Uma rápida referência a um outro blog de uma moça que tem um sentido de humor parecido com o da nossa Missangas.
Passo por lá de vez em quando e dou pelo menos um sorriso.
Se calhar já conhecem... caso contrário aqui fica o link:
http://controversamaresia.blogs.sapo.pt/
sábado, 29 de novembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
MUMBAI
Foi há poucos meses que descobri que Mumbai era Bombaim, uma cidade na longínqua e, para mim, desconhecida Índia. Guardei o nome na minha fraca memória. Lá ficou numa gaveta do meu cérebro para uma qualquer eventualidade. É importante saber onde ficam os sítios. É uma questão de respeito pelos outros povos. Na altura, não era mais do que isso.
No Domingo, a ida do F para Mumbai também não era mais do que uma normal viagem de negócios. Lá ia, mais uma vez, o meu marido para a Índia e, com certeza, regressaria com novas histórias e peripécias que me contaria animado. No dia seguinte, disse-me ao telefone que estava hospedado no hotel Taj Mahal. Decorei o nome por razões óbvias e continuei, descansadamente, a minha vidinha. Que importância tinha que fosse aquele hotel ou outro qualquer? Se era luxuoso ainda bem. A comida seria boa, a água potável e a probabilidade de apanhar maleitas seria menor. Estava tudo bem.
Era chato ter que fazer aquele voo interno na terça-feira para Bangalore. Voos domésticos na Índia...Seria seguro? Imaginava uns velhos aviões, comprados em terceira mão e recauchutados, a voarem por milagre de algum santo híndu...
Era manhã em Lisboa e o F chegara bem a Bangalore. Os santos híndus tinham funcionado! Obviamente, também lá estariam na volta para Mumbai na quarta-feria.
Quarta-feira, 17h em Lisboa, o F telefona. Chegara bem de Bangalore mas não podia ir para o hotel Taj (onde deixara todas as suas coisas). Parece que havia lá um tiroteio. Não demos grande importância ao que estava a acontecer. Com certeza seria um pequeno desacato que as autoridades indianas se apressariam a controlar e o mundinho perfeito dos ocidentais na Índia voltaria a ostentar o seu luxo habitual. A Índia faminta, pobre e violenta retrocederia para as ruas sujas, de onde nunca deveria ter ousado sair, e os europeus continuariam a comtemplá-la do seu aquário perfumado e intocável. Voltariam para os seus países encantados com tão pitoresco local. Comentariam o quão chocados se sentiram com a pobreza que presenciaram, sobretudo com as crianças! Havias de as ver, coitadinhas...
Não foi assim. A Índia partiu mesmo o vidro do aquário e irrompeu violenta, manchando de sangue os salões perfeitos do luxo estrangeiro, numa ira descontrolada.
O F estava, novamente, ao telefone. Estava num carro no meio de Mumbai. Via ruas barricadas, pessoas alvoraçadas, carros de bombeiros, sirenes e o trânsito estava parado. Afinal aquilo era mais sério do que se pensava. Diziam-lhe que havia tiros nas ruas e explosões em várias zonas da cidade. Ía para outro hotel no norte da cidade onde esperava estar a salvo. É lá que está neste momento. O dia amanhece em Mumbai. Espera-se que a ira da Índia já esteja aplacada e a fome de morte saciada, pelo menos, até uma próxima vez, que as haverá, com certeza.
Neste momento agradeço aos santos híndus a viagem a Bangalore do F. Ainda há reféns no Taj e nenhum é o meu marido.
Em Lisboa comovo-me com os amigos verdadeiros, os que telefonam preocupados e os que me visitam e fazem com que este momento difícil se pareça com uma noite entre amigos com uma garrafa de vinho. E há, ainda, a querida Mosca Albertina, que desaustinada, trás o pijama vestido por baixo do casaco e me mostra, sorridente, as calças de riscas coloridas a aparecer por entre os botões do sobretudo...Que bom é conhecer-vos!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Sugestão doce.... para uma noite de cavaqueira...
Aparece na ementa de alguns restaurantes ( ainda este Verão comi uma fatia no « Aqui há peixe » no Carvalhal ) e existe uma casa em Campo de Ourique que é especialista na sua confecção.
Dizem ser « O melhor Bolo de Chocolate do Mundo » e é com esta designação que aparece nas ementas.
Quis partilhar convosco a receita original, mas só a encontrei em inglês, tal qual a vou transcrever.
É DOCE, SUAVE, CROCANTE....
O ideal para adoçar os dias frios de Dezembro, partilhar com aquele homem ( ou mulher ) especial, quebrar a dieta ( no dia semanal de loucura permitida ), celebrar, experimentar... levar para casa da Mosquinha, quiçá....
Entre amores, desamores, ternuras, musicas, pontos de vista... aqui vos deixo uma sugestão culinária, também útil, no Natal que se aproxima.
Concorde (Chocolate Meringue Cake Filled with Chocolate Mousse)
Yield: 6 servings
135g (4.5 oz) icing sugar
90ml (6 tbsp) cocoa powder
5 Egg whites
150g (5 oz) caster sugar
A Few drops vanilla essence
100g (3.5 oz) plain chocolate, cut into small pieces
60 g (2 oz) butter
60g (2 oz) sugar
2 Egg yolks
4 Egg whites
For the Chocolate Meringue:
Preheat the oven to 110 C (225 F). Cover 2 baking sheets with baking parchment. Cut an oval pattern, about 20 cm (8 inches) long and 12.5 cm (5 inches) wide, from a thin piece of cardboard. Use the pattern to trace 2 ovals on 1 baking sheet and 1 oval on the second. Leave one-half of the second baking sheet free for piping strips of meringue.
