terça-feira, 31 de março de 2009

A velha canção da cortiça


O Consciência Democrática do regime diz que não se podem levantar suspeitas sobre questões que abalam os fundamentos do Estado de Direito.
Não consigo imaginar uma boa Constituição sem uma Constituinte suspiciosa.
Junto este post a quem queira falar por meias palavras.
O que eles têm é medo de bons entendedores.

Limpar os ouvidos

Estava aqui a trabalhar e sentia que tinha os ouvidos com muita poluição...
Fiz uma busca na net e encontrei o que precisava: cotonete!

http://cotonete.clix.pt/listen/bestrock/wmp_player.asp?template_path=/listen/bestrock/&version=7&channel_id=16


Uma rádio online non stop que nos permite escolher os estilos musicais que queremos ouvir, desde as baladas dos anos 80, à mais recente música alternativa, bandas sonoras, jazz, blues, world music, clássica, etc, etc.
Esta manhã estive a ouvir as músicas do universo Tarantino.
Brilhante!

espelhos

há horas de partir espelhos a pontapé. só para rever a nossa imagem mais pura nessa água de diamantes onde se estanca o sangue dos golpes.

domingo, 29 de março de 2009

Loucuras numa tarde de vento e sol



- O Sr. Dr. acabou de chegar. Faça o favor de entrar!

Ainda tentou balbuciar que a consulta não era para si, que estava ali apenas para fazer uma marcação.... mas a mulher estava demasiado apressada e tinha demasiadas certezas para perder tempo com divagações.

- Entre e deite-se nessa chaise longue. O Sr. Dr. vem já. Talvez seja melhor descalçar-se. Vai ver que vai ajudar.... Pouse a mala... O Dr. não quer que nada a perturbe ou distraía....

- Mas....

- Tire também o casaco...

- Eu....

- Vou correr a persiana...- Está nervosa? O Dr. vem já - disse continuanado sem lhe prestar a devida atenção antes de sair e bater com a porta - espero não ter de lhe dar um sedativo.

Olhou em seu redor... na sala ampla encontravam-se apenas, para além da chaise longue,uma poltrona, uma secretária e um cabide. Não existiam candeeiros, quadros ou quaisquer elementos decorativos... Sobre a secretária duas velas exalavam um cheiro a magnolia e jasmim....

Descalçou os sapatos, deitou-se na chaise longue... os ultimos dias haviam sido muito cansativos... primeiro aquele reencontro inesperado no supermercado, entre os escaparates dos bifes de peru e a banca dos enchidos, a reportá-la há mais de 20 anos atrás, quando aquela voz doce ainda ecoava no seu coração, depois as confissões, também inesperadas de uma amiga numa noite de insónia.... e por fim aquele pedido de ajuda a requerer uma intervenção imediata....

Deitada deixou que a paz e os cheiros lhe inebriassem os sentidos...

..........

No pequeno restaurante do Alentejo profundo os sorrisos misturavam-se com o cheiro a tomatada e a migas com entrecosto. Pincelou, abundantemente, as pernas de frango com molho picante, distraídamente, enquanto embebia o arroz no molho de tomate...

Lá fora o vento soprava dispersando a areia desde a praia até ás ruas vizinhas...

- Posso servir-lhe uma sobremesa? - perguntou o empregado, por detrás de uns oculos fortemente graduádos, enquanto ajeitava o rabo de cavalo e piscava o olho - aconselho-lhe o Molotof com os ovos caseiros.

Recusou distraídamente, a pensar na dieta e nos dias de praia que se avizinhavam...

- Permita-me então que lhe dê o meu número de telefone, para quando quiser encomendar ovos caseiros para o Molotof.. quando precisar de adoçar a sua vida é só ligar....

Olhou de relance o Molotof por detrás da vitrine, no qual pousavem duas moscas teimosas, que depois se debatiam no pegajoso doce de ovos que as colava ás claras.... quase tão pegajoso como o empregado com sotaque alemão que continuava a sorrir e lhe oferecia um pão de ló, doce e fofo, para a viagem...

......

Quando a porta se abriu, continuava deitada, sem ter a certeza de ter sonhado ou apenas deixar a mente acompanhar a imaginação....

Sentiu uma presença atrás de si... e depois pequenos passos, curtos e suaves, que atingiram a poltrona ao lado da secretária....

Continuou rendida à indolência..que inesperadamente e contra os seus objectivos, a fizera deitar na cadeira onde se encontrava....

Manteve-se a olhar fixamente um ponto ao acaso no seu angulo de visão...

- Boa tarde- a voz que vinha detrás de si tinha um sotaque alemão...

Virou-se...E viu então um homem com oculos de grossos aros, fortemente graduados e com o cabelo apanhado num rabo de cavalo, que a encarou.

- Sempre vai fazer o Molotof? Escusava de ter vindo cá buscar os ovos... bastava tê-los encomendado pelo telefone... eu teria ido levá-los com muito prazer... e comeriamos juntos o doce... de ovos....

a hora de verão e o tempo a ruir

A MINHA PARTICIPAÇÃO NO BLOGUE

A minha participação no Blogue


Depois de uma ausência de mais de duas semanas, o peso da ingratidão abateu-se sobre mim. Dormir, dormia. Comer, comia. Mas sabia que havia qualquer coisa a atormentar-me. Algo indefinido, impalpável. Remorsos para com a família foi logo o meu primeiro pensamento. Mas não, até tinha atendido o telefone à mana e visitara o pai. O que seria então? Não atropelara ninguém e fugira. Não tinha surripiado livros em qualquer loja. Nem sequer cuspira para o chão ou deixara cair sub-repticiamente o papel de um rebuçado no chão luzidio do gabinete da directora da DGAJ. Mas então?...
Até que uma noite, sem que nada o fizesse prever, acordei sobressaltada e a transpirar. Era o BLOGUE. Aquele do chá. Sim, não era o da aguardente. O do vinho tinto. O da cervejola. Era o do CHÁ. Mais feminino, claro. Chá das cinco, com rainhas, parece que a inglesa é a preferida. Velhota e apreciadora de veados. Fica sempre bem a uma rainha, que tem hectares de terreno para a caça, e ainda por cima num país que tem uns terroristas armados em proteger animais (que absurdo! “Tá” visto que os bichos apenas se destinam a servir o homem – com H grande), mostrar ternura por uma veado. Claro que acabou morto, mas aqueles cinco segundos de emoção no rosto da rainha....
E então veio a dúvida... escrever sobre o quê? Se calhar o melhor era não escrever nada, colocar um vídeo do you tube e a coisa estava feita. Mais duas semanas de vida descansada!!

Depois pensei assim (agora vou colocar em directo o meu pensamento)
- e por que não falar do meu tema preferido?
- Do teu tema preferido? Não achas para começar demasiado arriscado?
- mas é o meu tema preferido!
- Pois, mas os outros... não sei... parece-me,
(neste momento fez-se um silêncio no meu pensamento)
- Está bem, eu aceito.
- aceitas?
- Sim, mas durante uma semana quem manda sou eu!
- combinado.

