Immunitas", que ninguém sabe muito bem o que raio é, porém parece que se não engoles pelo menos um milhão e meio destas bactérias todos os dias, começas a ver desfocado.
Todos os dias devemos tomar uma aspirina para prevenir os enfartes e um copo de vinho tinto, também para prevenir os enfartes. E um outro copo de vinho branco porque faz bem ao sistema nervoso. E um de cerveja que já não me recordo para que é. Se os bebes todos juntos podes ter uma hemorragia cerebral mas não te preocupes porque nem te vais dar conta.
Todos os dias devemos comer alimentos ricos em fibras. Muitas, muitas fibras... até que consigas defecar um camisolão de lã.
Devemos fazer entre 4 a 6 refeições por dia, ligeiras, sem esquecer de mastigar 100 vezes cada bocadinho de comida. Fazendo as contas, só no comer lá se vão 5 horas.
Ah!, e depois de cada refeição é preciso lavaros dentes, ou seja: depois do Actimel e das fibras lava os dentes, depois da maçã lava os dentes, depois da banana lava os dentes... e por aí fora se ainda te sobrarem dentes na boca, sem esquecer de usar o fio dental, massajar as gengivas e bochechar com um elixir oral.
É melhor fazer obras, ampliar a casa de banho e meter um leitor de CD's, porque vais passar muitas horas lá dentro.
É necessário dormir 8 horas e trabalhar outras 8, mais as 5 necessárias para comer, tudo isto dá 21 horas. Sobram-te 3 e reza para que não haja trânsito. De acordo com as estatísticas, vemos televisão 3 horas por dia... Pois é, mas não se pode, porque todos os dias devemos fazer uma caminhada de pelo menos meia hora (por experiência própria: depois de 15 minutos volta para trás, senão a meia hora torna-se uma).
É preciso saber conservar as amizades porque estas são como as plantas, devemos regá-las todos os dias. E até quando vais de férias, suponho.
Além disso, temos de nos manter informados e ler pelo menos 2 jornais e um par de artigos de revistas, para desenvolver uma consciência crítica. Ah!, devemos ter relações sexuais todos os dias, mas sem cair na rotina: é preciso ser inovador, criativo e renovar a sedução. Para tudo isto é preciso tempo.
E sem falar do sexo tântrico (a propósito, relembro que é preciso lavar os dentes depois de se comer qualquer coisa). Devemos também arranjar tempo para limpar a casa, lavar a louça, a roupa e já nem digo nada se tivermos animais de estimação ou... FILHOS!!
Em suma, para abreviar, as contas dão 29 horas por dia. A única hipótese que me ocorre é fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Por exemplo: tomas banho com água fria e com a boca aberta, assim bebes os 2 litros de água. Enquanto sais do banho com a escova de dentes na boca, fazes amor (tântrico) com o teu/tua companheiro(a), que no entretanto vê televisão e te conta as notícias, enquanto aproveitas para limpar a casa.Ainda te sobra uma mão livre? Telefona aos teus amigo! E aos teus pais!
Bebe o vinho (depois de telefonar aos teus pais, vais precisar). O Actimel com a maçã é o teu/tua companheiro(a) que to pode meter na boca, enquanto ele(a) come a banana com as fibras e amanhã trocam. E ainda bem que já somos crescidos, senão ainda deveríamos tomar um suplemento extra de cálcio todos os dias.
Uuuuf!
Se ainda te sobrarem 2 minutos, copia esta mensagem e envia-a aos teus amigos (que devemos regar como as plantas) e fá-lo enquanto comes uma colherada de um qualquer suplemento de Magnésio, que faz mesmo muito bem.
Agora deixo-te, porque entre o iogurte, a maçã, a cerveja, o primeiro litro de água e a terceira refeição do dia com a dose diária de fibras, já não sei que raio estou a fazer neste momento, mas sinto que tenho de ir urgentemente sentar-me na sanita. Assim até aproveito para lavar os dentes!
PS: O texto não é meu, mas não resisti a partilhá-lo convosco, minhas queridas amigas, e com todos os admiradores que nos vão seguindo e lendo ( todos, por certo, homens e mulheres muito modernos ) no dia em que completámos 100 posts...Já é obra! Que a inspiração não nos falte!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Um cheirinho a alecrim
A propósito do post da Belinha acerca dos cheiros, a propósito das querelas recentes acerca dos camaradas, a propósito da nossa amiga Ana (quando começas a escrever aqui?) e da força pungente dos seus ideais , a propósito da beleza e da amizade, a propósito de todas vós e da importância das revoluções nas nossas vidas, lembrei-me - neste dia em que o sol aquece tão generoso - de vos deixar aqui uns vídeos com duas interpretações de uma música de que gosto muito do Chico Buarque.
Um bom fim-de-semana!
Um bom fim-de-semana!
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
HAPPY CITY
Ultimamente aprendera a redescobrir o Chiado, que fora em tempos reduto das suas memórias de infância, quando palmilhava as suas ruas e lojas, onde encontrava então as novidades que empolgavam a sua curiosidade e vaidade de criança.
O cheiro da Lisboa desses tempos ficou para sempre retido na sua memória e nos seus sentidos. O das flores do Rossio, dos perfumes da Loja das Meias, que descia consigo a Rua Augusta, do café moído na torrefação da Graça, que a acompanhava nos passeios pela Feira da Ladra, dos sabonetes Feno de Portugal, que levava para casa, em miniatura oferecida pelo velho empregado de armazém.
A Lisboa desses tempos tinha para si um outro encanto, mais simples e diferente do actual.
Nesses tempos, por diferentes razões, saía à rua mais cedo e tinha maior contacto com os cheiros que se sentiam. O das manhãs de Verão, quando as ruas ainda cheiravam apenas a natureza, antes que o movimento diário o ocultasse, era inconfundível.
O diferente ritmo a que se vivia então, permitia apreciar os cheiros mais simples e banais, que a poluição ainda não contribuía para ocultar.
O Chiado de hoje oferece outras razões apelativas para lá voltar, sempre com o mesmo prazer, ou não fizesse parte de Lisboa, e não tivesse lojas, restaurantes, teatros, hoteis, actuais a justificarem redobradamente a sua presença. Mas nas ruas já não se sentem os cheiros de outrora. O do café foi guardado num beco, dentro de máquinas requintadas promovidas pelo actor da moda que as ajuda a vender, polvilhadas de charme e sedução.
