Aqui há dias, a Mosca e eu apanhamos um táxi, já muito rente à madrugada.
Íamos a falar da guerra, ao que parece, taxista incluído, pelo que me é dado lembrar.
A Mosca saiu a voar para casa e continuei eu a viagem, até à minha.
Pagamento já feito, o taxista teimava em assinalar que pertencera a forças especiais durante a nossa guerra, teima que só terminou quando se certificou que eu percebera que todas as suas missões eram secretas e do género violadoras da convenção de genebra.
A seguir queixou-se do 25 de Abril e a um sinal meu para terminarmos a conversa fraternalmente disse: o Salazar era um frouxo. Eh lá, pensei eu, e sorri.
Começou então um discurso que só por uma vez eu tivera oportunidade de escutar ao vivo.
Disse-lhe que a direita dele não era a minha.
Ele tirou os óculos, virou-se para trás e disse: sabe quem eu sou? Sou o Alcides.
E eu: desculpe, mas não sei quem é.
E ele: o do Padre Max.
Eh lá, pensei eu, mas agora já não sorria.
Saí cordialmente (ele engraçou comigo, não obstante) e fui para casa a pensar que tinha de ir ao Google.
Só fui hoje.
Deixo-vos o resultado.
Tenho uma verdadeira preocupação na cabeça.
E se em vez do um-quarto de compincha que sou eu, lhe tivesse calhado a nossa Revolucionária Mosca na viagem final, que raramente cala o que tem de calar?
Há dois anos, e 30 anos depois, o assassinato do padre Max foi recordado no Porto numa iniciativa do Bloco de Esquerda.
O advogado Mário Brochado Coelho reafirmou aí o que vem dizendo há anos: ‘‘Sabe-se quem matou, como matou e ao mando de quem’’. Mas, apesar disso, ninguém foi condenado.
Recordemos uma vez mais o filme dos acontecimentos, reconstituído ao mais pequeno pormenor e reconhecido inclusive na acusação do Ministério Público.
Íamos a falar da guerra, ao que parece, taxista incluído, pelo que me é dado lembrar.
A Mosca saiu a voar para casa e continuei eu a viagem, até à minha.
Pagamento já feito, o taxista teimava em assinalar que pertencera a forças especiais durante a nossa guerra, teima que só terminou quando se certificou que eu percebera que todas as suas missões eram secretas e do género violadoras da convenção de genebra.
A seguir queixou-se do 25 de Abril e a um sinal meu para terminarmos a conversa fraternalmente disse: o Salazar era um frouxo. Eh lá, pensei eu, e sorri.
Começou então um discurso que só por uma vez eu tivera oportunidade de escutar ao vivo.
Disse-lhe que a direita dele não era a minha.
Ele tirou os óculos, virou-se para trás e disse: sabe quem eu sou? Sou o Alcides.
E eu: desculpe, mas não sei quem é.
E ele: o do Padre Max.
Eh lá, pensei eu, mas agora já não sorria.
Saí cordialmente (ele engraçou comigo, não obstante) e fui para casa a pensar que tinha de ir ao Google.
Só fui hoje.
Deixo-vos o resultado.
Tenho uma verdadeira preocupação na cabeça.
E se em vez do um-quarto de compincha que sou eu, lhe tivesse calhado a nossa Revolucionária Mosca na viagem final, que raramente cala o que tem de calar?
Há dois anos, e 30 anos depois, o assassinato do padre Max foi recordado no Porto numa iniciativa do Bloco de Esquerda.
O advogado Mário Brochado Coelho reafirmou aí o que vem dizendo há anos: ‘‘Sabe-se quem matou, como matou e ao mando de quem’’. Mas, apesar disso, ninguém foi condenado.
Recordemos uma vez mais o filme dos acontecimentos, reconstituído ao mais pequeno pormenor e reconhecido inclusive na acusação do Ministério Público.
Em inícios de 1976, o anúncio da candidatura do padre Maximino de Sousa numa lista da UDP por Vila Real causa furor nos meios da direita. Passavam poucos meses do golpe militar de 25 de Novembro e o grupo fascista MDLP, chefiado pelo marechal António de Spínola (à época foragido em Madrid) decide agir.
O oficial da Força Aérea José Canto e Castro, então conselheiro da Revolução, compra em Londres uma bomba, que é entregue a Rui Castro Lopo, director de um jornal de Chaves.
Este, por sua vez, passa-a aos operacionais: Valter dos Santos, funcionário do município de Valpaços, antigo oficial do Exército, conhecedor de explosivos, Alfredo Vitorino, electricista, Carlos Paixão, engenheiro electromecânico, e Alcides Pereira, motorista.
Colocada no carro do padre Max, a bomba foi detonada por controlo remoto, no dia 2 de Abril, quando este saía de casa: Maximino de Sousa e uma estudante que o acompanhava, Maria de Lurdes Costa, ficam desfeitos na explosão.
Foram formalmente identificados como inspiradores e organizadores do atentado o comandante Alpoim Calvão, o chefe da PSP Mota Freitas (já falecido) e o cónego Eduardo Melo Peixoto, de Braga. Os interesses em jogo eram contudo muito poderosos.
Para impedir que a trama fosse publicamente reconhecida, um dos cúmplices que ameaçava falar, Ferreira Torres, foi assassinado numa estrada.
Três vezes mandado encerrar “por falta de provas" e três vezes reaberto devido à resistência tenaz de Mário Brochado Coelho, o processo foi-se arrastando através de recursos e manobras dilatórias, até acabar por prescrever e ser encerrado de vez.
Compromissos secretos mantêm impunes os assassinos do padre Max.
4 comentários:
Detesto taxistas. É a profissão que recebe os amargurados, enxovalhados pela vida, falhados e ressabiados. Julgam que o volante do carro lhes dá o poder para sujeitar os clientes incautos a ouvir os seus lamentos e desgraçadas histórias de vida. Não há pachorra... Também detesto o léxico que usam, é tudo uma vergonha neste país e são todos uns gatunos. Só eles salvam a honra do convento. Se esse teu taxista era mesmo o Alcides, isso só confirma a minha teoria! Mais um "looser" na profissão!!
looser?! o padre não foi desta para melhor?!
livrei-me de boa amiga da lua, ele há coisas. a morte do padre max fazia parte da cultura de pacotilha doméstica maternal e do folklore de esquerda a que - tal como muitas crianças de 70- fui sujeita. história engraçada a dessa noite. bem me parecia que ele ia muito atento à conversa. os taxis podem ser, realmente, lugares estranhos. lembra-me a história do último filme do mike leigh (happy go lucky) e do professor de condução. se calhar são só os carros. eles andem aí, entre nós. quem não o sabe? acho que acabaríamos até por ter uma conversa animada.
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