E assim foi.
O meu tema favorito, como já descobriram e esperavam ansiosamente que alguém me travasse, sou Eu.
Depois do acordar sobressaltada, e da luta entre mim e eu, perguntei-me, sim perguntei-me, qual teria sido a razão do esquecimento do blogue.
E não havia como negar, tudo tinha a ver com o meu feitio, essa coisa adversa à mudança. O blogue não existia na minha vida, não tinha um dia da semana e uma hora para ele e, sem ser assim, tudo perfeitamente ritmado, igualzinho, semana sim, semana sim, não funcionava. O Kant, meu seguro antepassado, compreender-me-ia. Mas agora já não há Kant’s. Tinha então de decidir-me. Tornar a mudança num ritual antigo. Fixar, por exemplo, todos os Domingos entre as 22H00 e as 23H00. JÁ ESTÁ. Agora é só gravar e o robot todos os Domingos daqui para a frente entre aquelas horas estará no blogue. Todos os que me conhecem, amigos, inimigos e assim a assim, saberão sempre onde estou. Não é simplesmente maravilhoso!!

Já estou a imaginar as minhas conversas no futuro.
o outro – olá Solarenga.
eu – olá outro.
o outro – estava aqui a pensar em irmos ao cinema. Que te parece pá? (resquícios evidentes do 25 de Abril e da idade real deste outro)
eu – adorava meu (tentativa de disfarçar a idade fingindo-me um pouco mais nova) mas não posso. Já tenho um compromisso. Ao Domingo à noite é assim.
o outro – ó pá que pena pá.
eu – pois...
o outro – e não dá “pra” (não é um professor, não se preocupem) desmarcar. Está um filme maravilhoso no cinema e...
eu – não dá!
o outro – se é assim!
eu – é assim... é assim....
o outro – hum...
eu – hum...
o outro – e esse compromisso inadiável é segredo? (bisbilhoteiro, o outro)
eu – claro que não meu.
o outro – então pá diz lá pá.
eu – pois... (a voz ligeiramente irritada) a essa hora tenho de escrever num blogue!

HÁ PESSOAS MESMO MUITO ESQUISITAS!!!!
(tentei passar um vídeo mas não consegui - era
I don't like monday´s - Boomtown Rats)

sábado, 28 de março de 2009

lisbon sun


foi uma noite dançante para mim, para a soprónia e para o huguinho ( petit nom : petit prince), ao som dos ramones interpretados pelo mano paulo franco e pelo joão guincho no musicbox. o paulinho é muito mais bonito que o vocalista dos ramones! mana põe-te a pau, havia uma loura louca que babava no palco...
i´m gonna sleep now!

Cars and Girls


Brucie dreams lifes a highway too many roads bypass my way
Or they never begin. innocence coming to grief
At the hands of life - stinkin car thief, thats my concept of sin
Does heaven wait all heavenly over the next horizon ?
Lifes a drive through a dust bowl, whats it do, do to a young soul
We are deeply concerned, someone stops for directions,
Something responds deep in our engines, we have all been burned
Will heaven wait all heavenly over the next horizon ?
Little boy got a hot rod, thinks it makes him some kind of new god
Well this is one race he wont win,cos lifes no cruise with a cool chick
Too many folks feelin car sick, but it never pulls in.
Brucies thoughts - pretty streamers- guess this world needs its dreamers
may they never wake up.
But look at us now, quit driving, some things hurt more much more than cars and girls.
Just look at us now, start counting, what adds up the way it did when we were young ?
Look at us now, quit driving, some things hurt much more than
cars and girls.



sexta-feira, 27 de março de 2009

1.2.3. reinvenção na noite primordial

não há lugar para lamúrias!



(preferia a versão 1., da adriana, mas não encontrei nenhuma suficientente audível)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Outros Amores


EDDIE- Eu não me vou embora. Já não me importo com o que tu pensas. Não me importo com o que tu sentes. Nada disso é importante. Eu não me vou embora. Vou ficar aqui. Não me importo que entrem dúzias de "amigos" por aquela porta. Vou enfrentá-los um a um. Não me importo que odeies a minha maneira de ser. Não me importo que detestes olhar para mim, ouvir a minha voz ou sentir o meu cheiro. Vou ficar aqui para sempre. Nunca te hás-de ver livre de mim. Nem nunca hás-de conseguir fugir de mim. Eu hei-de encontrar-te estejas tu onde estiveres. Sei exactamente como funciona a tua cabeça. Acertei sempre. Acertei todas as vezes.

MAY- Tens de acabar com isto, Eddie.

EDDIE- Eu não vou acabar com nada!

(Pausa.)

MAY (calma) Muito bem. Ouve. Eu já não percebo a tua cabeça. A sério, não percebo. Agora precisas desesperadamente de mim. Agora não podes viver sem mim. Agora fazias tudo por mim. Porque é que eu hei-de acreditar desta vez?

EDDIE- Porque é verdade.

MAY- Mas também era verdade todas as outras vezes. Todas as outras vezes. Agora volta a ser verdade. Há quinze anos que tu me tratas como se eu fosse uma coisa. Há quinze anos que eu tenho sido um yo-yo nas tuas mãos. Eu nunca te menti. Nunca fiz jogo duplo contigo. Ou te amava ou não te amava. E agora, pura e simplesmente, não te amo. Estás a perceber? Percebes? Não te amo. Não preciso de ti. Não te quero. Estás a perceber? E se agora ainda aguentas ficar, é porque estás louco ou não passas de um pobre diabo.

Sam Shepard- LOUCOS POR AMOR

quarta-feira, 25 de março de 2009

Love is an Accident

"O acaso tem destes sortilégios, a necessidade, não. Para um amor se tornar inesquecível é preciso que, desde o primeiro momento, os acasos se reúnam nele como os pássaros nos ombros de São Francisco de Assis."
Kundera, «A Insustentável Leveza do Ser»







Há dias em que o amor tem mais significado. Aquele amor que começa numa sucessão de acasos, nos arrebata, cresce, vive em nós. O amor que se alicerça nas certeza e se esboroa nas dúvidas. O amor que nos faz sorrir diariamente e, paradoxo, nos faz chorar. Que nos deita na cama, nos abraça, nos beija, nos envolve. O amor dos filhos que geramos. O amor à vida que nos vê passar e construir coisas juntos. O amor que se estende aos cheiros e sabores que permanecem. Aquele que também se deixa arrastar por um quotidiano de fadiga, de irritação, de monotonia. O amor que cai no esquecimento. O amor que também morre e tem de ser enterrado rapidamente, para que possa renascer, mais forte que nunca, numa futura coincidência.
É tão simples e piroso como: I love you!

terça-feira, 24 de março de 2009

Conselho ...para aqueles dias....






Não leve a vida tão a sério!
Dance
Descanse
Vá às compras


Durma um pouco
Beije muito!
Relaxe junto da natureza
Atreva-se
Solte boas gargalhadas
Grite bem alto
Atreva-se com a culinária
Tome banho de espuma

.... e seja feliz!

com os votos de felicidade para swann (leda via mosca)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Filmes da vida





Em 1978 ainda se escreviam cartas de papel, com selo e tudo, daquelas que depois se enfiavam no marco de correio e chegavam na sacola de cabedal do carteiro, que era esperado religiosamente ás 10h de cada manhã.

Eram outros tempos... vividos sem pressas... Um dia para aprimorar a letra e comprar o selo, outro para passar pelo marco mais próximo, dois ou três para que o processo normal dos CTT cuminasse na pretendida entrega...

Tinham-se conhecido, por força do acaso, à porta da Cinemateca, quando ambos livres esperavam um táxi numa tarde de chuva...

Resolveram partilhá-lo, depois de horas de espera...primeiro até á casa dela...