Nas ruas já não há flores e por precaução já não há vasos com craveiros nas janelas.
Os anos foram apagando das ruas esses cheiros que depois passaram a estar registados apenas na sua memória. Os bons e os maus. Estes, que os requintes a que se foi rendendo acabaram também por apagar do registo diário do seu olfalto... e que, vá-se lá saber porquê, aparecem muitas vezes ligados ás viagens em transportes públicos. « Cheiros a gente mal lavada »; a naftalina, no Inverno, a suor no Verão....cheiros repetidos em cada dia, que a azáfama diária não permitia depreciar...
Há muito que o seu cheiro passou a ser, assumidamente, o do seu perfume e creme corporal, e dos estofos de cabedal do automóvel em que passou, por norma, a deslocar-se, e que a conduz, indistintamente, para a esquerda ou para a direita, consoante o rumo da sua vida e o destino que se propõe alcançar, guiada apenas pelos seus ideais avessos a qualquer cor politica.
Deitou-se tarde e, depois de um jantar que entrou pela madrugada, e de uma tarde passada no Chiado actual, vieram-lhe à memória todos esses cheiros de outrora.
Adormeceu já a manhã raiava e acordou, com o despertador, duas ou três horas depois. Ligou o rádio, quando o carro a começou a conduzir pelo caminho habitual... « Lisboa vai ter autocarros com cheiro. São 20 os novos autocarros da Carris, com cheiro a cravo, manjerico, canela e maresia»- foi a noticia de abertura do noticiário das 9h. Só podia ser ideia de alguém saudosista, que resolveu fechar dentro dos autocarros as memórias e combater, de uma assentada, o « cheirinho a sovaco », quiçá para gaudio próprio e de mais um grupo de moços das gerações de 70 ou 80, porventura com uma mãozinha da Catarina Furtado,por força do novo programa da RTP.
Quando passou pela paragem, um grupo de pessoas, que corria atravessando incautamente a estrada, fê-la travar repentinamente, para lhes dar passagem. Alguns ainda conseguiram acotovelar-se e entrar no autocarro, onde depois foram arrumados, uns agarrados aos outros... os demais ficaram na paragem, durante largos minutos, a inventar desculpas para dizer ao chefe... e a apurar o olfato....
domingo, 7 de dezembro de 2008
Silly Season: Cuidado com o Natal!
«Minha avó e minha mãe
perdi-as de vista num grande armazém
a fazer compras de Natal
hoje trabalho eu mesma para o armazém
que por sua vez tem tomado conta de mim
uma mãe e uma avó foram-me entretanto devolvidas
mas não eram bem as minhas
ficámos porém umas com as outras
para não arranjar complicações»
Adília Lopes
perdi-as de vista num grande armazém
a fazer compras de Natal
hoje trabalho eu mesma para o armazém
que por sua vez tem tomado conta de mim
uma mãe e uma avó foram-me entretanto devolvidas
mas não eram bem as minhas
ficámos porém umas com as outras
para não arranjar complicações»
Adília Lopes
A minha alma ri e rebola pelo chão a cantar: eu não gosto do bom gosto...
Na passada sexta-feira fui acometida de um febrão súbito. Voltei a casa, após mais um dia de trabalho, e, apesar de ser sexta e uma gaja descomprometida que se preze impor a si própria obrigação de ser feliz às sextas, decidi-me, ajudada na deliberação pelo voto maioritário dos dois papos inestéticos que me cresceram simétricos na garganta, a ficar por casa.
Quando cheguei ao lar doce lar, constatei que a minha fiel e dedicada empregada - que na vêspera não aparecera para o babby-sitting privando-me de uma boa jantarada de aniversário num restaurante glamoroso da cidade onde nunca iria de mote próprio- também não estivera em casa a fazer a ménage.
Com a minha imaginação fértil pus-me logo a fazer o filme: a V. - cidadã brasileira que ajudei a legalizar com o contrato de trabalho doméstico que celebrámos e que ela, agora, ingrata, incumpria mesmo no pico da minha amigdalite - foi raptada pelo indivíduo que conheceu há um mês nos "Alunos de Apolo" e com quem já planeara casar. Como seria eu a madrinha de tal união, a V. logo se apressou a apresentar-me o Sr. X para auscultar a minha intuição feminina acerca do pretendente. Trouxe o Sr. X a ninha casa, numa noite de babby-sitting. Eu não gostei dele, mas omiti-lhe. Achei abusivo que o tipo entrasse na minha casa e começasse a ver o que estava para arranjar, tendo-se alcandorado no móvel da marquise para arranjar a persiana, sem que ninguém lho tivesse pedido. Era do tipo Macgiver, utilitário e indispensável. E eu não gosto desses tipos modelo canivete-suiço multifunções, não gosto, pronto. Mas não lhe disse nada. Agora a V. desapareceu e eu, talvez por causa da febre, não a consigo deixar de imaginar acorrentada a um varão de inox numa qualquer boîte de Bragança a fazer lap-dance forçada, enquanto o Sr. X ostenta preso numa dentadura toda de oiro o passaporte da V.
Tegúrio feio tegúrio, era o sítio onde, afinal, decidira, num erro táctico, convalescer nesta sexta-feira-vêspera-de-fim-de-semana-prolongado. Apesar da febre, o meu signo virgem e a necessidade imperiosa de ordem exterior impeliram-me a encetar trabalhos domésticos a todo o vapor. Apesar da febre pensei, a meio dos trabalhos, nada pior para um gaja sem estado civil definido que jantar sozinha numa casa dessarumada numa sexta à noite.
Estava eu nestes pensamentos febris quando o telefone tocou e a querida amiga D. me desafiou para um jantar. Lá fomos nós ao "Braço de Prata" onde, servidas por um simpático André, desfrutamos de uma comida sem grande piada mas que o vinho ajudou a deglutir. Juntou-se a nós uma recém-conhecida de cabelo louro platinado, a E., que, para além de outras peculiariedades, tem como mais recente projecto abrir uma sex-shop onde as mulheres se sintam à vontade a comprar artefactos. Bizarro é ter-me convidado - num dos pequenos almoços junto ao colégio (socialista e laico) frequentado pelas nossas crianças - a ir com ela a Madrid, Barcelona e Amesterdão para adquirir os ditos produtos. Mal sabe ela que por detrás deste meu ar arejado nunca entrei numa sex-shop ou experimentei gadjets sexuais. Gosto que ela me veja com ar de quem sabe do metier e, também, de saber que há todo um novo mundo a explorar. Mas não é disso que que quero falar. Esse é assunto para outro post.