Sift together the icing sugar and the cocoa powder. Beat the egg whites with a whisk or electric mixer until soft peaks form. Gradually beat in the caster sugar and then continue beating until stiff peaks form and the meringue is glossy and smooth. Fold in the icing sugar, cocoa and vanilla with a metal spoon. Fit a piping bag with the large plain tube and fill with the meringue. Pipe the meringue to fill each traced oval, starting in the centre and working outwards in a spiral. Fit another piping bag with the Medium plain tube and fill with the remaining meringue. Pipe long thin strips on the second baking sheet, leaving about 2.5 cm (1 inch) in between each. Bake for at least 2 hours, until the meringue is crisp and thoroughly dry. Cool overnight and carefully peel off the paper. Trim the ovals to equal sizes.
For the Chocolate Mousse:
Bring 5-7.5 cm (2-3 inches) of water to simmering point in a saucepan. Combine the chocolate, butter and 45 ml (3 tbsp) of the sugar in a heatproof bowl and set it over the simmering water Leave to stand, without stirring, until the chocolate has completely melted. Remove from the heat and stir in the egg yolks with a spoon. Beat the egg whites with a whisk or electric mixer until stiff peaks form. Gradually beat in the remaining sugar and continue beating until stiff peaks form and the meringue is glossy and smooth. Whisk about one-third of the egg whites into the chocolate mixture. Gently fold this into the remaining egg whites with a metal spoon.
To assemble the cake:
Spread a thin layer of mousse over 1 meringue oval with a palette knife. Place a second oval on top and spread it with a thin layer of mousse. Top with the third meringue and spread the top and sides of the cake with the remaining mousse. Carefully cut the meringue strips into 2.5 cm (1 inch) lengths with a serrated knife and use them to decorate the top and sides of the cake. (I piled the meringue rods over the top of the cake) Cover and refrigerate for 2 hours before serving. Sift icing sugar over the top just before serving.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Os meus homens ... do lado B... e os outros....
Todos nós já tivemos pessoas que por uma ou outra razão nos marcaram, pelo papel que em determinado momento representaram na nossa vida, pelo profissionalismo com que desempenharam as funções de determinadas actividades ou serviços a que tivemos de recorrer, pela simpatia, pela cumplicidade, pela generosidade, pela presença, pela diferença....por por uma ou outra razão terem estado connosco no momento certo... nos terem ensinado, escutado, entendido, ajudado...
Foram já muitas as pessoas que marcaram, positivamente, de forma indelével a minha vida ou determinados momentos dela... e curiosamente, muitas dessas pessoas foram homens - ( perdoa-me a franqueza Missanguinhas ).
É para esses homens, a maioria dos quais se calhar nem nunca se apercebeu da importância que teve para mim, que vai hoje o meu elogio público, em jeito de tributo, de reconhecimento, de agradecimento...
Foram vários esses homens que tiveram importância na minha vida ( sem serem aqueles a que chamo do lado A - familiares, amigos, amores ) desde o enfermeiro que, tinha eu seis anos, me levou ao colo para a sala de operações, quando fui operada à garganta, no Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco; ao professor de filosofia, que no Liceu Rainha D. Leonor me incutiu o gosto pela reflexão; ao professor de ginástica que, durante vários anos me cativou pela simpatia, profissionalismo, criatividade; ao dentista que conseguiu depois de anos e anos de terror, transformar as consultas, se não em momentos agradáveis, pelo menos normais e serenos.... todos eles, entre vários outros, tiveram em comum o facto de agirem sempre com serenidade, simplicidade,como se a competência, empenho, dedicação, fossem inatas...
Lembrei-me deles e da importancia que tiveram para mim, quando ontem falava com as minhas queridas companheiras de blogue, do nosso cabeleireiro, que ultimamente, contribui para que, as quatro, nos apresentemos de cabelos mais modernos e alinhados - bom, no meu caso, se calhar mais desalinhados, mas por opção própria.
Também ele passou, recentemente, a integrar a lista dos meus homens do Lado B, daqueles que me entendem, sem ter de me explicar, que estão em sintonia com o quero, sem ter de me esforçar...
Mais um que, com inigualavel simplicidade, é muito bom no que faz, o que já lhe valeu o prémio de melhor cabeleireiro, no Hair Fashion Portugal Awards 2008.
http://www.cabelosonline.com/detnoticias.asp?idnot=118
Passando a publicidade, de que não precisa, aqui fica a sua biografia- chama-se Aurélio Ramos, tem 32 anos e é co-proprietário do Le Salon, na Av. da Liberdade, em Lisboa -.... como simbolo da simplicidade, carisma, irreverência, profissionalismo, que quis elogiar neste post... qualidades que marcam, seguramente a diferença nos tempos que correm e na sociedade em que nos inserimos... ( ou pelo menos tentamos... )
Um adeus... ou o começo de uma identificação
Nós mulheres somos irremediávelmente curiosas e não descansamos enquanto não desvendamos o objecto da nossa curiosidade. Está-nos no sangue, que havemos de fazer?
Por deformaçâo profissional, nós mulheres deste blogue somos, se possível, ainda mais curiosas que as demais. Eu, por exemplo, adoro desafios, enigmas, quebra cabeças... e rendo-me ao prazer que o desvendar da solução ou resultado me proporciona...
Como poderiamos nós, quatro mulheres - ainda por cima uma mosca, cuja faculdade de voar a leva sempre mais além -, inteligentes, empenhadas, astutas... e muito ... muito curiosas... deixar de pôr os neurónios a trabalhar, de encetar diligências, contratar colaboradores vários, para descobrir quem é o moço que, sendo por certo nosso admirador, nos lê, nos comenta... nos presenteia com um poema - e se apresenta de máscara, sob o nick de ZORRO???
As diligências ainda estão em curso, o processo pendente, como tantos outros ( quiçá a aguardar que os elementos recolhidos nos permitam vir a suspendê-lo )... mas, antes que se transforme num número a engrossar as estatisticas, não quero deixar de dar conta de que já apurámos - com a prestimosa ajuda de um homem ( estão a ver como eles são preciosos!?! )- que o poema transcrito pelo nosso referido admirador, por enquanto de identidade desconhecida, é de Bernie Taupin e pertence á canção « Goodbye » gravada em 1971 por ELton John.