- Obrigada, é ali mesmo no 4.º Dto.

Com a pressa deixou cair o disco que comprara com um dos êxitos romanticos do último festival da canção...

Ele guardou-o depois juntamente com a imagem do sorriso jovial que não conseguiu esquecer..


Põe os teus braços à volta de mim
Leva-me a um cinema de sessões contínuas
Onde não haja princípio nem fim
Mas apenas nós

Põe os teus braços à volta de mim
Vamos provar a noite dessas avenidas
Onde não haja princípio nem fim
Mas apenas nós

Esta noite não é noite
Não é noite de dormir
Nem esta nem a que vem
Nem aquela que está pra vir
As nossas noites nunca serão noites
de dormir

Põe os teus braços à volta de mim
Não nos importa que falem os outros
Que somos loucos
Sem princípio nem fim
Já sabemos nós

Escreveu-lhe numa carta...

Depois passaram a encontrar-se todos os dias num dos cinemas mais carismáticos da cidade, no King, no Quarteto, no Nimas, onde começaram por chupar drops de anis...

Durante muito tempo passaram noites no cinema em sessões continuas...

Separaram-se numa tarde de sol, depois de assistirem juntos, pela décima vez, a « Manhattan » e descobrirem que já não tinham rido das mesmas piadas... a relação não resistiu à rotina... nenhuma resiste....

Separaram-se por não terem entendido o significado que cada um deu à canção que começaram por ouvir...

Há dias, entre dois, de lojas de moda, e um da TMN, ela recebeu no telemóvel um SMS proveniente de um número desconhecido ... « amanhã na Cinemateca ? »


Ainda pensou ir já esquecida do que fora a rotina instituida de outros tempos.... mas no dia seguinte em vez de chuva, estava um dia de sol radioso e resolveu aproveitá-lo, na melhor companhia- a sua....

domingo, 22 de março de 2009

as pessoas normais e as caves


diz-me o que escondes na cave e eu dir-te-ei quem és.

sábado, 21 de março de 2009

Ma'am


Convencida do fracasso da minha enlevada nelinha e uma vez que já se alardeia a dor de cabeça das comemorações dos 100 anos da república (do regicídio, portanto), pus-me a ver pela segunda vez A Rainha, para me lembrar que ele houve uma direita…
… de luto pela morte da loira, baixando o som aquando os discursos das pop stars clinton e mandela na televisão, para ponderar que o melhor para as crianças era o ar fresco de Balmoral e o stalking a um magnífico veado de 14 pontas recentemente avistado;
…que reagiu ao funeral de Doddy Al Fayed com inveja: sem imprensa, sem fotografias, muito digno;
…da Rainha Mãe que consentiu que o seu funeral ensaiado fosse levado à prática em memória de uma ex-HRH, bastando ao camareiro-mor trocar 400 soldados por 400 celebridades, por causa de um bando de histéricos segurando velas que precisam de ajuda com o desgosto deles?
…que responde assim a Mr. Blair, que exigia que abandonasse Balmoral: if you think I´ll go to London without attending to my grand-chlidren, who have just lost their mother, you´re mistaken. This is how we do things in this country; quietly and with dignity;
…que se angustia: there´s been a change, a shift in values…
Helen Mirren (procurem-na no filme em vão; só vão encontrar Isabel II) ganhou o Óscar por causa do veado de 14 pontas, ferido e não morto por um banqueiro de Londres, em visita turística a Balmoral. Explicar porquê é uma blasfémia: please pass my congratulations to your guest…
Esta é a minha direita: duty first, self second.
Mas ele há Mr. Blair: we must modernize…

sexta-feira, 20 de março de 2009

parindo paris digital

acoitei-me no hotel amour, e sonhei com um amor brilhante de néon.
fiz planos para o futuro que me esqueci de tirar da mala no regresso.
*
apaixonei-me por mulheres e homens de mármore, por jogos de luz e sombra , pelas cores vivas de alguns quadros (ingres e as suas banhistas turcas)
quedei-me a escutar sob um sol morno.
observei as vidas dos outros emolduradas pelas vitrines dos bistrots.

lembrei-me das amigas da roda de chá e de como seria divertido uma jantar de blogue à paris.

fui fútil a sonhar-me vestida pelos grandes costureiros
deixei prender a lente da leica a alguns grafitis pop nascidos em canteiros de uma rua judia.
revi velhas amigas, reproduzindo-lhe os passos nas ruas que eram delas.

apreciei livros, vinhos, queijos e outras iguarias.
guardei memórias digitais por desconfiar cada vez mais da minha e, de quando a quando, me lembrar da fábula da cigarra e da formiga a propósito da necessidade de armazenar o que ruminar na idade maior.
viajei, pois.

Hino com a chegada da Primavera

Ao longo da vida quantos foram os amigos que conseguimos cativar? O ideal teria sido conservar-mos até hoje a amizade de todos, ou melhor, continuarmos a ser praticantes dessa amizade, isto porque eu julgo que os verdadeiros sentimentos nunca morrem, existem é circunstancias várias que nos podem afastar daqueles que em determinado momento especial passámos a saber ver com os olhos do coração.

Acreditem ou não, todos eles se mantêm ainda hoje guardados no meu coração, embora muitos estejam longe da minha vista e do meu dia a dia há largos anos.


Aqueles que o destino me impediu de voltar a ver... pelo menos neste mundo....

Os que se afastaram por razões geográficas... e que a vida e o comodismo mantiveram distanciados...

Aqueles cujo orgulho manteve distanciados por uma barreira intrasponivel...

Podereria dizer aqui hoje o nome de todos e de cada um... mas mesmo sem o fazer, todos saberiam, se o acaso os trouxesse até este blog, que estou a falar deles...

Hoje, dia em que começa a Primavera é bom relembrar todos os que até hoje deram mais cor, luz e alegria aos meus dias, num pequeno hino/tributo á AMIZADE e aos AMIGOS.




Quotidiano Delirante II

Entrou farta de vida no esconderijo. Está tão longe que ali não sabe o seu nome. Não sabe as coisas que lhe pertencem. Não sabe que a amam. No esconderijo fecha a porta e deita-se. Deixa as roupas amarrotarem-se. Nunca acende a luz naquele lugar. Está sozinha. Acompanha-se. Aquieta-se aos poucos com o cansaço de não ser nada. Espera que o seu nome amanheça.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Quotidiano Delirante







São aqueles momentos das nossas vidas. Tudo parece sobre rodas. Acordamos de manhãs e sentimos o dever de um dia cheio de afazeres. Fechamos os olhos mais um pouco, mas a culpa, que é cristã, atira-nos para fora da cama. Seguimos a rotina; lutamos contra a rotina, mas ela impõe-se. O banho, o pentear, o sorrir ao espelho, o beber do copo de água. Acordar-vos com um beijo. Vestir, pensar no que me vai ficar bem hoje. Algo de novo? Já é tarde e vai haver trânsito...
Certinha, direitinho, tudo alinhado e organizado.
Mas, depois, há ali um momento em que só apetece partir tudo!

Nunca vos aconteceu?