Depois do jantar voltei a casa, recusando o convite para prosseguir a noite no bairro, e, atordoada pelas dores nas costas causadas pelo estado febril, resolvi tomar um banho quente com sal. Deitei-me na banheira, os músculos amoleceram e, coisa que nunca me sucedera, adormeci placidamente na banheira.
Durante o meu sono líquido vivi uma estranha experiência onírica.
Eu era uma cidadã de um qualquer país estranho, onde os governantes se vestiam sempre muito bem. Hugo Boss patrocionava os governantes desse meu país, dando-lhes uma aparência irrepreensível.
Todos eram doutores, mestres ou licenciados, e conseguiam mesmo dispensar as frequências das aulas, tal era a sua capacidade intelectual inata.
Antes de iniciarem os trabalhos diários de governação praticavam saudáveis os seus joggings matinais e, dizia-se, não tinham qualquer massa gorda na equação de MC. Não fumavam, a não ser, de quando a quando, atrás das cortinas e, sempre, em pleno vôo, para não contaminar a terra e os seus conterrâneos.
As poucas mulheres que integravam o executivo e o partido da oposição gémeo que com o do governo brincava ao monótono jogo da alternância nunca, mas nunca, se viam aparecer em público com um cabelo fora do sítio, e jamais lhes fora vista uma raiz branca a denunciar desleixo na pintura. Depilação por fazer não era questão, pois todas , como requisito prévio para entrar para os dois grandes partidos, e por forma a não deixar dúvidas acerca do autêntico cumprimento das quotas, se sujeitavam de antemão à depilação a laser.
Neste país tão perfeito, a acção social do Estado era praticada com tal dedicação que até a banca de apoio aos grandes investidores na bolsa, quando em maus lençóis, era patrocionada com o aval do Estado. O Sr. João do Talho, o Manel da Mercearia, a Costureira Joaquina, a minha desaparecida empregada V. - ainda que neófita no sistema contributivo- ostentavam orgulhosos um sorriso benemérito por poderem contribuir para a manutenção do sistema especulativo de incremento das grandes fortunas, julgando-se, assim, mais próximos das estrelas das novelas que invariavelmente bebem liquídos vertidos por garrafas de cristal quando chegam a casa, ao final do dia, e tomam fartos pequenos-almoços com croissants e frutas exóticas assim que a jornada começa
O primeiro-ministro deste meu país, apesar de pertencer a um governo dito de esquerda, quando acusado de ter um romance com um belo actor nacional, ao invés de mandar à merda os que se intrometiam na sua vida privada, de dizer que a sua sexualidade não era chamada para a avaliação da sua competência para governar, ou de mandar os jornalistas abelhudos questionar os governantes hetero acerca das suas preferências anais, orais, missionárias, à canzana, ou o raio que os parta, com as sua belas mulheres ou amantes hetero, não o fazia. Não. Ele era tão à frente, na sua visão de esquerda, que até se permitia ser politicamente incorrecto. E ao invés de - calculista e oportunista - se aproveitar da infeliz deixa para hastear a bandeira gasta da liberdade sexual, limitava-se, canhestro, a considerar o boato como uma infâmia.
E depois, havia ainda a distribuição amplamente publicitada nos media de computadores portáteis a crianças de terras longínquas que tinham que andar 20 km de autocarro para apanhar a primeira escola aberta, onde, ao contrário do que acontecia na casa dessas crianças, existiam tomadas eléctricas onde ligar os computadores. Que afinal não podiam ser ligados porque os senhores do governo - sempre irrepreensivelmente vestidos, sem massa gorda, hetero e não fumadores - os recolhiam, assim que as televisões se iam embora, para os entregar na próxima aldeia recôndita a outras crianças igualmemte lindas e de caras coradas pela aguardente que sempre ajuda a esquecer a falta de aquecimento nas bucólicas e pitorescas habitações do país profundo. As mesmas pobres e inóspitas habitações rurais onde, de quando a quando, por um processo alquímico nunca desvendado, se geravam, fruto de fornicações animais e transpiradas dadas sob cobertores de papa, uns gajos estranhos e risíveis que militavam, quando crescidos, em partidos que não jogavam às alternâncias e se vestiam com camisolas de malha às riscas e deixavam, desleixados, as raízes dos cabelos por pintar.
Nesse estranho país, no qual habitava no sonho, eu viajava, a dada altura, num vôo fretado, quando fui subitamente obrigada a saltar pela porta de emergência. Tudo porque um governante vestido de Hugo Boss, bem falante e muito elegante , apesar de ter recentemente aprovado uma lei anti-tabágica - talvez acometido de nervos pelas medidas que adoptava para o seu país, talvez apenas por reprimir desejos sexuais incofessados, talvez por remorsos por dar e tirar computadores a crianças alcoolizadas - ateou fogo a uma cortina toda de veludo sintético quando fumava sofregamente um cigarro que - dizem as más línguas- até era um charro feito de um belo polén marroquino. O fumo era tanto que tornou o ar irrespirável, então eu (vestida com um sobretudo cinzento tendo por baixo umas calças de pijama às riscas coloridas, tipo chapitô), a Odete ( com a sua parka com pêlo sintético de girafa) e o Bernardino ( com a sua camisola de lã às riscas), saltámos aliviados daquela máquina voadora insana, sem pará-quedas nem nada, e deixamo-nos ir, abismo abaixo, cantarolando a velha e amiga canção: avante camarada, avante, junta a tua à nossa voz, avante camarada, avante camarada, o sol brilhará para todos nós. Guiáva-nos, em mente, naquele acto suicida grupal, o famigerado ditado popular marxista: às crianças alcoolizadas e sem computadores, aos sonhadores e adeptos de mau gosto deita marx a mão por baixo.
Acordei de repente com o corpo a tremer de frio. Tinha passado um boa hora de molho na banheira como acusava a cor arroxeada da minha pele e o tilintar incessante dos dentes. Esta mosca Ofélia, quase suicida involuntária, levantou-se a custo da banheira, vestiu um robe e foi ressacar a febre e o sonho mau para o seu catre.
Apesar da febre, lembrei-me do sonho, e a minha alma enferma não conseguiu deixar de soltar uma gargalha que rolou sonora pelo chão, batucando na madeira do soalho aquela canção da Calcanhoto: Eu não gosto do Bom Gosto, Eu não gosto dos Bons Modos...