Tentámos postar o video, mas entretanto, foi desactivado do YOU TUBE....
Teremos, pois de nos cingir a esta informação...
http://www.youtube.com/watch?v=_pyZPDI54fI
Prometemos voltar, em breve, com o desenrolar do resultado das investigações, que continuam em curso....
domingo, 23 de novembro de 2008
Cromos de glamour para a troca
Companheiras:
Depois de uma postagem saída do meu neurónio mais maternal, ultimamente mais activo, ataco hoje numa vertente mais de glamour. Mando os cromos de umas divas para a troca. Muitas mais existem, mas estas foram aquelas de que hoje me lembrei.
Um clásico. Podia ser também Ingrid Bergman ou Audrey Hepburn. Mas, Catherine Hepburn sempre teve um toque de insolência que me agrada.
A mulher é bela, tem estilo, talento e uma mala Hermés com o seu nome (é o não o cúmulo dos estilo?):
Jane Birkin.
A filha manteve o estilo - Charlote Gainsbourg:
Vanessa Paradis, a mulher que conquistou Jonny Deep. Não "joue le taxi", mas que a miúda tem porte e gosto, ah lá isso tem! Algures entre a menina bem comportada (com um buraquinho entre os dentes da frente e tudo) e a rocker.
Finalmente, Carla Bruni. Eu gosto da miúda, pronto. É gira, veste-se bem (sempre Dior, pois claro) e tem umas músicas que, não sendo o meu género, ouvem-se bem (especialmente agarrada ao gato no sofá). É atrevida: uma primeira dama que gosta de apregoar ter tido os amantes que muito bem lhe apeteceu - "Je suis une enfant; Malgré mes quarante ans; Malgré mes trente amants..." é de aplaudir.
Isto tudo para dizer à Mosca que a gola bonita de que lhe falei é a do vestido cinzento que a moça enverga.
Um próximo dia dedico-me aos homens.
Depois de uma postagem saída do meu neurónio mais maternal, ultimamente mais activo, ataco hoje numa vertente mais de glamour. Mando os cromos de umas divas para a troca. Muitas mais existem, mas estas foram aquelas de que hoje me lembrei.
Um clásico. Podia ser também Ingrid Bergman ou Audrey Hepburn. Mas, Catherine Hepburn sempre teve um toque de insolência que me agrada.
A mulher é bela, tem estilo, talento e uma mala Hermés com o seu nome (é o não o cúmulo dos estilo?):
Jane Birkin.
A filha manteve o estilo - Charlote Gainsbourg:
Vanessa Paradis, a mulher que conquistou Jonny Deep. Não "joue le taxi", mas que a miúda tem porte e gosto, ah lá isso tem! Algures entre a menina bem comportada (com um buraquinho entre os dentes da frente e tudo) e a rocker.
Finalmente, Carla Bruni. Eu gosto da miúda, pronto. É gira, veste-se bem (sempre Dior, pois claro) e tem umas músicas que, não sendo o meu género, ouvem-se bem (especialmente agarrada ao gato no sofá). É atrevida: uma primeira dama que gosta de apregoar ter tido os amantes que muito bem lhe apeteceu - "Je suis une enfant; Malgré mes quarante ans; Malgré mes trente amants..." é de aplaudir.
Isto tudo para dizer à Mosca que a gola bonita de que lhe falei é a do vestido cinzento que a moça enverga.
Um próximo dia dedico-me aos homens.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Como adormecer um homem
Na recente polémica bloguista sobre os homens não meto colher. Gosto deles como gosto delas e a minha orientação sexual estará por definir até morrer, por isso estas reflexões nada querem à luxúria (sempre amiga). Sempre os tive e tenho presentes na minha vida. Às vezes parecem estranhos seres, outras os mais incríveis. Acho que todas concordamos.
O que hoje me surge como um verdadeiramente desafio é o (eventual) talento materno para adormecer um ser cuja testoterona, ainda que em doses infantis, o faz ter uma energia de futebolista sem saber andar, lutador de luta livre com bonecos de peluche, desportista radical de saltos em queda livre ... Quando o puto não quer dormir a coisa torna-se mesmo negra.
As técnicas do adormecimento são variadas e do mais criativo (viva o Tio Leonard Cohen e as redes brasileiras...). Acresce ao grau de dificuldade o nunca se saber bem qual das várias técnicas conhecidas e já experimentadas com sucesso funcionará em cada dia, pois isto das criancinhas é uma ciência muito pouco exacta. Por isso, pai e mãe tentam todas, uma a seguir à outra, sempre naquela expectativa ansiosa: "agora é que vai ser!" Mas não é! O macho manda, contorce-se, atira a chucha a distâncias olímpicas e choooooraaaaaa.
Finalmente, mais tarde do que cedo, há um momento em que o sono parece falar mais forte, o cansaço de resistir instala-se (ou a tortura parental teve efeito...) e o corpo entrega-se. Neste momento perfeito, sentimos o corpo quente do nosso homúnculo, o seu cheiro tão forte e nosso, ao mesmo tempo que ouvimos em fundo a Nina Simone a cantar baixinho, com a sua voz dolente: "My man's gone now".
O que hoje me surge como um verdadeiramente desafio é o (eventual) talento materno para adormecer um ser cuja testoterona, ainda que em doses infantis, o faz ter uma energia de futebolista sem saber andar, lutador de luta livre com bonecos de peluche, desportista radical de saltos em queda livre ... Quando o puto não quer dormir a coisa torna-se mesmo negra.
As técnicas do adormecimento são variadas e do mais criativo (viva o Tio Leonard Cohen e as redes brasileiras...). Acresce ao grau de dificuldade o nunca se saber bem qual das várias técnicas conhecidas e já experimentadas com sucesso funcionará em cada dia, pois isto das criancinhas é uma ciência muito pouco exacta. Por isso, pai e mãe tentam todas, uma a seguir à outra, sempre naquela expectativa ansiosa: "agora é que vai ser!" Mas não é! O macho manda, contorce-se, atira a chucha a distâncias olímpicas e choooooraaaaaa.
