Pois é. A Mosca Albertina que tanto zumbiu para que este blogue existisse dedica-se hoje, pela primeira vez, a revoltear no ar umas quantas palavras perdidas neste encontro improvisado a pretexto de chá. Quanto aos seios despeitados, dispensa-os a mosca. Prefere os outros, os da liberdade- Delacroix- guiando o povo. Ou aqueles que nos esperam fielmente na província para onde nos retiraremos um dia destes.Os tempos não são os mais fáceis, como as caras amigas ( camaradas? companheiras? Que tratamento vamos inaugurar nesta roda de chá?) já fizeram notar, e a província, digo-o eu. é mais genuinamente acolhedora. Reaprender com urgência os actos primeiros de plantar, colher e comer, seria uma boa panaceia para as dores futuras que nos anunciam: a crise instalada , a morte de um capitalismo selvagem que preferíamos ignorar comprando esses sapatos de que a Belinha tanto gosta. Como acontece em todas as crises vivemos momentos de tensão criadora. Celebremo-la então! Que mundo novo será esse que para aí vem, agora que a mão invisível se revelou amputada de qualquer bom-senso. Eu cá não sei. Também não pensaria viver este momento histórico em que os arautos do liberalismo, a cavalo do optimismo antropológico que vê o homem e a sua liberdade como a medida de tudo, mendigam pela protecção da comunidade erigida em Estado. Desse mesmo Estado criado pelas contribuições dos desprotegidos pela mãe-mão avara. Dizem agora alguns, com algum mal disfarçado cinismo, que afinal a democratização do acesso ao crédito é que esteve na base da crise. Pergunto-me, inocentemente, se o tal senhor Muhammad Yunus do Bangladesh que inventou o microcrédito também se encontra à beira da bancarrota. Os tempos são de mudança. Afirmação redundante diria o Heraclito de Éfeso. Viveremos nós ainda o momento histórico em que um negro/preto (deixo-vos a opção pelo politicamente correcto consoante a vossa inclinação/sensibilidade cultural) será presidente dos poderosos EUA? E veremos o mundo mudar com a assunção do poder por uma das minorias mais mal tratadas da história da humanidade? Eu cá, que sou uma mosca habituada a farejar desperdícios, apesar de idealista, hesito na resposta e pouso por momentos na cabeleira hirta de laca dessa senhora negra/preta Condoleezza Rice à procura de uma resposta simples. Não a encontro. E aqui estamos nós, três mulheres e uma mulher-mosca, tão diferentes entre si, a debitar pensamentos perdidos para o cyberespaço. À míngua de rituais telúricos, como as desfolhadas ou as vindimas, que rotinem encontros, celebramos a vida nestes happenings virtuais onde até o chá é a fingir. Celebremos, então, a goles delicados de chá virtual estes tempos de mudança.E como diria um outro senhor, «E se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança». E assim me vou, cantando, porque , como diz o povo, «quem canta seus males espanta».
Bzzzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
A Mosca Albertina.
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A Mosca Albertina.
3 comentários:
Amiga mosca, congratulo-me com a tua presença, há muito esperada, e com a sensatez com que chamaste á razão as nossas consciências burguesas, pincipalmente a minha, minada pelo consumismo.
Eu sei que os tempos são de mudança... e penitencio-me por ser mulher, futil e gostar do Geniccini.
Por minha honra, prometo aqui que vou, também eu, tentar mudar...mas antes disso, amanhã, ainda vou passar pela Fashion Clinic... e comprar um boião grande de creme de La Mer...
Cara belinha, não te ofendas, ter consciência social fica aqui dito a vox baixa e com algum rubor na face- é querer cremes La Mère para o mulherio todo, desde a cigana das contrafacções à camponesa do alentejo. Viva a democratização do luxo.
Ofender-me eu, querida mosquinha?!
Gosto da tua garra. Ofendia-me se fosses uma mosca morta, sem ideias, sem ideais, sem genica.
Unamo-nos! Quem sabe se em 2009 não conseguiremos abrir uma banca da Fashion Clinic na Feira da Ladra?
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