Uma questão de estilo pessoal
Por vezes ter o cabelo bem pintadinho e uma postura de grande dama francesa também não chega...
sábado, 6 de dezembro de 2008
UM OUTRO NATAL
A minha alma cai ao chão e chora
Caminhava na rua com um semblante preocupado e sorumbático. A chuva que caía não ajudava. O Congresso ía começar no dia seguinte e ele nada tinha preparado. Fora uma semana terrível na AR: o BPN, o BPP e os professores não lhe tinham dado um minuto de sossego...Era a favor da revolta social mas aquilo dos professores era demais. Até já estava farto de criticar a ministra. Na verdade, até já sentia pena da senhora...Os gajos bem podiam ir dar aulas e educação aos putos em vez de andarem nisto, já não tinha paciência, pá. Os putos cada vez sabiam menos e os gajos na rua, nas manifs, estava-lhes cá com uns nervos, pá!
É a Odete que ali vai? Ó Odete, Odete! Olha o meu amigo Bernardino!! Ó Odete, tu é que me vais safar, pá. Vê lá que não consegui preparar nada para o Congresso e não sei o que dizer.
Ó Bernardino, tu parece que nem vives neste mundo! Eu há anos que não preparo nada e ainda ninguém reparou. Pelos vistos, nem tu, pá! É que eu tenho um truque.
Ó Odete, que truque? Diz lá, pá! É que estou mesmo enrascado, pá!
Como és um camarada compincha, pá, vou-te contar como é: não sei se já tinhas reparado, mas o meu cabelo, pá, não é vermelho! Isto é pintado, pá!
A sério, Odete? É que ninguém diria..., ninguém, mesmo...mas conta lá mas é o truque!
Conto, conto, pá, então é assim: dois meses antes do congresso deixo de pintar o cabelo para que as raízes brancas fiquem bem visíveis. Isto, pá, ao ponto dos gajos lá em casa as conseguirem ver bem. No dia do congresso, por cima da roupa, visto a minha parca beige com o capuz debruado a pêlo de girafa sintético e vou discursar. Depois é canja, pá! Os gajos ficam de tal modo pasmados com a minha figura que nem ligam ao que eu digo. Digo umas coisas, sempre dentro do espírito do partido, claro, tás a ver, tipo "somos muitos, muitos mil para continuar Abril" ou "transfomar o sonho em vida" e uso e abuso das palavras "indignação", "liberdade", "direitos humanos", "malbaratado", "amordaçado" e está feito, pá! É que os gajos bem se esforçam para se concentrar no meu discurso, mas aquelas raízes brancas e o pêlo sintético de girafa não deixam. Segundos depois já estão a pensar, mas o que é que ela ali tem, será um rato?? pelo de gnu?? Estará vivo?? E aquele cabelo será dela? Se calhar é postiço, não? Não, decidamente é dela, ou não? ó mãe, aquela senhora tem uma doninha pendurada ao pescoço? Cala-te filho, o pai quer ouvir a camarada Odete (mas o que é que a mulher ali tem? O puto se calhar tem razão). E ando nisto há anos, pá, é limpinho, nunca falha!
É pá, ó Odete mas eu, pá, pintar o cabelo não queria..., o Nuno Rogeiro meteu-se nisso e já viste no que deu? O homem até anda abatido...
Foi então que se lembrou! Era isso! A camisola de riscas que a tia Adelina de Baleizão lhe tinha oferecido no Natal passado! Será que ainda lá estava em casa, ou já a tinha dado a algum camarada mais desfavorecido na festa do Avante?? Ó Odete, obrigada, pá! És mesmo camarada compincha! Agora tenho mesmo de me ir embora, pá. Ora essa, Bernardino, foi um prazer. Até amanhã, camarada!
Respirou de alívio. Ainda lá estava e as riscas alucinantes que tanto lhe tinham desagradado, agora iluminavam-lhe o rosto. Coitada da tia Adelina. Ainda se sentia culpado ao lembrar-se do sorriso animado da velhota ao vê-lo desembrulhar a prenda e da sua cara de estupefacção, que lhe apagara aquela alegria do rosto. Que monstro se sentira! Não tinha sido uma atitude digna de um camarada! Mas agora ali estava a oportunidade para pôr tal presente ao serviço da causa e de, ao mesmo tempo, agradar à tia Adelina. Com um coelho matava duas cajadadas ou seria ao contrário? Nunca tivera boa nota no partido em sabedoria popular...
E foi assim que no dia seguinte de manhã, um Portugal estremunhado, após um zapping relâmpago sobre os canais que emitiam a eucaristia dominical, se deteve, pasmado, nas imagens do congresso do PCP. Perplexo, não consegue que o seu olhar se desvie daquelas riscas de overdose de LCD, tenta absorver as palavras mas as riscas são mais fortes e agora vem a Odete e aquele cabelo e aquela parca...e as palavras voam e ninguém as capta...voa a liberdade, os direitos humanos, a indignação, a brutal ofensiva da política da direita...e a alma cai ao chão e chora.
Numa casinha branca em Baleizão, uma velhinha tricota numa cadeira de balouço. Nos lábios exibe um sorriso e no rosto paira-lhe uma expressão de felicidade. Na televisão está o seu Bernardino com a sua camisola vestida. As riscas da malha que tricota espalham-se-lhe pelo colo. O Natal aproxima-se!
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Ele há dias assim....
Folheou a Vogue desinteressadamente e um pouco ao acaso, enquanto esperava.
A edição de Dezembro de qualquer revista de moda tem sempre demasiada publicidade e não faz jus aos artigos mais interessantes...interessante é a foto do Jude Law no anuncio ao novo perfume Dior para homem....com um homem destes que importará o cheiro?
« Like a virgin
Touched for the very first time
Like a virgin
When your heart beats (after first time, "With your heartbeat")
Next to mine »
Madonna entoava os seus êxitos e olhava-a de soslaio em várias poses e ângulos nas diferentes fotografias que cobriam as paredes... com um ar muito pouco virginal...afinal não estava só ....
- Me desculpe estive fazendo a cor noutra menina, cê está gostando da música? Sou fã!
- Tudo bem, hoje só venho levantar as raizes.
« I was beat incomplete
I'd been had, I was sad and blue
But you made me feel
Yeah, you made me feel
Shiny and new »
Era assim, como nova, que esperava sair dali...
