quinta-feira, 1 de outubro de 2009

e a menina decoro morreu ao telefone a desejar boa sorte aos noivos. e os cavalos a correr.


estava eu para aqui, sincera e empenhadamente, a procurar um belo poema para oferecer a um amigo que se vai casar e que resolveu justificar social e sociologicamente o acto no convite que dirigiu aos amigos. veio-me à cabeça «o cântico dos cânticos». pu-lo de lado para evitar o clichet. fui aos clássicos à procura da eternidade do mármore branco que sempre cai bem nestas ocasiões, e deixei-me escorregar, estatelada, na irrepreensibilidade do bom gosto canónico.então, fui à velha antologia da vóvó natália et, voilá, eis o que me aproveu oferecer-lhe...um poema truncado e nada adequado ao enlace congugal! talvez porque este meu amigo seja há muito portador de uma estulta centelha no olhar que o faz irmão das moscas, dessas que vadiam entre níveos bolos de noiva e as virilhas mal aparadas das mininas.

assim, b., enquanto não chega a tua prenda (que a minha incorrecção pode ir ao ponto de faltar a eventos mas nunca ao ponto de deixar de celebrar os rituais dos amores com oferendas), aqui fica:
«(...)
Hiroxima Hiroxima meu amor gaseado
uma bomba rebenta na cabeça dum rei
a Senhora Camelo tem o sexo mudado
sabia o que fazia o que fará não sei.

O Cordeiro de Deus foi assado no espeto
extraíram-lhe o bedum esfregaram-no com sal
comeram-lhe os colhões deixaram-lhe o esqueleto
tiraram-lhe o retrato para pôr num missal.

Itae missa itae missa itété ou não é
itótó itátá a Titi não está cá
o Tutu dá o cu a Tété dá o pé
o Senhor dá o pão que o fermento não dá.

Meus Irmãos Meus Irmãos somos filhos da Virgem
somos filhos das putas que nunca se casaram
nosso pai é o tempo nossa mãe a vertigem
somos feitos dos trapos que nunca se juntaram.

Nascemos da orgia dos artigos de fundo
do minete dos padres nas bordas dos ricaços
do cuspo das beatas no Redentor do Mundo
do gozo masoquista do Senhor dos Passos.

Meus Irmãos Meus Irmãos é urgente lavarmos
no bidé das palavras a uretra dos nobres
mijarmos nos salões e depois ensaiarmos
a reacção dos poetas na gazeta dos pobres.

Meus Irmãos Meus Irmãos ensaiemos agora
antes que seja tarde antes que seja cedo
não há parto sem dor não há tempo sem hora
é urgente rompermos a vagina do medo.»

(world´s news, josé carlos ary dos santos )
um beijo para ti b. e boa sorte!

(perdoem as companheiras da roda de chá o vernáculo da linguagem, mas esta é uma conversa de vísceras entre velhos amigos! além do mais, este blogue, ultimamente, estava a ficar muito rosa chato!)

7 comentários:

missangas disse...

até parece que somos umas púdica! vê lá mosca se te afogo no chá!!

norrin disse...

lembrei-me de termos falado ao telef, antes de eu me casar, safa....
boa sorte a quem acredita, enquanto houver gente capaz disso, o mundo gira

solarenga disse...

este é só um dos filmes da minha vida.

mouche albértine disse...

e da minha, até agora....ai solinha, solinha, que afinidades com uma insecta...deve ser por causa do signo...bem que podíamos fazer uma adaptação para teatro...hummmm

solarenga disse...

alinho pá. tens o livro?

mouche albértine disse...

não...tens? empresta!

solarenga disse...

Não não tenho. mas gostava muito de ter!