Finalmente, mais tarde do que cedo, há um momento em que o sono parece falar mais forte, o cansaço de resistir instala-se (ou a tortura parental teve efeito...) e o corpo entrega-se. Neste momento perfeito, sentimos o corpo quente do nosso homúnculo, o seu cheiro tão forte e nosso, ao mesmo tempo que ouvimos em fundo a Nina Simone a cantar baixinho, com a sua voz dolente: "My man's gone now".
manifesto anti-eugénico
Li para aí na semana passada que os senhores que mandam na Europa, sensibilizados pela crise alimentar, autorizaram o regresso aos mercados dos velhos legumes e frutas não normalizados. Para aqueles que adquirem os seus géneros alimentares nas grandes superfícies tal significa que vão voltar a ver , no lugar das maçãs estilizadas, modelo branca-de-neve, e dos legumes standard playmobil, os velhos e nodosos legumes e frutas irregulares a amontoarem-se caótica e desorganizadamente nas formas geométricas e regulares dos contentores de plástico. Adivinho os nervos que isso vai provocar nos adeptos ferranhos das linhas direitas e vidas depuradas quando os pobres dos vegetais rolarem desajeitados para o chão!
Já se ouvem, parece, vozes discordantes que temem que as anomalias leguminosas e frutíferas dos países periféricos invadam o espaço dos civilizados mercados europeus, optando os consumidores - na mira da poupança do vil metal, não por qualquer razão estética ou ética- pelos primeiros.
Congratulo-me com o regresso dos ditos disformes. Aliás, no que me diz respeito, não se trata propriamente de um regresso porque nunca deixei sair os ditos cujos da minha cozinha, e esses produtos perfeitinhos e lustrosos nunca convenceram esta mosca céptica e provinciana que sempre lhes disse «vá de retro satanás», «produtos do demo» e outras expressões do género.
A propósito do regresso ao anormal como algo de aceitável, ou a talhe de foice como se usa dizer no campo, tenho reparado que a malta urbana, na geração dos trinta e tal, anda toda numa lufa-lufa de normalização, procurando, para a tarefa, a ajuda dos benfazejos e afortunados psicoterapeutas na esperança de ingressar, custe o que custar, nos moldes eugénicos e pré-definidos da boa psicologia humana. Estes senhores, diz-se, ajudam a normalizar as mentes algo conturbadas das gentes, diagnosticando-lhes ou despistando, invariavelmente, desvios de personalidade vários, como as bi-polaridades (os antigos maníaco-depresivos), histrionismos, sóciopatias , esquizofrenias, e outras perturbações afins, mais ou menos graves, mais ou menos curáveis, mas sempre indesejáveis. Tenho constatado, com alguma estupefacção, que me rodeio, com alguma recorrência, de amigos e amigas que se incluem no rol dos desviados.Gostaria de saber, afinal, qual é o modelo de humanidade normalizada a que se aspira. Alguma amiga psicóloga voluntariosa me poderá dizer ? Antevejo, neste mundo arquétipo perfeito uma existência de gentes, legumes e frutas irrepreensivelmente plastificados, normalizados, standardizados e, confesso, que não me vejo a habitá-lo.
A propósito das imperfeições e dos seus encantos e virtudes, lembro-me sempre daquelas belezas aborrecidas de tão previsíveis ou dos tapetes persas cuja autenticidade é confirmada através de um defeito propositadamente fabricado... pronto, sim, poderíamos agora falar das crianças que cegam aos 10 anos para fabricar esses belos tapetes, mas agora não, não estou para aí virada.
CONVITE
Caríssimas , lanço-vos um desafio real para escapar à blogosfera e mergulhar nessa vida toda palpitante de que tenho andado afastada. Que tal, segunda, irmos ao teatro ver a SENHORA DE SADE, do Carlos Pimenta, a partir de um texto do Mishima? Celebravamos o regresso de Londres da nossa Missangas e o meu regresso à vida dos seres andantes. Celebramos a Vida, em geral! É certo que mais pareço uma personagem do Crash, algo claudicante e kinky, mas vocês não se importam, pois não, e até dá um certo dinamismo decadente ao grupo de gajas giras que somos. A nossa Missangas trata de arranjar baby sitting, tiramos os vestidos giros dos armários, jantamos num sítio todo giro a condizer com a malta, bebemos um belo vinho, e lá vamos nós para o CCB. Vale?!
Aguardo inscrições e sugestões para o restaurante.
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Teatro/Pages/ASenhoradeSade.aspx
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Belas Prendas....
« Kama Sutra no Local de Trabalho - o guia para o prazer e o deleite no âmbiente profissional - de Julianne Balmain
Passamos a maior parte do tempo no trabalho. Nada mais natural que às vezes pinte um clima com um(a) colega da mesa do lado. Este guia traz todas as dicas de como agir nessas situações e aproveitar ao máximo. »
E esta? O bom do livrinho é apresentado desta forma num site brasileiro.
Ainda não o vi nos escaparates das nossas livrarias, mas fiquei curiosa sobre o que se proporá a senhora explicar-nos.
Claro que por cá, principalmente nas empresas onde trabalhamos, o livro não terá grande útilidade prática - CLARO QUE NÃO! leio nos vossos lábios em unissono -, mas pelo menos se lhe tivermos acesso, ficaremos, por certo, mais esclarecidos e informados, o que sempre constituirá uma vantagem.
Missanguinhas, se o vires à venda aí por terras de Sua Magestade, compra, pelo sim pelo não, alguns exemplares.... just in case.... não aconteça faltar-nos, à última hora, imaginação para algum presente de Natal.... ou ... sei lá....
Bom, na pior das hipóteses, se estiver escrito em inglês, sempre o podemos levar para as aulas do cursinho de « Inglês Técnico » ... para servir de base de trabalho...