- Eu vou contar pra você. Eu hoje sonhei com Madonna. Ela estava varrendo a rua e eu cheguei no pé dela e perguntei: oi Madonna, porque cê está varrendo? Cê é uma estrela!...e ela me respondeu « eu estou limpando o mundo ».. e foi aí que me deu uma vontade de ir no banheiro...e cê não vai acreditar ... a minha amiga Xana me espreitou pelo buraquinho e gritou: NÃO VOCÊ NÃO VAI FAZER ISSO, QUE EU ESTOU VENDO... e eu disse prá ela... que é que cê está pensando eu só vim buscar a escova para ajudar Madonna ...»
« Gonna give you all my love, boy
My fear is fading fast
Been saving it all for you
'Cause only love can last »
Pois...pois....
- Está quase... deixe eu fazer uma massagem no couro cabeludo... e depois é só secar....
....
Descia a Av. da Liberdade, distraídamente, a pensar que não podia entrar nas lojas e cometer mais loucuras, quando ouviu chamar:
- Raposa!
- Há quanto tempo! Que é feito de ti? Não nos viamos desde a faculdade...
- Casei...divorciei-me... Conheci um outro homem, o meu marido descobriu que andávamos a trocar umas mensagens... não passou disso... mas ele não me perdoou...e vê lá tu que não se passou nada... nadinha... não que eu não quisesse... mas não pude... não consegui... era a minha reputação que estava em jogo...quando ele quis... não pude...não tinha a langerie adequada...E tu, que é feito de ti? Não queres ir tomar um café?
- Obrigada, fica para outro dia, mas hoje não posso. Vou á Gomes Freire encontrar-me com o PRINCIPEZINHO.
.....
- Prontinha....Eh, lembrei! No sonho... Madonna acabou me convidando para fumar uma ganza com ela... Cê ainda cochilou um pouquinho... Vamos secar!
Sonhei? Foi tudo um sonho?
Saiu com um sorriso nos lábios e a pensar que aos artistas tudo se perdoa e que a naturalidade dos brasileiros faz parecer banais todas as loucuras.... e reais todos os sonhos....
- Táxi! Para o Chiado, Women Secrets, por favor!
PS: Missangas não me voltes a desafiar... espero que na pior das hipóteses me vás visitar....
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Uma questão de ( BOM ) gosto
Já nos apeteceu, por diversas vezes, saborear CHOCOLATE na sua companhia... já quisemos cruzar os mares e sermos assaltadas pelo seu barco... já o vimos com mãos de tesoura, com ar ingénuo, malandro, rebelde...
É, quanto a mim, um dos mais versáteis, irreverentes e talentosos actores da minha geração.... sem medo de se transformar, desfigurar, anular, em prole dos diferentes personagens que encarna.. e, por isso, crescer com eles...
É diferente, actual... e consegue depois dos 40 manter um ar jovem, descontraído, quase de miudo...
É moreno, tem uns olhos fantásticos...
Razões bastantes para que hoje, depois de uma outra breve alusão, e em jeito de happy end após um fim de semana prolongado, fiquemos, por momentos, na sua companhia...
sábado, 29 de novembro de 2008
Para a Missangas
Uma rápida referência a um outro blog de uma moça que tem um sentido de humor parecido com o da nossa Missangas.
Passo por lá de vez em quando e dou pelo menos um sorriso.
Se calhar já conhecem... caso contrário aqui fica o link:
http://controversamaresia.blogs.sapo.pt/
Passo por lá de vez em quando e dou pelo menos um sorriso.
Se calhar já conhecem... caso contrário aqui fica o link:
http://controversamaresia.blogs.sapo.pt/
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
MUMBAI
Foi há poucos meses que descobri que Mumbai era Bombaim, uma cidade na longínqua e, para mim, desconhecida Índia. Guardei o nome na minha fraca memória. Lá ficou numa gaveta do meu cérebro para uma qualquer eventualidade. É importante saber onde ficam os sítios. É uma questão de respeito pelos outros povos. Na altura, não era mais do que isso.
No Domingo, a ida do F para Mumbai também não era mais do que uma normal viagem de negócios. Lá ia, mais uma vez, o meu marido para a Índia e, com certeza, regressaria com novas histórias e peripécias que me contaria animado. No dia seguinte, disse-me ao telefone que estava hospedado no hotel Taj Mahal. Decorei o nome por razões óbvias e continuei, descansadamente, a minha vidinha. Que importância tinha que fosse aquele hotel ou outro qualquer? Se era luxuoso ainda bem. A comida seria boa, a água potável e a probabilidade de apanhar maleitas seria menor. Estava tudo bem.
Era chato ter que fazer aquele voo interno na terça-feira para Bangalore. Voos domésticos na Índia...Seria seguro? Imaginava uns velhos aviões, comprados em terceira mão e recauchutados, a voarem por milagre de algum santo híndu...
Era manhã em Lisboa e o F chegara bem a Bangalore. Os santos híndus tinham funcionado! Obviamente, também lá estariam na volta para Mumbai na quarta-feria.
Quarta-feira, 17h em Lisboa, o F telefona. Chegara bem de Bangalore mas não podia ir para o hotel Taj (onde deixara todas as suas coisas). Parece que havia lá um tiroteio. Não demos grande importância ao que estava a acontecer. Com certeza seria um pequeno desacato que as autoridades indianas se apressariam a controlar e o mundinho perfeito dos ocidentais na Índia voltaria a ostentar o seu luxo habitual. A Índia faminta, pobre e violenta retrocederia para as ruas sujas, de onde nunca deveria ter ousado sair, e os europeus continuariam a comtemplá-la do seu aquário perfumado e intocável. Voltariam para os seus países encantados com tão pitoresco local. Comentariam o quão chocados se sentiram com a pobreza que presenciaram, sobretudo com as crianças! Havias de as ver, coitadinhas...
Não foi assim. A Índia partiu mesmo o vidro do aquário e irrompeu violenta, manchando de sangue os salões perfeitos do luxo estrangeiro, numa ira descontrolada.
O F estava, novamente, ao telefone. Estava num carro no meio de Mumbai. Via ruas barricadas, pessoas alvoraçadas, carros de bombeiros, sirenes e o trânsito estava parado. Afinal aquilo era mais sério do que se pensava. Diziam-lhe que havia tiros nas ruas e explosões em várias zonas da cidade. Ía para outro hotel no norte da cidade onde esperava estar a salvo. É lá que está neste momento. O dia amanhece em Mumbai. Espera-se que a ira da Índia já esteja aplacada e a fome de morte saciada, pelo menos, até uma próxima vez, que as haverá, com certeza.