Para a Missangas e Belinha, com um beijo ao nosso petit prince de carne e osso

"Foi então que apareceu a raposa:- Bom dia, disse a raposa.- Bom dia, respondeu o principezinho com delicadeza. Mas ao voltar-se não viu ninguém.- Estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...- Quem és tu? disse o principezinho. És bem bonita...- Sou uma raposa, disse a raposa.- Anda brincar comigo, propôs-lhe o principezinho. Estou tão triste...- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.- Ah! perdão, disse o principezinho. Mas, depois de ter reflectido, acrescentou:- Que significa “cativar”?- Tu não deves ser daqui, disse a raposa. Que procuras?- Procuro os Homens, disse o principezinho. Que significa “cativar”?- Os Homens, disse a raposa, têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?- Não, disse o principezinho. Ando à procura de amigos. Que significa “cativar”?- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa “criar laços”...- Criar laços?- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no Mundo. Serei única no Mundo para ti.(...)Mas voltou à mesma ideia:- Levo uma vida monótona. Eu caço galinhas e os Homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os Homens são iguais. Por isso me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o Sol iluminasse a minha vida. Distinguirei de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus hão-de atrair-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Vês lá adiante os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E é triste. Mas os teus cabelos são cor de oiro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso. Como o trigo é doirado, fará lembrar-me de ti. E hei-de amar o barulho do vento através do trigo...A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.- Cativa-me, por favor, disse ela.- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer outras coisas.- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os Homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os Homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.- Como é que hei-de fazer? disse o principezinho.- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...(...)- Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

in. “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupé

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sê benvolvida!







O Veyron foi um quebra-cabeças aerodinâmico.
É que levantava voo, como as Moscas…

volvi

cá estou de volta ao rectângulo solar.
mas o que se passou na minha ausência...quem é essa moça apolínea que fala nessas coisas do ir ao cu? quem me destronou do piso da desbocada? será uma loura de olhos azuis que eu bem conheço e que deveria escrever coisas mais edificantes ou teatrializantes? ai sô dotora, ai sô dotora!
amigas, estou chocada! as p. das francesas têm pernas tipo auto-estradas (coitados dos meus becos sem saída) e o chique exacerbado das ditas (até a empregada do hotel servia os petit-dejeuner nuns saltos do tamanho da torre eiffel com um elegante cú bamboleante) deu-me cabo da moleirinha. adiante! os moços são cavalheiros e igualmente elegantes,muito prendados na arte do galanteio, algo que os nosso homens vêm a descurar .
agora vou desfazer as malas, pôr uma máquina de roupa a lavar e, talvez, mais logo, vos conte novas!uns queijitos e uns salames aguardam por uma degustação conjunta regada com um belo chá de uvas! solarenga (quem és tu?) e saudoso plex (não nos conhecemos nós de outras realidades menos virtuais?) estão convidados para a soirée ou matiné!
viva o SOL do SUL!
compras: menos do que as gostaria de ter feito! os livros acusaram excesso de peso e fizeram-me ganhar uma comunidade de pulgas na Shakespeare and Co. (linda, linda!) - lembram-se? a livraria do "antes que anoiteça"??
aqueles abraços todos!

Branca e Pura

terça-feira, 17 de março de 2009

O Joãozinho não foi o primeiro...

...nem há-de ser o último.

segunda-feira, 16 de março de 2009

O gosto dos outros.... e o do Joãozinho






Fora sempre um miudo demasiado observador... Aos três anos já olhava, deliciado, para o decote generoso da tia Alzira, que de tão generoso quase não conseguia sustentar o par bambuleante que ocultava e que se rendia à tentação da liberdade, quando a tia se baixava para o beijar....

O Antigo Regime, contudo, atrofiou-lhe o sentido de observação, quando, ao entrar para a Escola Primária, em 1971, o obrigou a conviver durante três anos consecutivos, apenas com rapazes, e com a velha D. Gertrudes, que não se rendera ás liberdades dos anos 60 - pelo menos exteriormente... afirmava-se a pés juntos que mantivera, durante muito tempo, e quando o marido ainda era vivo, um caso com o pároco da aldeia, iniciado durante a confissão, mas nunca ninguém o conseguiu provar -, e que ocultava as pernas, sob a saia que descia até ao tornozelo, e o peito, debaixo da camisa de laçada que subia até ao pescoço, e que se benzia sempre que na rua se cruzava com alguma saia, que não cobrisse o joelho, das pernas a que se sobrepunha...

A D. Gertrudes tinha pouco mais de 1,50m, era franzina, e raramente esboçava um sorriso... mas os olhos do Joãozinho viram nela uma deusa...

O Joãozinho perdeu, assim, o seu sentido de observação.. e três dos seus anos de vida entre contas e tabuádas... e a olhar para o cabelo liso, sobre os ombros da D. Gertrudes, que muitas vezes era desviado do rosto, num tótó ou carrapito...raiados de branco...

O Antigo Regime e a D. Gertrudes atrofiaram o gosto e o sentido critico do Joãozinho, que, durante três anos, viu naquela a sua referência de beleza...

Quando no ano lectivo de 74/75, a Revolução levou para a Escola onde andava um grupo de miudas, o Joãozinho tinha já, o seu gosto relativamente a mulheres, irremediávelmente, estragado, e nem a miuda loira de doces olhos verdes, que se passou a sentar ao seu lado... nem a morena de olhos grandes que lhe sorria de soslaio da carteira do lado, lhe conseguiram apagar a memória daquela que fora a sua primeira referência....

No liceu, Joãozinho recusou várias vezes o convite para sair da miuda mais gira, que veio depois até a ser eleita Miss Portugal, e na Faculdade, dizem que chegou a ter uma paixoneta pela professora de Direito Penal, que lhe fazia lembrar a velha D. Gertrudes...

O Joãozinho casou já os anos 90 iam avançados, com a colega mais feia do escritório onde, começara por estagiar, e trabalhava... « quase um retrato fiel da D. Gertrudes », balbuciou a tia Alzira, enquanto ajeitava a dentadura, quando, numa tarde de sol, lha apresentou no Jardim da Estrela...

O Joãozinho nunca apreciou, a seu tempo, a Pamela Anderson, a Kim Besinger, a Claudia Schiffer, a Angelina Jolie, a Mónica Belluci, a Scarlet Johansson .... e continua ainda hoje a afirmar que a D. Gertrudes sempre foi mais bonita do que qualquer delas ...e que todas aquelas não passam de fenómenos de produção criadas apenas para gaudio dos machistas que não sabem apreciar a verdadeira beleza numa mulher....


Joãozinho continua a apreciar, sem machismos, a beleza singular da sua Manuela... a quem proibiu de pintar o cabelo, usar decotes e pintar as unhas de vermelho....

Sunday Night Sunshine



Uma noite de Domingo que se previa deprimente. Não fosse a pequena Olive e a sua louca família a entrarem-me pela casa a dentro e a encherem-na de Sol...

experiência 1 ..2




É urgente tomar as rédeas da vida. Agora!






quinta-feira, 12 de março de 2009

volver

em vêsperas de partir, não são os acordeons franceses que me encantam e fazem dançar.

À Mosca, romântica e revolucionária

quarta-feira, 11 de março de 2009

a mosca ainda anda em sentido contrário como a formiga

apesar das modinhas dos carreiros, a mosca, tal como a formiga, teima em andar em sentido contrário. vai cair ao tejo, sim senhor. e há-de haver uma tábua para onde trepar. a lua e a moça alcandorada no astro esboçam um sorriso trocista. a mosca pisca-lhes o olho, fuma um cigarrito, meditabunda, e lá segue o seu caminho. sempre no sentido contrário.é o seu.