MANOS LUIS E PAULO: A VOSSA MÚSICA
1. Como Mosca muito apegada aos valores familiares, desde que verdadeiros, não posso deixar de - com algum mal disfarçado orgulho - vos divulgar o concerto que o meu irmão de coração caçula - Luís Figueiredo - irá dar hoje à noite, no Teatro Aveirense, com o Mário Laginha.
http://www.teatroaveirense.pt/
(Desculpa, Luís, pela escolha, mas não resisto a este Beatriz...lembra-me sempre a minha avó, a filha que não tive e a minha carreira truncada no teatro. Serás tu ou a C. a dar-me uma sobrinha Beatriz? Ou ainda terei energia e amor bastante para trazer ao mundo uma?)
2. Aproveito também para divulgar o concerto do meu cunhadito Paulo Franco ( camarada e namorado lindo da minha mana de sangue e de coração que perdida algures no oceano atlântico vela pela preservação da fauna marinha) no MUSIC BOX, em Lisboa, no próximo dia 28 , pelas 23H30m, onde se espera a colaboração de alguns elementos dos Xutos e dos Dead Combo com os fantásticos e enérgicos Da Punk Sportif http://www.myspace.com/dapunksportif
(Desculpa, Luís, pela escolha, mas não resisto a este Beatriz...lembra-me sempre a minha avó, a filha que não tive e a minha carreira truncada no teatro. Serás tu ou a C. a dar-me uma sobrinha Beatriz? Ou ainda terei energia e amor bastante para trazer ao mundo uma?)
2. Aproveito também para divulgar o concerto do meu cunhadito Paulo Franco ( camarada e namorado lindo da minha mana de sangue e de coração que perdida algures no oceano atlântico vela pela preservação da fauna marinha) no MUSIC BOX, em Lisboa, no próximo dia 28 , pelas 23H30m, onde se espera a colaboração de alguns elementos dos Xutos e dos Dead Combo com os fantásticos e enérgicos Da Punk Sportif http://www.myspace.com/dapunksportif
(AZELHICES DA MOSCA)
Como é que eu poderia não gostar de homens, Belinha, se a minha vida está rodeada deles. E que lindos e talentosos que são. Adoro-vos MIÚDOS!!!!!!!!!!!OBRIGADA POR DAREM BOM SOM E A VOSSA PRESENÇA À NOSSA VIDA.
CONFISSÕES... para eles
Gosto de homens, tenho,entre muitas outras, esta fraqueza...
( descansem, não vos vou falar da minha orientação sexual, nem tão pouco de sexo... acalmem-se, pois, os mais curiosos e os menos ousados )
O que eu vos quero dizer é que gosto de conviver com os elementos do sexo masculino, de conversar com eles, da companhia deles, da sua objectividade... que me descansa o facto de não me observarem com olho clinico tentando descortinar um qualquer ponto negativo ... ou descobrir onde se instalou o último quilo que engordei, a última covinha de celulite... a última injecçao de botox.... onde comprei o último vestido ... ou cortei o cabelo....
Não serei, pois uma mulher comum...
Nunca gostei de conversas só para mulheres, de segredinhos entre mulheres, de programas para mulheres.. de ir á casa de banho acompanhada... de dormir com a melhor amiga...
Gosto de me relacionar com pessoas, pelo afecto ou interesse que me despertam, e não visto cegamente a camisola das mulheres,nem as defendo incondicionalmente....
Prefiro trabalhar com homens....
Recuso-me a encarar os homens como sendo o « sexo oposto »... com a insinuação implicita de confronto que a expressão oposto contém....
Já tenho até dado comigo a pensar que, se, de repente, saísse uma qualquer lei que obrigasse à criação de dois grupos... eu entregaria um requerimento,com cunha e tudo,para que me deixassem juntar ao grupo dos homens ( e não seria pelas razões que estão a pensar )
Não pude, pois, ao ver-vos, queridas amigas, preocupadas em saber onde estão os homens, que não encontraram nas últimas « guerras » que travaram, deixar de escrever estas modestas linhas, não em defesa, de quem dela não precisa, mas em jeito de reflexão.
Quanto a mim, o facto de nos cruzarmos mais fácilmente, em determinadas situações, com mulheres do que com homens não reverte necessáriamente em desabono deles. Em certos casos tem a ver com questões culturais - muitas vezes a presença das mulheres não revela mais empenho, dedicação ou amor, mas sim, o encarnar do dever que a sociedade lhes impõe.
E depois, desculpar-me-ão a discordancia, mas existem também muitos homens presentes, na verdadeira acepção da palavra... que cuidam dos filhos, dos doentes, que vão aos supermercados... que se lembram de nós quando precisamos, que nos ajudam se for necessário...que querem fazer parte das nossas guerras....que estão do nosso lado nelas....
Talvez nem sempre sejam é aqueles que gostariamos que fossem... mas isso já não é uma questão de sexo, poderá ser de afecto ( ou falta dele ), exigencia, desencontro, incapacidade de ver ou aceitar...
Eu, por exemplo, ainda continuo á espera que o tal moço, o Gianiccini, me seja entregue ... e lute depois ao meu lado, com as minhas armas, em todas as minhas guerras....e, enquanto isso, se calhar deixei de ver muitos outros, Ciranos, que sempre estiveram comigo... ou quiseram estar....
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Para os moscardos da nossa Albertina - Parte 1
Queridos moscardos:
Para verem como o sítio onde nascemos tem muita importância no nosso dia a dia. Apreciem a diferença. Beijocas.
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Para verem como o sítio onde nascemos tem muita importância no nosso dia a dia. Apreciem a diferença. Beijocas.
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terça-feira, 18 de novembro de 2008
Cronicas de King's Road (sem acentos...)