Neste momento agradeço aos santos híndus a viagem a Bangalore do F. Ainda há reféns no Taj e nenhum é o meu marido.
Em Lisboa comovo-me com os amigos verdadeiros, os que telefonam preocupados e os que me visitam e fazem com que este momento difícil se pareça com uma noite entre amigos com uma garrafa de vinho. E há, ainda, a querida Mosca Albertina, que desaustinada, trás o pijama vestido por baixo do casaco e me mostra, sorridente, as calças de riscas coloridas a aparecer por entre os botões do sobretudo...Que bom é conhecer-vos!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Sugestão doce.... para uma noite de cavaqueira...
Aparece na ementa de alguns restaurantes ( ainda este Verão comi uma fatia no « Aqui há peixe » no Carvalhal ) e existe uma casa em Campo de Ourique que é especialista na sua confecção.
Dizem ser « O melhor Bolo de Chocolate do Mundo » e é com esta designação que aparece nas ementas.
Quis partilhar convosco a receita original, mas só a encontrei em inglês, tal qual a vou transcrever.
É DOCE, SUAVE, CROCANTE....
O ideal para adoçar os dias frios de Dezembro, partilhar com aquele homem ( ou mulher ) especial, quebrar a dieta ( no dia semanal de loucura permitida ), celebrar, experimentar... levar para casa da Mosquinha, quiçá....
Entre amores, desamores, ternuras, musicas, pontos de vista... aqui vos deixo uma sugestão culinária, também útil, no Natal que se aproxima.
Concorde (Chocolate Meringue Cake Filled with Chocolate Mousse)
Yield: 6 servings
135g (4.5 oz) icing sugar
90ml (6 tbsp) cocoa powder
5 Egg whites
150g (5 oz) caster sugar
A Few drops vanilla essence
100g (3.5 oz) plain chocolate, cut into small pieces
60 g (2 oz) butter
60g (2 oz) sugar
2 Egg yolks
4 Egg whites
For the Chocolate Meringue:
Preheat the oven to 110 C (225 F). Cover 2 baking sheets with baking parchment. Cut an oval pattern, about 20 cm (8 inches) long and 12.5 cm (5 inches) wide, from a thin piece of cardboard. Use the pattern to trace 2 ovals on 1 baking sheet and 1 oval on the second. Leave one-half of the second baking sheet free for piping strips of meringue.
Sift together the icing sugar and the cocoa powder. Beat the egg whites with a whisk or electric mixer until soft peaks form. Gradually beat in the caster sugar and then continue beating until stiff peaks form and the meringue is glossy and smooth. Fold in the icing sugar, cocoa and vanilla with a metal spoon. Fit a piping bag with the large plain tube and fill with the meringue. Pipe the meringue to fill each traced oval, starting in the centre and working outwards in a spiral. Fit another piping bag with the Medium plain tube and fill with the remaining meringue. Pipe long thin strips on the second baking sheet, leaving about 2.5 cm (1 inch) in between each. Bake for at least 2 hours, until the meringue is crisp and thoroughly dry. Cool overnight and carefully peel off the paper. Trim the ovals to equal sizes.
For the Chocolate Mousse:
Bring 5-7.5 cm (2-3 inches) of water to simmering point in a saucepan. Combine the chocolate, butter and 45 ml (3 tbsp) of the sugar in a heatproof bowl and set it over the simmering water Leave to stand, without stirring, until the chocolate has completely melted. Remove from the heat and stir in the egg yolks with a spoon. Beat the egg whites with a whisk or electric mixer until stiff peaks form. Gradually beat in the remaining sugar and continue beating until stiff peaks form and the meringue is glossy and smooth. Whisk about one-third of the egg whites into the chocolate mixture. Gently fold this into the remaining egg whites with a metal spoon.
To assemble the cake:
Spread a thin layer of mousse over 1 meringue oval with a palette knife. Place a second oval on top and spread it with a thin layer of mousse. Top with the third meringue and spread the top and sides of the cake with the remaining mousse. Carefully cut the meringue strips into 2.5 cm (1 inch) lengths with a serrated knife and use them to decorate the top and sides of the cake. (I piled the meringue rods over the top of the cake) Cover and refrigerate for 2 hours before serving. Sift icing sugar over the top just before serving.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Os meus homens ... do lado B... e os outros....
Todos nós já tivemos pessoas que por uma ou outra razão nos marcaram, pelo papel que em determinado momento representaram na nossa vida, pelo profissionalismo com que desempenharam as funções de determinadas actividades ou serviços a que tivemos de recorrer, pela simpatia, pela cumplicidade, pela generosidade, pela presença, pela diferença....por por uma ou outra razão terem estado connosco no momento certo... nos terem ensinado, escutado, entendido, ajudado...
Foram já muitas as pessoas que marcaram, positivamente, de forma indelével a minha vida ou determinados momentos dela... e curiosamente, muitas dessas pessoas foram homens - ( perdoa-me a franqueza Missanguinhas ).
É para esses homens, a maioria dos quais se calhar nem nunca se apercebeu da importância que teve para mim, que vai hoje o meu elogio público, em jeito de tributo, de reconhecimento, de agradecimento...
Foram vários esses homens que tiveram importância na minha vida ( sem serem aqueles a que chamo do lado A - familiares, amigos, amores ) desde o enfermeiro que, tinha eu seis anos, me levou ao colo para a sala de operações, quando fui operada à garganta, no Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco; ao professor de filosofia, que no Liceu Rainha D. Leonor me incutiu o gosto pela reflexão; ao professor de ginástica que, durante vários anos me cativou pela simpatia, profissionalismo, criatividade; ao dentista que conseguiu depois de anos e anos de terror, transformar as consultas, se não em momentos agradáveis, pelo menos normais e serenos.... todos eles, entre vários outros, tiveram em comum o facto de agirem sempre com serenidade, simplicidade,como se a competência, empenho, dedicação, fossem inatas...
Lembrei-me deles e da importancia que tiveram para mim, quando ontem falava com as minhas queridas companheiras de blogue, do nosso cabeleireiro, que ultimamente, contribui para que, as quatro, nos apresentemos de cabelos mais modernos e alinhados - bom, no meu caso, se calhar mais desalinhados, mas por opção própria.