Inevitabilidades



O sol demasiado quente para a época conduziu-a ao sul e ao descanso naquela manhã de domingo.

Na viagem a aragem que se fazia sentir, conseguiu limpar, ainda que temporáriamente, todos os registos da sua mente e do seu coração, e instalar a leveza, trazida pelo descanso, pelo ócio, pela despreocupação.

Depois, o mar, o cheiro da maresia misturado com o do peixe grelhado que se servia na mesa ao lado daquela onde esperava a sangria e o arroz de tomate com pasteis de bacalhau, transportaram-na, uma outra vez, para as memórias de infencia e do tempo em que nada conseguia estragar um dia de sol, ou um domingo junto ao mar. ( há épocas, momentos, em que quase nada é o bastante para se ser feliz )...

Entre as cadeiras e os puffs coloridos havia quem descansasse... ouviam-se sorrisos de crianças...alguns chapéus de palha, cobriam as cabeças, protegendo-as do sol e promovendo uma qualquer bebida adequada para combater o calor...

Ás duas da tarde, de um domingo, no restaurante á beira-mar, não se passava nada para além do convite sereno á felicidade, ao descanso, à cavaqueira...ao namoro... ou ao descompromisso...

O casal que minutos depois entrou na esplanada, de mão dada, acompanhando o empregado que gentilmente, lhe oferecia uma mesa virada para o mar, interrompeu, inesperadamente, o vazio a que se entregara...

Ele devia ter os seus trinta e poucos anos, era magro, moreno, vestia calças de ganga de marca, camisa branca... não era o Jude Law, mas tinha melhor ar do que a maioria dos mortais do mesmo género ....

Ela, já passara os 40, de relance dava ares ao Luis Represas, devia pesar mais de 100kg, vestia camisa de quadrados, tipo camionista, e calçava sapatos de vela, tinha uma cara rude....

Ainda permaneceram, de mãos dadas mais alguns momentos, depois de se terem sentado ..e durante largos minutos olharam-se nos olhos, apaixonados e embevecidos....

O empregado olhou-a e sorriu - enquanto servia o arroz de tomate com pimentos - malandrinho....

Já há alguns dias que tinha latente essa pergunta, mais permente e presente até do que desejava, e, naquele momento a mesma voltou a importunar o vazio do lazer e do descanso a que se entregara:

- O que faz com que nos apaixonemos por determinada pessoa?

Lembrou-se da existencia de várias teses, em que relevam diferentes factores:

Aparência

Muitos pesquisadores defendem que temos tendência a procurar parceiros do sexo oposto parecidos com nossos pais. Alguns acreditam até que somos atraídos por pessoas parecidas connosco. De facto, o psicólogo cognitivo David Perrett, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, realizou uma experiência onde manipulava fotos do rosto de cada indivíduo, transformando-o em um rosto do sexo oposto. Então, ele pediu para que o indivíduo seleccionasse, numa série de fotos, qual achava mais atraente. Segundo o Dr. Perrett, as pessoas que participaram na experiência sempre preferiam a versão manipulada de seu próprio rosto e não a reconheciam como sua.

Personalidade

Assim como acontece em relação à aparência, tendemos a preferir aqueles que lembram os nossos pais ou outras pessoas próximas de nós durante a infância, por causa da personalidade, senso de humor, gostos etc.

Feromônios

A questão dos feromônios humanos ainda é importante no campo da pesquisa do amor. A palavra “feromônio” vem das palavras gregas phéro e hormôn, que juntas significam "trazer excitação".


Outros ainda defendem que o amor é « uma questão de predisposição »....

Regressou a casa mais cedo do que o previsto, na ânsia de reler o « Enamoramento e Amor » do Alberoni... talvez uma leitura mais atenta a fizesse compreender não só o casal inusitado, que mais parecia tirado de um episódio da Oprah...mas sobretudo a essência e a razão de ser dos mais nobres sentimentos e dos mais inesperados envolvimentos...

Fechou o livro, olhou por entre o vidro da janela a lua que enchia o céu e convidava a novos momentos de inspiração...

Foi dificil parar de olhar a lua... e deixar de se inspirar nela...

É impossivel ensinar alguém a escolher os seus amores... teve nesse momento essa certeza...

Os verdadeiros amores serão sempre, para além dos tempos, e das razões, os que são sentidos...sem explicações... É isso aí....



a palavra estava na rua e era do povo

mas a enxada é minha! mas qual é valor da tua enxada? não é minha, não é deste, não é daquele: é da cooperativa!abrem-se armários,remexem-se gavetas, experimenta-se a jaqueta do duque! em nome do pai, do filho e do espírito santo!bem dizia a maria do rosário:aquilo dava muito e ainda podia lá estar tudo a trabalhar...havia lá muita coisa para dar, se houvesse organização, mas cada qual puxava para si.
e lá ficou a reserva de caça, futuro hotel de charme e campo equestre da casa da família real de bragança...e todos puderam voltar a viver as suas vidas tranquilas e o povo não mais ousou o poder da palavra, da acção e da utopia!

Adeus Spínola, olá PREC




Faz hoje 34 anos que se iniciou um glorioso período de oito meses de socialismo nesta nossa querida República Portuguesa.

mais uma lua prenha

mais uma old devil moon. e a malta a envelhecer...ou, citando a amiga adília, «um dia tão bonito e eu não fornico» (juro, não fui eu que disse! foi a taradona!)

agora a sério... hoje ouvi na rádio europa uma versão fantástica do standard "old devil moon", de uma tipa qualquer- cujo nome não pesquei na voz linda da mafalda costa (fez comigo o tal recital de poesia africana lá para os anos de 93/94) e que terá lançado um disco de jazz só sobre a puta da lua.dá-se alvíssaras a quem descobrir o nome da moça e do disco!

Pariswood





terça-feira, 10 de março de 2009

mais um morceau da paris dans ma tête:

un cadeau



com a leitura do lonely planet, uns discos da Edit Piaf (des yeux qui vont chercher les miens) e este pequeno presente para um cinéfilo começa a preparação da viagem. e assim se perdem as cidades, como dizia o fernandito, ou talvez não...

mosca clashando

depois de uma noite mal dormida , nada melhor que um pouco de gasolina sonora para dar energia para o dia que se adivinha hard. o puto a. gostou da banda sonora matinal escolhida para o caminho da escola e diz que quando crescer quer ser punk! entretanto hoje usou uma écharpe toda fashion armado em rebelde sem causa ...o puto vai-me dar águas pelas barbas!

paris: faltam 3 dias!



(tentei postar o london calling mas não deu...fica a luta com a lei, o meu (nosso) metier!)

domingo, 8 de março de 2009

hey sisters: a luta continua!





para adoçar:



a pensar na MAIMUNA e em todas as raparigas que ainda têm que lutar por e para serem mulheres!

sábado, 7 de março de 2009

CineSexta




1 cartaz e 2 fotogramas de Alex e Mireille (Boy Meets Girl), de Leos Carax.
O rapaz mais feio dos filmes no seu eterno casaco aos quadrados.
Um rapaz, uma rapariga, um intercomunicador, uma tesoura.
Quando se tem vinte e poucos anos não se quer ir a lado nenhum.

Tem uma música de David Bowie mas a propósito são os versos dos Rádio Macau junto ao pulso quente a bater encosto o aço frio devagar.
Depois deste, fez Má Raça (Mauvais Sang), com o mesmo Denis Lavant e Juliette Binoche antes de ser estrelinha. Os outros não vi (Os Amantes da Ponte Neuf, Pola X).
É um odd man out. É para quem tem vinte anos. É inesquecível.