O carro para em frente ao portao. Ja e noite e esta muito frio. E uma casa com um pequeno quadrado de relva em frente. Do outro lado da rua so se ve escuridao. E um parque com enormes arvores e temiveis bicharocos, imagino eu...De repente vejo-a, uma raposa passa mesmo a minha frente e esgueira-se para as traseiras da casa. E linda, de olhos brilhantes e porte elegante. Ao mesmo tempo nao consigo deixar de pensar: "tenho de ter cuidado com as janelas". Onde estou eu? No campo? Na selva? Isto e Londres?
Entramos. Esta quente. A decoracao e simples, limpa e moderna. A sala tem uma lareira e muitas janelas. O chao dos quartos e de alcatifa clara e fofa. Estou novamente na cidade. Fecho a porta da rua. Adeus raposas e outras criaturas que nao cheguei a ver mas que, de certeza, andam por ai...
Acordo e olho pela janela. Vejo uma penumbra que nao parece ser dia. Penso que o sol deve estar a nascer. Olho para o relogio. Sao 9h. Afinal e mesmo assim. Este lusco-fusco deprimente o dia todo. Ou melhor ate as 15h 30, hora a que anoitece.
Saio para o vestibulo com a M no carrinho. Esta muito irritada com o gorro e o casacao que tive de lhe vestir. Encontramos a vizinha do lado que se apresenta efusivamente com muitos "lovelys" e "darlings" e muitos elogios ao "beautiful baby". A M olha-a com surpresa. Nao percebe o que a mulher de meia-idade lhe diz, nem o que faz nesta terra. Eu reprimo uma gargalhada e tento manter o dialogo. Falamos do tempo. Diz-me que esta a "litle drizle", penso que deve ser uma chuvinha de nada, despeco-me com um "nice to meet you" estridente, a condizer com ela, e saio, muito afoita, para a rua. Afinal chove mesmo a serio, qual "litle drizle". Isto na nossa terra e chuva mesmo a serio, mas nao tenho opcao. Passar o dia em casa e que nao...
O chao esta coberto de folhas de diferentes tons de castanho e vermelho que brilham, molhadas. A rua e bonita com as suas arvores, relvados e casinhas alinhadas. Nao ha carros a circular e so se veem "mummys" com os seus carrinhos de bebe. Tal como eu, preferem a chuva a estar em casa... Estao (ou antes, estamos) por todo lado. Cabelos desgrenhados pela chuva, empurrando heroicamente os "trolleys" vereda fora. Muitas passeiam em bando e conversam umas com as outras "oh! Last week she had a nasty fever...". Espreito a pequena bebe, loura e enfezadita, da inglesa...A M esta contente. Acha graca aos pingos de chuva no plastico do carrinho. Dou-lhe uma folha vermelha para a mao e a felicidade e total.
Entramos no supermercado. Mais uma vez, as "mummys" estao por todo lado. Algumas levam duas e tres criancas e ainda equilibram o cesto das compras no carrinho. Pergunto-me se serao felizes. Devem ser. Compro o essencial, pois a M nao quer ali estar. Chora, refila e grita muito alto: "mama, mama". Na caixa, uma funcionaria chinesa, que mal fala ingles, chama-me para uma caixa self-service e explica-me que me vai ensinar a fazer o meu proprio pagamento. A caixa e igualzinha as nossas da FNAC e sei perfeitamente como funciona, mas ela esta tao feliz a sentir-se superior enquanto me ensina, que me faco de parva e ainda ponho duvidas, que ela se apressa a responder com um sorriso nos labios. Fica tambem muito satisfeita com o facto de eu levar um saco de casa (ai, nao, com os precos que cobram...)e ser muito ecologica...
A M, entretanto, adormeceu e aproveito para tomar um belo cafe. A minha volta, ja adivinharam, so "mummys". Algumas olham-me com inveja. Os filhos estao acordados e aos gritos. Ha uma que me diz mesmo "Oh!she's so quiet". Se calhar nao sao assim tao felizes estas "mummys" inglesas...
E aqui deixo esta cronica do meu primeiro dia em Londres. Espero que te divirta, Mosca da asa quebrada. Mais uma vez, vais perguntar-te: "Onde estao os homens?" Como tu bem dizes, parece que estao todos na guerra e que nos ficamos todas sozinhas...se calhar estao mesmo, nas guerras deles...a perguntar-se onde estaremos nos!
«Intento ser, à minha maneira, um estóico prático, mas a indiferença como condição de felicidade nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que procuro obstinadamente o sossego do espírito, certo é também que não me libertei nem pretendo libertar-me das paixões. Trato de habituar-me sem excessivo dramatismo à ideia de que o corpo não só é finível, como de certo modo é já, em cada momento, finito. Que importância tem isso, porém, se cada gesto, cada palavra, cada emoção são capazes de negar, também em cada momento, essa finitude? Em verdade, sinto-me vivo, vivíssimo, quando, por uma razão ou por outra, tenho de falar da morte…»
José Saramago, in Cadernos de Saramago
Desculpem a tónica ultimamente recorrente nos velhos e gastos temas da morte, da doença e da paixão. Mas esta minha perna doente e a condição de acamada remetem-me invariavelmente para eles. Apesar da imobilidade também a «parte esquerda do peito explode». Por isso ao ler no blogue do Saramago estas linhas não pude deixar de me identificar . Também eu, como a Soprónia, procuro alguns ensinamentos nas culturas orientais. Para além da prática - agora interrompida - do yoga, agrada-me a cultura de um certo desapego, por forma a evitar o sofrimento das "paixões" ( no seu sentido mais lato de sensações causadas pelos sentidos). Mas esse exercício de desapego vejo-o, no essencial, como um plano de fuga possível sempre que as emoções me devoram a racionalidade.O que realmente me move e comove, porém, são as emoções. Cultivo, pois, conscientemente, a ilusão quotidiana de que importamos e de que cada pequeno gesto tem um qualquer significado oculto na existência . Não me deixo levar pela cultura do karma-Cola que deixa alguns ocidentais à beira de ataques de nervos em plenas aulas de yoga ante a constatação da incapacidade da prática contemplativa numa sala de 20 m2 em pleno Bairro Alto. Pois é, caro mestre Nuno, devagar é uma palavra dificil de encontar no meu dicionário. É que a percepção da eminência da morte dá-me cá umas ganas de viver, de amar, de sentir, de comer, de beber...