Também ele passou, recentemente, a integrar a lista dos meus homens do Lado B, daqueles que me entendem, sem ter de me explicar, que estão em sintonia com o quero, sem ter de me esforçar...
Mais um que, com inigualavel simplicidade, é muito bom no que faz, o que já lhe valeu o prémio de melhor cabeleireiro, no Hair Fashion Portugal Awards 2008.
http://www.cabelosonline.com/detnoticias.asp?idnot=118
Passando a publicidade, de que não precisa, aqui fica a sua biografia- chama-se Aurélio Ramos, tem 32 anos e é co-proprietário do Le Salon, na Av. da Liberdade, em Lisboa -.... como simbolo da simplicidade, carisma, irreverência, profissionalismo, que quis elogiar neste post... qualidades que marcam, seguramente a diferença nos tempos que correm e na sociedade em que nos inserimos... ( ou pelo menos tentamos... )
Um adeus... ou o começo de uma identificação
Nós mulheres somos irremediávelmente curiosas e não descansamos enquanto não desvendamos o objecto da nossa curiosidade. Está-nos no sangue, que havemos de fazer?
Por deformaçâo profissional, nós mulheres deste blogue somos, se possível, ainda mais curiosas que as demais. Eu, por exemplo, adoro desafios, enigmas, quebra cabeças... e rendo-me ao prazer que o desvendar da solução ou resultado me proporciona...
Como poderiamos nós, quatro mulheres - ainda por cima uma mosca, cuja faculdade de voar a leva sempre mais além -, inteligentes, empenhadas, astutas... e muito ... muito curiosas... deixar de pôr os neurónios a trabalhar, de encetar diligências, contratar colaboradores vários, para descobrir quem é o moço que, sendo por certo nosso admirador, nos lê, nos comenta... nos presenteia com um poema - e se apresenta de máscara, sob o nick de ZORRO???
As diligências ainda estão em curso, o processo pendente, como tantos outros ( quiçá a aguardar que os elementos recolhidos nos permitam vir a suspendê-lo )... mas, antes que se transforme num número a engrossar as estatisticas, não quero deixar de dar conta de que já apurámos - com a prestimosa ajuda de um homem ( estão a ver como eles são preciosos!?! )- que o poema transcrito pelo nosso referido admirador, por enquanto de identidade desconhecida, é de Bernie Taupin e pertence á canção « Goodbye » gravada em 1971 por ELton John.
Tentámos postar o video, mas entretanto, foi desactivado do YOU TUBE....
Teremos, pois de nos cingir a esta informação...
http://www.youtube.com/watch?v=_pyZPDI54fI
Prometemos voltar, em breve, com o desenrolar do resultado das investigações, que continuam em curso....
domingo, 23 de novembro de 2008
Cromos de glamour para a troca
Companheiras:
Depois de uma postagem saída do meu neurónio mais maternal, ultimamente mais activo, ataco hoje numa vertente mais de glamour. Mando os cromos de umas divas para a troca. Muitas mais existem, mas estas foram aquelas de que hoje me lembrei.
Um clásico. Podia ser também Ingrid Bergman ou Audrey Hepburn. Mas, Catherine Hepburn sempre teve um toque de insolência que me agrada.
A mulher é bela, tem estilo, talento e uma mala Hermés com o seu nome (é o não o cúmulo dos estilo?):
Jane Birkin.
A filha manteve o estilo - Charlote Gainsbourg:
Vanessa Paradis, a mulher que conquistou Jonny Deep. Não "joue le taxi", mas que a miúda tem porte e gosto, ah lá isso tem! Algures entre a menina bem comportada (com um buraquinho entre os dentes da frente e tudo) e a rocker.
Finalmente, Carla Bruni. Eu gosto da miúda, pronto. É gira, veste-se bem (sempre Dior, pois claro) e tem umas músicas que, não sendo o meu género, ouvem-se bem (especialmente agarrada ao gato no sofá). É atrevida: uma primeira dama que gosta de apregoar ter tido os amantes que muito bem lhe apeteceu - "Je suis une enfant; Malgré mes quarante ans; Malgré mes trente amants..." é de aplaudir.
Isto tudo para dizer à Mosca que a gola bonita de que lhe falei é a do vestido cinzento que a moça enverga.
Um próximo dia dedico-me aos homens.
Depois de uma postagem saída do meu neurónio mais maternal, ultimamente mais activo, ataco hoje numa vertente mais de glamour. Mando os cromos de umas divas para a troca. Muitas mais existem, mas estas foram aquelas de que hoje me lembrei.
Um clásico. Podia ser também Ingrid Bergman ou Audrey Hepburn. Mas, Catherine Hepburn sempre teve um toque de insolência que me agrada.
A mulher é bela, tem estilo, talento e uma mala Hermés com o seu nome (é o não o cúmulo dos estilo?):
Jane Birkin.
A filha manteve o estilo - Charlote Gainsbourg:
Vanessa Paradis, a mulher que conquistou Jonny Deep. Não "joue le taxi", mas que a miúda tem porte e gosto, ah lá isso tem! Algures entre a menina bem comportada (com um buraquinho entre os dentes da frente e tudo) e a rocker.
Finalmente, Carla Bruni. Eu gosto da miúda, pronto. É gira, veste-se bem (sempre Dior, pois claro) e tem umas músicas que, não sendo o meu género, ouvem-se bem (especialmente agarrada ao gato no sofá). É atrevida: uma primeira dama que gosta de apregoar ter tido os amantes que muito bem lhe apeteceu - "Je suis une enfant; Malgré mes quarante ans; Malgré mes trente amants..." é de aplaudir.
Isto tudo para dizer à Mosca que a gola bonita de que lhe falei é a do vestido cinzento que a moça enverga.
Um próximo dia dedico-me aos homens.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Como adormecer um homem
Na recente polémica bloguista sobre os homens não meto colher. Gosto deles como gosto delas e a minha orientação sexual estará por definir até morrer, por isso estas reflexões nada querem à luxúria (sempre amiga). Sempre os tive e tenho presentes na minha vida. Às vezes parecem estranhos seres, outras os mais incríveis. Acho que todas concordamos.
O que hoje me surge como um verdadeiramente desafio é o (eventual) talento materno para adormecer um ser cuja testoterona, ainda que em doses infantis, o faz ter uma energia de futebolista sem saber andar, lutador de luta livre com bonecos de peluche, desportista radical de saltos em queda livre ... Quando o puto não quer dormir a coisa torna-se mesmo negra.