Sugestão... para os amantes de teatro... e para os outros



O Teatro da Cornucópia estreia na próxima quinta-feira « A Tempestade » de William Shakespeare

De 12 de Março a 26 de Abril de 2009

Teatro do Bairro Alto, Lisboa


terça a sábado às 21:00h. Domingo às 16:00h

Tradução José Manuel Mendes, Luis Lima Barreto e Luis Miguel Cintra

Encenação Luis Miguel Cintra

Cenário e Figurinos Cristina Reis

Desenho de luz Daniel Worm D’Asssumpção.

Interpretação António Fonseca, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, João Pedro Vaz, José Manuel Mendes, Luis Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Márcia Breia, Nuno Lopes, Pedro Lamas, Ricardo Aibéo, Rita Durão, Paulo Moura Lopes, Sofia Marques, Tiago Matias e Vítor D’Andrade

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Vi, há alguns anos, a versão protagonizada pelo « nosso » Diogo Infante, que me tem como fã há muitos anos, desde os tempos em que ambos estagiávamos, nos respectivos oficios, e a interdisciplinariedade nos fez cruzar, na minha ( nossa ) escola ....

( Pois é verdade, esta vossa Belinha tanto vê com prazer textos de autores consagrados, como se rende à leveza dos espectaculos que cativam pela luz, pela cor, pela música... sou versátil, que hei-de fazer, gosto sobretudo de espectáculos bem feitos, independentemente do género )

Luis Miguel Cintra, não tem nem a voz, nem o corpo, nem o charme do nosso Diogo... mas o talento e rigor interpretativo talvez justifiquem que voltemos a apreciar um dos textos mais bonitos do autor...

sexta-feira, 6 de março de 2009

invenção para quem quer se soltar

«gosto da música e me identifico muítissimo com a letra»

quinta-feira, 5 de março de 2009

Honestamente... por vezes é bom recordar ( porque há imagens que nunca deixamos adormecer )



Longe iam os tempos em que gostava de guardar, religiosamente, no sotão todas as coisas que iam passando de moda ou perdendo oportunidade na sua vida quotidiana, mas que por algum motivo ficavam sempre presas ao seu coração.

Tivera, durante muito tempo, um apego desmesurado, e demasiado, ás coisas materiais que tinham quase sempre uma história, e que mesmo depois de verem acabados os seus dias de glória, continuavam guardadas, pelo que haviam sido, pelo que recordavam... ou pela esperança, quase sempre vã, de que poderiam voltar a ser oportunas, necessárias, recuperadas... como se acreditasse que ainda poderiam as memórias, os afectos, as certezas passadas, apagadas, mortas, ser um dia recuperadas, reinventadas....

A chuva que não parava de cair, inoportuna, inesperada, fora de tempo, levara-a ao sotão, na ãnsia de se conseguir livrar de alguns objectos há muito irrecuperáveis, e de conseguir lugar para outros, que ainda queria acreditar virem a ser úteis, necessários... ou em relação aos quais ainda se sentia demasiado presa....
( todas as separações são sempre dolorosas... ainda quando já não acreditamos, há muito, na existência de uma ligação - ou necessidade - com futuro viável e possível )

Na sua frente encontravam-se no chão, a um canto, diversos discos de vinil, muitos deles com os sucessos dos distantes anos 80, que, a seu tempo, haviam gasto a agulha do velhinho gira-discos, que não conseguira resistir com a mesma sorte ao correr dos anos... ( interrogava-se agora porque mantivera os discos, sem a possibilidade prática de os ouvir ... quantas vezes não guardamos na vida ou nas memórias, aquilo que sabemos nunca mais nos vir a ser útil? Conservar, implica não ter de decidir, e não decidir, não sermos confrontados é sempre o mais fácil... )

Entre os velhinhos discos encontrava-se perdido um que continha uma música que não fazia parte das suas recordações, mas o titulo despertou-lhe a atenção e a curiosidade - « Honesty »... A letra da canção, transcrita no verso da capa de cartão , deteve-a por momentos... mas não lhe prendeu a atençao por demasiado tempo.... a palavra honestidade transportou-a, contudo para outra dimensão....

Honestidade, verdade, frontalidade, liberdade... quanto não poderiamos todos ganhar se integrassem o nosso dia a dia?

Com elas o Ralfh Finnes e a Kate Wesley poderiam ter vivido um grande amor e sido felizes para sempre, no « Leitor »...

Com elas a Claudia Vieira e o outro moço francês ( aquele que consegue estragar um elenco de luxo, português , escolhido a dedo, onde entre outros brilham e enchem o ecrã os nossos Pedro Lima e Paulo Pires )poderiam ter sido um casal apaixonado em « Second Life »....

A Rachel e a irmã... poderiam ter sido amigas, cumplices,confidentes... no « Casamento de Rachel »...

Com aquelas palavras simples, poderiam ser evitados muitos equivocos, muitas confusões, muitas mágoas...

Talvez com elas todos e cada um de nós pudesse viver uma outra vida « uma Second Life » com partida dos pressupostos que determinam a vida de cada um, mas com a diferente sequência que lhe seria dada por elas....

Honesty is such a lonely word
Everyone is so untrue

Com elas o Sean Penn ganhou o Oscar dado pela Academia.... e o Rourke o que lhe é dado por mérito por todos quantos apreciam a verdade, a honestidade que o seu wrestler empresta aos ultimos momentos do filme... e... provávelmente, da sua vida...

Com elas, todos e cada um de nós... poderiamos, certamente, ser muito mais felizes...


E talvez o próprio do Mickey ainda tivesse guardado algo do sedutor que, também nos anos 80, nos fez render...


quotidiano

depois de tanta prenda musical, aqui vai a retribuição para a soprónia. que saudades, às vezes, desse quotidiano repititivo dos amores domesticados!

«todo o dia ela faz sempre tudo igual»

Mosca na sopa

As coisas óbvia às vezes demoram o seu tempo a evidenciar-se. Exemplo disso é o facto de apenas hoje de manhã, num lampejo de memória, me ter lembrado desta música tão manifestamente, evidentemente, obviamente linda para ser oferecida à nossa mosca.

Alguns dados sobre a mesma. Chama-se "Mosca na Sopa" e foi um grande êxito nos idos anos 70. O seu cantor e autor é o grande músico, pioneiro do rock and roll brasileiro, Raúl Seixas, conhecido pelo epíteto de "Maluco Beleza". Algumas das suas letras são da autoria do Paulo Coelho, numa altura em que ambos bebiam, fumavam e tomavam umas cenas inspiradoras...
Preso e torturado durante o fascismo brasileiro pela irreverência das suas letras, sempre continuou a rir-se e a lançar lá do alto da sua loucura as maiores verdades, fantasiadas de brincadeira. Nas palavras do próprio: "Sou tão bom actor, que finjo ser compositor e cantor, e todo mundo acredita."
Procurem outros grandes sucessos como "Sociedade Alternativa", "Há Dez Mil Anos Atrás", "Metamorfose Ambulante", "Avé Maria da Rua".
O vídeo tem como mais valia os desenhos do Angeli.
Divirtam-se!