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
De mulher para mulher ( Mosca ): Elis Regina/ Essa Mulher
« Essa menina, essa mulher, essa senhora, em quem esbarro a toda a hora nos espelhos... é feita de sombra .. de tanta luz...de tanta lama e tanta cruz...que acha tudo natural »
FLY JUST WANNA HAVE FUN
Queridas co-bloguers, aqui do casulo onde me encontro temporariamente retida lembrei-me de partilhar convosco, neste início de semana, uma daquelas músicas a que recorro sempre que preciso de um pouco de alento para contrariar a modorra. Nesses momentos procuro uma de três mulheres por quem sou apaixonada há anos, donas de umas vozes de uma espessura emocional que só elas : a Billy Holliday; a Elis Regina e a Nina Simone. Há mais mulheres cantantes na minha vida, mas estas são irmãs desta pobre e tola mosca ( ai a ousadia estulta dos enfermos) na intensidade do sentir. Vamos lá a ver se é desta que consigo "postar" o vídeo.
Se quiserem uma trip gráfica recomendada pela amiga Sara V. clickem no link que segue:
domingo, 16 de novembro de 2008
Outras vidas
Não vou à Igreja desde os meus 13 anos.... desde que comecei a entender, a ter sentido critico, a pôr em causa os dogmas... Quero dizer, não vou com regularidade, não sou aquilo a que curiosamente se chama « praticante » - como se o simples facto de se ir à missa uma vez por semana nos transformasse em praticantes ( pessoas que põem em prática ) de qualquer credo ou religião - vou, eventualmente, numa ou outra ocasião, a uma ou outra Igreja, quando o respeito pelos intervenientes, me leva a assistir a um ou outro sacramento...
Também não sinto dentro das Igrejas a serenidade e a paz que muitos dizem sentir, talvez porque não me consigo sentir naquele espaço isolado e com demasiadas figuras - que nos olham com semblantes que variam entre o angustiado e acusador - mais próxima de qualquer entidade superior, chamemos-lhe Deus, se assim o deixarem os credos pelos quais nos regemos....
Isto para dizer que quando pretendo encontrar-me comigo mesma ou equilibrar-me ou sentir-me em paz, não vou à Igreja... a uma qualquer igreja... por estranho que vos possa parecer, vou ao teatro...
Desde que me conheço que gosto de ir ao teatro... o teatro é talvez a minha mais antiga - se esquecermos a que tive aos 10 anos pelo meu colega de carteira, mas dessa não posso hoje falar, sob pena de a Proninha me voltar a dizer que não sei falar de outra coisa se não de amor... e que devo, pois, estar apaixonada- e constante paixão...
Em miuda gostava de me preparar com o meu melhor fato, de chegar à sala, de admirar todos os seus promenores... de ver as pessoas e imaginar a realidade de cada uma... para mim o espectáculo começava antes do pano subir, ali mesmo ao meu lado... Depois perdia-me na realidade que os actores criavam e imaginava o que se passaria por detrás dela, enquanto julgava eu mesma viver realidades diferentes da minha....
As vissicitudes da vida levaram-me a enveredar por caminho diferente da representação, ou melhor pelo menos diferente do teatro, mas como as paixões nunca morrem .. um dia experimentei experimentar outras vidas e, desde então, a antiga e primeira paixão passou a estender-se e a viver-se também atrás do pano...
Desde então, o prazer, que o despojamento total do que sou e sinto me dá, me chama amiude para encarnar outras formas de ser e de sentir, e, raras vezes, consigo resistir ao seu apelo...
É nesses momentos em que deixo de ser eu, de ter o meu rosto, em que me divido em multiplas realidades e me recorto em sentimentos diferentes dos que sinto, que paradoxalmente, me sinto mais eu própria....
sábado, 15 de novembro de 2008
Ioga Degenerativo
Uma das grandes alegrias de estar em licença de maternidade é poder fazer desporto sem sentir grandes pesos na consciência. Afinal, sempre engordei quase 20 quilos e é mesmo uma questão de saúde pública mexer-me. Assim, o gaiato fica devidamente entregue a quem de direito e lá vai a recente mãe de tapete de ioga em punho, pronta a fazer uns asanas e a alinhar os seus chakras...
São 10 da manhã e na sala encontramo-nos sempre os mesmos - avós, reformados, mães recentes, grávidas, professores e jovens estudantes. No fundo, todos aqueles que não têm de estar a trabalhar a meio da manhã. Entra a professora com o seu ar sereno (isso é importante, pois já tive uma professora de ioga que teve uma crise nervosa e, afianço-vos, não é nada bom). Coloca uma música suave e começa a nossa aula.
Oiço a sua voz forçadamente suave: "Coloquem-se em Konasana; o pé direito por dentro para as mulheres e para os homens o pé esquerdo". Questiono o que me aconteceria se trocasse os pés? Se calhar acordava com pêlos no peito e voz grossa... mas com o saber milenar não se brinca e cumpro.
Seguem-se os exercícios respiratórios (pomposamente chamados de pranayama). Como é já Inverno convém não estar muito perto uns dos outros durante os mesmos, pois as secreções nasais tendem a ser mais fluídas e, com contracções respiratórias tão violentas, a voar.
Uns tadasanas, uttanasanas e trikonasanas depois já suo em bica. Mas a mestra guru insiste: "mantenham uma respiração lenta, estritamente nasal, profunda e completa". Tento não arfar e fazer esgares de dores. Questiono-me se os indianos tinham alguma ideia do que estavam a fazer...