As técnicas do adormecimento são variadas e do mais criativo (viva o Tio Leonard Cohen e as redes brasileiras...). Acresce ao grau de dificuldade o nunca se saber bem qual das várias técnicas conhecidas e já experimentadas com sucesso funcionará em cada dia, pois isto das criancinhas é uma ciência muito pouco exacta. Por isso, pai e mãe tentam todas, uma a seguir à outra, sempre naquela expectativa ansiosa: "agora é que vai ser!" Mas não é! O macho manda, contorce-se, atira a chucha a distâncias olímpicas e choooooraaaaaa.
Finalmente, mais tarde do que cedo, há um momento em que o sono parece falar mais forte, o cansaço de resistir instala-se (ou a tortura parental teve efeito...) e o corpo entrega-se. Neste momento perfeito, sentimos o corpo quente do nosso homúnculo, o seu cheiro tão forte e nosso, ao mesmo tempo que ouvimos em fundo a Nina Simone a cantar baixinho, com a sua voz dolente: "My man's gone now".
O que hoje me surge como um verdadeiramente desafio é o (eventual) talento materno para adormecer um ser cuja testoterona, ainda que em doses infantis, o faz ter uma energia de futebolista sem saber andar, lutador de luta livre com bonecos de peluche, desportista radical de saltos em queda livre ... Quando o puto não quer dormir a coisa torna-se mesmo negra.
As técnicas do adormecimento são variadas e do mais criativo (viva o Tio Leonard Cohen e as redes brasileiras...). Acresce ao grau de dificuldade o nunca se saber bem qual das várias técnicas conhecidas e já experimentadas com sucesso funcionará em cada dia, pois isto das criancinhas é uma ciência muito pouco exacta. Por isso, pai e mãe tentam todas, uma a seguir à outra, sempre naquela expectativa ansiosa: "agora é que vai ser!" Mas não é! O macho manda, contorce-se, atira a chucha a distâncias olímpicas e choooooraaaaaa.
Finalmente, mais tarde do que cedo, há um momento em que o sono parece falar mais forte, o cansaço de resistir instala-se (ou a tortura parental teve efeito...) e o corpo entrega-se. Neste momento perfeito, sentimos o corpo quente do nosso homúnculo, o seu cheiro tão forte e nosso, ao mesmo tempo que ouvimos em fundo a Nina Simone a cantar baixinho, com a sua voz dolente: "My man's gone now".
manifesto anti-eugénico
Li para aí na semana passada que os senhores que mandam na Europa, sensibilizados pela crise alimentar, autorizaram o regresso aos mercados dos velhos legumes e frutas não normalizados. Para aqueles que adquirem os seus géneros alimentares nas grandes superfícies tal significa que vão voltar a ver , no lugar das maçãs estilizadas, modelo branca-de-neve, e dos legumes standard playmobil, os velhos e nodosos legumes e frutas irregulares a amontoarem-se caótica e desorganizadamente nas formas geométricas e regulares dos contentores de plástico. Adivinho os nervos que isso vai provocar nos adeptos ferranhos das linhas direitas e vidas depuradas quando os pobres dos vegetais rolarem desajeitados para o chão!
Já se ouvem, parece, vozes discordantes que temem que as anomalias leguminosas e frutíferas dos países periféricos invadam o espaço dos civilizados mercados europeus, optando os consumidores - na mira da poupança do vil metal, não por qualquer razão estética ou ética- pelos primeiros.
Congratulo-me com o regresso dos ditos disformes. Aliás, no que me diz respeito, não se trata propriamente de um regresso porque nunca deixei sair os ditos cujos da minha cozinha, e esses produtos perfeitinhos e lustrosos nunca convenceram esta mosca céptica e provinciana que sempre lhes disse «vá de retro satanás», «produtos do demo» e outras expressões do género.
A propósito do regresso ao anormal como algo de aceitável, ou a talhe de foice como se usa dizer no campo, tenho reparado que a malta urbana, na geração dos trinta e tal, anda toda numa lufa-lufa de normalização, procurando, para a tarefa, a ajuda dos benfazejos e afortunados psicoterapeutas na esperança de ingressar, custe o que custar, nos moldes eugénicos e pré-definidos da boa psicologia humana. Estes senhores, diz-se, ajudam a normalizar as mentes algo conturbadas das gentes, diagnosticando-lhes ou despistando, invariavelmente, desvios de personalidade vários, como as bi-polaridades (os antigos maníaco-depresivos), histrionismos, sóciopatias , esquizofrenias, e outras perturbações afins, mais ou menos graves, mais ou menos curáveis, mas sempre indesejáveis. Tenho constatado, com alguma estupefacção, que me rodeio, com alguma recorrência, de amigos e amigas que se incluem no rol dos desviados.Gostaria de saber, afinal, qual é o modelo de humanidade normalizada a que se aspira. Alguma amiga psicóloga voluntariosa me poderá dizer ? Antevejo, neste mundo arquétipo perfeito uma existência de gentes, legumes e frutas irrepreensivelmente plastificados, normalizados, standardizados e, confesso, que não me vejo a habitá-lo.
A propósito das imperfeições e dos seus encantos e virtudes, lembro-me sempre daquelas belezas aborrecidas de tão previsíveis ou dos tapetes persas cuja autenticidade é confirmada através de um defeito propositadamente fabricado... pronto, sim, poderíamos agora falar das crianças que cegam aos 10 anos para fabricar esses belos tapetes, mas agora não, não estou para aí virada.
CONVITE
Caríssimas , lanço-vos um desafio real para escapar à blogosfera e mergulhar nessa vida toda palpitante de que tenho andado afastada. Que tal, segunda, irmos ao teatro ver a SENHORA DE SADE, do Carlos Pimenta, a partir de um texto do Mishima? Celebravamos o regresso de Londres da nossa Missangas e o meu regresso à vida dos seres andantes. Celebramos a Vida, em geral! É certo que mais pareço uma personagem do Crash, algo claudicante e kinky, mas vocês não se importam, pois não, e até dá um certo dinamismo decadente ao grupo de gajas giras que somos. A nossa Missangas trata de arranjar baby sitting, tiramos os vestidos giros dos armários, jantamos num sítio todo giro a condizer com a malta, bebemos um belo vinho, e lá vamos nós para o CCB. Vale?!
Aguardo inscrições e sugestões para o restaurante.
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Teatro/Pages/ASenhoradeSade.aspx
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