Não resito e deixo outro vídeo, agora com imagens do Raúl e Paulo Coelho em Nova Yorque nos loucos 70:


quarta-feira, 4 de março de 2009

a captura


pronto! após insistências várias do nosso amigo s., e ao som da música feliz da soprónia, o leão foi capturado, devidamente enjaulado e uma brigada alegre prepara-se já para o seu abate por ataque de raiva pouco coadunável com o circo da vida! srs. e sras. retomem os vossos lugares na plateia. the show must go on!entrem os trapezistas!

Mosca de coração feliz

Querida mosca: A tristeza por vezes abate-se sobre nós sem que nos possamos defender. Será dos dias cinzentos? Desta tosse que não nos larga? Dos pontos finais e das reticências das nossas vidas?
Mas seguro é que a felicidade volta sempre. E os dias alegres são como o Verão - mesmo quando não é grande coisa sabe sempre bem.
Mando-te um antídoto. Uma música de um cantor italiano que conheci recentemente - assim como que um Sérgio Godinho transalpino, mas com outro charme... Recomendo também um gelatto a limone. Para consumir sem moderação.
Estas músicas levam-me de imediato para Capri, de bermudas e óculos de sol brancos, olhando as águas azuis do Mediterrâneo e um belo torso moreno a passar numa Vespa amarela .
Espero que tenham sobre ti o mesmo efeito benéfico.

a mosca da mosca

esta dor tão mansa quase vegetal hoje evadiu-se do circo do peito em forma de leão desorientado a rugir!

Vital Sassoon

A pena que eu tenho de não ter acompanhado com a merecida atenção o congresso do PS...O apagão, a sala vazia, o Almeida Santos a chamar delegados ao palco que nunca apareceram são verdadeiras pérolas que, vistas em directo do conforto do sofá, me teriam divertido quase tanto como o inigualável congresso do PCP. Assim requentadas já não têm a devida graça...mas o Vital Moreira tem!

Corria o mês de Janeiro de 2009. Aproximavam-se as eleições legislativas. Sócrates andava em círculos no seu gabinete. Dava passadas rápidas e nervosas. A m...do Freeport. Sempre a atormentá-lo aquele centro comercial piroso no meio do nada...E os magistrados. Como é que os gajos sem meios e sem nada lá continuavam a investigar? Pareciam ratos. Sempre atrás do queijo por mais fundo que fosse o buraco onde estava escondido. O mal era as off-shores já não serem o que eram. Bem...e o tio também podia ter estado calado...Aquela entrevista ao Sol tinha sido um " disparate pegado". A verdade é que até tinha pesadelos com aquela magistrada, a das FP25, sonhava que o algemava enquanto dormia e...mas, adiante...

Os verdadeiros amigos, contudo, comoviam-no. Aqueles que acreditavam que passara a inglês técnico, que o Magalhães era português (contruído por uma pequena empresa nacional), que aquelas casas terríveis tinham sido projectadas por si (a vergonha que tinha daquelas construções medonhas era quase insuportável...quase) e, sobretudo, que não tinha nada a ver com o Freeport. Uma lágrima deslizava-lhe, lentamente, pela face. Recordava Chavez e...Vital Moreira.

Ao Chavez já dera o Magalhães (a propósito, tinha de o convidar para o congresso senão o gajo ía ficar chateado...). Precisava agora de compensar Vital Moreira pelos bons serviços prestados à pátria lusa no blog "Causa Nossa".

Ninguém o defendia como Vital Moreira. Lembrou-se de Pedro Silva Pereira a ser entrevistado por Mário Crespo e teve um arrepio. Por momentos, vira a coisa mal parada...não, com o Mário não voltava a brincar. Bom,...e com o Pedro também não. O Vital é que era.

Ainda comovido, abriu o blog "Causa Nossa" no seu Magalhães (o único distribuído e não retirado após filmagem da imprensa) e leu, encantado:

«Manuel Pedro, associado da Smith & Pedro, em comunicado enviado à Lusa, afirma que nunca procedeu a «pagamentos ilícitos» e que a única vez que se encontrou com Sócrates foi no Ministério do Ambiente numa reunião pedida pela autarquia de Alcochete.»
Ficam assim categoricamente desmentidas pelos próprios as suspeitas de reuniões "clandestinas" e de pagamento de "luvas" (o mesmo desmentido já tinha sido feito por Charles Smith). Será que os media que têm intoxicado a opinião pública com manchetes sobre manchetes com as mais mirabolantes revelações sobre o caso vão agora dar o mesmo destaque a esta notícia que as contradiz integralmente, ou vão remetê-la, como é costume, para um lugar secundário, como sucede, em geral, com tudo o que contrarie a opinião preconcebida?!


E mais adiante,

Como se deduz do comunicado da PGR (pontos nº 7) e nº 8), a notícia de que a polícia inglesa teria novos dados para considerar Sócrates "suspeito" -- que faz hoje manchete em alguns jornais -- é mais uma pura invenção na campanha de falsificações lançada contra o primeiro-ministro.
A imprensa, mesmo a de referência, reduziu-se ao indigno papel de megafone da manobra conspirativa com origem na investigação do caso Freeport, sob um óbvio comando oculto.
Uma vergonha!

O Presidente da República perdeu uma excelente ocasião, no seu discurso na sessão inaugural do ano judicial, de denunciar e censurar a inaceitável demora das investigações penais (em prejuízo do bom nome dos suspeitos inocentes), a maciça e impune violação do segredo de justiça e a notória instrumentalização, por forças ocultas, de informações ou pseudo-informações não confirmadas de um inquérito penal para fins de assassínio político do governo em funções.
A jurisdição do PR como supervisor do sistema político não consiste somente em impedir os abusos do governo e da maioria parlamentar, mas também em defender as instituições contra o abuso de funções por parte de poderes não responsáveis democraticamente.
Há silêncios que comprometem ...


Aquela linguagem imbuída de PC, de 25 de Abril, de "hasta siempre, comandante!" deslumbrava-o. Ali estava um homem que usava as expressões "manobra conspirativa" e "forças ocultas" sem medo e que até ousara atacar o PR para o defender! Impunha-se compensá-lo. Foi, então, que se lembrou das Eleições Europeias.

Era isso! O Vital ía ficar todo contente se fosse nomeado para "encabeçar" a lista do PS ("encabeçar", será que isto se podia dizer?!) Podia continuar a escrever os seus maravilhosos textos (o aeroporto, os aviões e as sessões do parlamento davam-lhe tempo de sobra para escrever) e até publicá-los internacionalmente. Se dissesse por lá algum disparate também não fazia mal. Na verdade, estava-se tudo a borrifar para o parlamento europeu.

Se bem o pensou, melhor o fez. De madeixas grisalhas retocadas por profissionais e de gravata azul-cueca, em pleno congresso, Sócrates anunciou a decisão do PS de convidar Vital Moreira para "encabeçar" a lista das eleições europeias.

Como nos relata a TSF (essa grande rádio que inventou aquele programa fantástico e educativo em que o povo telefona a dizer a sua opinião, normalmente aos gritos e repetindo incessantemente as expressões "É uma vergonha!Isto é uma vergonha!") "O professor de Direito assumiu-se como um «socialista freelance» e mostrou-se «feliz» com a «inesperada surpresa» de ser escolhido por José Sócrates.

Ficam algumas questões. Por ex., o que será um "socialista freelance"? O equivalente a um "católico não praticante"? Um socialista indeciso? Em queda livre? De Domingo?

Uma "inesperada surpresa" será o oposto de uma "esperada surpresa"? Uma "esperada surpresa" continuará a ser uma surpresa?

E sobretudo, a magna questão: Onde terá Vital Moreira feito aquela "mise" ondulante, digna de anúncio ao champô Vital Sassoon??

terça-feira, 3 de março de 2009

Spanking

Defesa: o filme ganhou um conceituado Festival de Cinema.

Defesa: o Masoch era um grande artista.

segunda-feira, 2 de março de 2009

grito de alerta de uma mosca preocupada



amigas, desculpem o ar de táctica de guerra que rege este post, mas a situação é preocupante e há que estar atenta nestes dias. diria mesmo MUITO atenta!
indo sem mais rodeios à vaca fria, o que quero é aqui deixar-vos um poema-arma. nunca se sabe quando do mesmo iremos precisar.
reza assim, o dito:
«Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
*
Sou um vestíbulo do impossível
um lápis de armazenado espanto
e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
*
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
*
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque do sono
que vos roubei.
*
Senhores professores
que pusestes a prémio
minha rara edição de raptar-me em crianças
que salvo do incêndio da vossa lição.
*
Senhores tiranos
que do baralho de em pó volverdes
sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
*
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
*
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
*
Senhores juízes
que não molhais a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
*
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
*
Sou uma impudência
a mesa posta de um verso
onde o possa escrever.
*
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.»

este poema, intitulado a «defesa do poeta» ( adaptável a defesa de bloguer) e publicado na obra “A mosca iluminada”, foi composto pela Natália Correia para ser lido nas suas alegações de arguida no Tribunal Plenário da Boa Hora, de má memória, na sequência da pulicação da antologia de poesia erótica, acabando, todavia, por não o usar a pedido do advogado que, sensatamente, a advertiu de que a leitura poderia ter efeitos nefastos.
os tempos são outros, contudo, e ninguém se aborreceria com um poema-arma numa sala de audiências.
já vos estou a ver a franzir o sobrolho e a pensar «agora foi de vez, a mosca intoxicou-se com a merda que sobrevoa por imposição da sua condição de insecto e avariou ». não me julguem, peço-vos, de forma precipitada e dêem-me, por uma vez na vida deste blogue, alguns créditos de atenção.
vejamos em conjunto os factos com a racionalidade e frieza que os mesmos merecem!
resumo de seguida, analítica e friamente (violando a minha essência), alguns acontecimentos dispersos mas que, uma vez conjugados, podem dar azo a preocupações maiores:
I.tudo começou com a política saudável anti-tabágica do engenheiro, tão empedernido nos seus
propósitos, que, por inépcia e ligeireza, atenuava comparativamente a sanção para o consumo de charros em locais públicos dando eco involuntário (para gaúdio de muitas moscas) aos argumentos medicinais a favor da legalização da cannabis sativa;
II.uns tempos depois alguém do partido teve a ideia de proibir piercings em zonas pudengas porque alegadamente nefastos para a saúde individual e, por conseguinte - sendo esta última entendida pelos governantes como o simples somatório numérico da primeira - lesivos do bem social maior da saúde pública. ante a estupefacção e indignação generalizadas desistiu o governo do projecto – da autoria, por certo, de alguém que, iniciado na arte do kinky, se terá ferido num objecto metálico durante uma cópula arriscada ;
III. a ASAE foi, entretanto, investida de uma visibilidade fora do comum no controlo sanitário da nossas vidinhas, começando a sua grande campanha de higienização fiscalizando, de uma assentada só, tudo o que era restaurante chinês, certamente guiada pela ideia comprovada de que os da terra do sol nascente comem tudo o que mexe, o que só pode ser uma prática indigesta;
IV.numa aliança moral inédita, fortalecida pela xenofobia , tempos depois, pretenderam a dita ASAE e a PSP «devolver o martim moniz às pessoas de bem» invadindo tudo o que era estaminé comercial explorado por não tugas;
V. acabou-se pressurosamente, e num ápice que nem deu espaço para qualquer reacção,com as ginginhas em copos de vidro, com as bolas de berlim na praia, e, temia-se, até, nos meios mais dados às patuscadas, a interdição do petisco nacional de verão: os caracóis. hábito alimentar primitivo e socialmente discriminatório das pobres lesmas consabidamente homeless;
VI.veio mais tarde o engenheiro a publicitar, como magna medida para a promoção da saúde do povo, a sua política do pãozinho sem sal (certamente ciente de que a cabala de tróia movida contra si a pretexto de freeports e outros empreendimentos urbanísticos originava uma hipertensão galopante no eleitorado);
VII.andava a malta aficionada dos petiscos numa lufa-lufa sem precedentes a açambarcar as especiarias, os enchidos, o café e a vinhaça, constituindo reservas para os tempos de crise que se avizinhavam, quando foi surpreendida na curva pela notícia da apreensão pela PSP de Braga de uns livros em saldo contendo na capa a “origem do mundo” de Gustave Coubert. este, apesar de socialista e republicano histórico, camarada de Proudhon e de outros figurões da comuna de paris, ao que parece, não granjeará– excepto junto do bardo alegre - de grandes simpatias no governo socialista/versão higiénica que rege a patriazinha lusa .
o último episódio relatado – cereja no topo do bolo de massa integral de um pasteleiro diabólico com nome de filósofo - aconteceu, sublinho - porque coincidência não desprezível - nessa braga católica , onde, já na década de setenta do século passado, o Luiz Pacheco fizera passear o libertino e o seu esplendor o qual se entretinha literalmente a sugar membros a belos mancebos (para evitar - imbuída do espírito- o uso de vernáculo). foi nessa mesma cidade que uns srs. PSP´s se indignaram com uma pintura de um nú revelando um púbis farfalhudo e umas generosas pernas abertas.
até seria motivo para rir se não me tivesse constado – por vias de insecto que omito revelar - que nos meios diplomáticos – por pressão do MAI- se discute até a pertinência de uma pequena manobra de incentivo judicial à expedição de uma rogatória para apreensão do original do musée D´Orsay com vista à realização de futura peritagem.
aguardemos, pois, por novas enquanto encomendamos as burkas para a primavera-verão de 2009. entretanto eu, e por mera precaução, escondi de baixo da mesa de jantar a minha antologia de poesia erótica e satírica da natália, a poesia erótica do bocage, os livros do sade e do henry miller. hesito ainda nos livros do d.h. lawrence, do oscar wilde e nas «cartas às minhas amiguinhas» do lewis caroll, bem como em retirar ou não da parede do meu quarto o quadrito de uma ninfeta do joão cutileiro (a moça está de pé, não exibindo despudoradamente a boca do corpo , também conhecida pelo soft name de madre, e tem os pelos púbicos aparados. acho que passa!).
entretanto, amigas, ouçam esta pobre e céptica mosca, não assumam uma posição passiva e imprevidente na espera das novas investidas desta política de costumes: actualizem lestas o jargão de salão e imprimam o poemita da avó Natália. decorem-no ao espelho da casa-de-banho treinando o ar mais indignado e altivo que consigam encontrar na panóplia de gestos aprendidos ao longo da vossa vida de filhas da madrugada. é que o nosso blogue- pela contabilidade aligeirada que fiz- contém referências e observações várias nem sempre coadunáveis com o espírito moralizante e higiénico do dia!
em guarda e alerta, portanto, camaradas no despudor, que os tempos não estão para distrações!