O culminar da aula são as posturas invertidas. Quer isto dizer que nos temos de colocar uns valentes minutos de cabeça para baixo... Fará muito bem à circulação e ao intelecto. Ataco decidida uma invertida sobre os ombros (sarvangasana). O rabo custa-me a subir e as costas a endireitar. Insisto; dou um puxão e zás - sinto uma pontada nas costas. Fico sem me conseguir mexer. Penso com raiva naqueles que dizem que o ioga é mesmo bom para as costas...
Saio a custo da posição já na expectativa do momento seguinte - o relaxamento. Após as minhas noites em claro, o difícil é mesmo não adormecer. Ouço as palavras da professora e a grande deixa do Mestre De Rose: "Ouça tudo o que vou dizer, mas aproveite apenas o que lhe convier". As costas doem-me e a custo tento abstrair-me e a concentrar-me na luz azul brilhante, a que a mestra guru se refere, que supostamente envolve e relaxa todo o meu corpo. Mas, na minha mente apenas pairam os seguintes pensamentos: O puto estará bem? O que vamos almoçar? M***a!! Felizmente, acaba o relaxamento.
Volto para casa e, apesar de toda torcida e com dores nas costas, sinto a pairar algures no meu ser uma energia positiva.
Namasté!
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
De Profundis Valsa Lenta: as Mães e as Filhas
Lembro-me que um amigo, há uns tempos atrás, acometido de um impulso positivista de classificação e simplificação, e do alto da sua experiência de grande conquistador, me disse que todas as mulheres se dividiam em duas únicas categorias : as mães e as filhas. Eu que tenho alguma dificuldade em lidar com as afirmações categóricas, retorqui-lhe, sem grandes certezas, que talvez as mulheres, todas as mulheres, ora são mães, ora são filhas, consoante as circunstâncias.
Como sabem, estou internada desde ontem para efectuar uma «artroscopia do joelho direito com menistectomia interna parcial por rotura complexa do corno posterior e termoretracção do LCA por laxidão exagerada» (sic.), e, desde ontem, deixei, por uns tempos, de ser mãe para ser só filha.
Aqui nesta cama de hospital onde me deito volto , pois, por instantes, à minha infância. A mãe sempre aqui ao lado já não conta histórias. Também não me repreende cada vez que, ao contrário das indicações médicas, levanto a cabeça da almofada – ainda tonta da prazentosa anestesia- para procurar o livro na cabeceira. Limita-se a estender-me a mão familiar, serena e meiga, acaricia-me a testa com uma festa toda de pelúcia e olha-me com uns olhos cansados de mãe- já-avó, saturados de doce, como um quente e reconfortante chá de limão que sorvo comprazida. Do outro lado da cama adivinho a presença da minha avó Beatriz, já morta, e sei que também ela me chama de «minha menina« e me agarra a mão para que não tenha pesadelos de noite. Sou, pois, toda filha, toda neta. Aqui nesta cama de hospital onde me deito.
Divido o quarto como a Dona Maria Irene. Personagem quase indescritível. Mulher de setenta e tal anos , com uma voz autoritária e de timbre grave deixado pelo vício dos cigarros. Contou-me, em conversa nocturna e cúmplice de hospital, como a vida a presenteou com quatro filhos – dois rapazes e duas raparigas – que lhe deram vários netos , como lhe roubou o marido de uma vida, há já cerca de três anos. Fala-me das suas preocupações. De como as licenciaturas dos netos já nada garantem, ao contrário do que acontecia no tempo do Salazar. Que as indústrias já não geram riqueza e dos apertos financeiros dos dois filhos empreendedores e empresários. Que a revolução lhe tirou tudo. Que lhe tiraram as terras, e afinal para quê. A revolução – penso - não a espoliou do ar altivo de Senhora Dª Maria Irene que ostenta aparatosa e solene com as auxiliares e as enfermeiras e do qual simpaticamente me poupa na qualidade de companheira de infortúnio.
Divido o quarto como a Dona Maria Irene. Personagem quase indescritível. Mulher de setenta e tal anos , com uma voz autoritária e de timbre grave deixado pelo vício dos cigarros. Contou-me, em conversa nocturna e cúmplice de hospital, como a vida a presenteou com quatro filhos – dois rapazes e duas raparigas – que lhe deram vários netos , como lhe roubou o marido de uma vida, há já cerca de três anos. Fala-me das suas preocupações. De como as licenciaturas dos netos já nada garantem, ao contrário do que acontecia no tempo do Salazar. Que as indústrias já não geram riqueza e dos apertos financeiros dos dois filhos empreendedores e empresários. Que a revolução lhe tirou tudo. Que lhe tiraram as terras, e afinal para quê. A revolução – penso - não a espoliou do ar altivo de Senhora Dª Maria Irene que ostenta aparatosa e solene com as auxiliares e as enfermeiras e do qual simpaticamente me poupa na qualidade de companheira de infortúnio.
A Sr. Dª Maria Irene geme despudoradamente para mim durante esta noite hospitalar. Padece de uma doença barulhenta, cujos pormenores me dispenso de relatar, mas que se alojou algures nas suas entranhas e a impede de defecar há bastante tempo. Reaprende, pois, após a operação, esse humilíssimo acto animal, a Srª Dª Maria Irene. Relata-me, com a intimidade que só a morte, a doença e outras maleitas súbitas consentem, os pormenores anatómicos do acto de defecar. A Sr. Dª Maria Irene sofre e olha nervosa para o relógio de pulso.« A Teresinha e a Filipa já cá deviam estar.» As suas filhas chegam, finalmente, lá pelas 16H00, e a Dª Maria Irene, depois de ter aumentado, tomada de um frenesi súbito, a agitação corporal, o volume das lamentações, após ter exigido que lhe fossem buscar um descafeinado, um sumo de laranja, uma garrafa de água, depois de ter gritado com a Teresinha porque a agarrou com força a mais quando a amparava na peregrinação dolorosa à casa de banho, acabou por adormecer profunda e serenamente na cama hospitalar. As duas filhas, de cerca de 40 e 50 anos, olharam-me silenciosas, com um sorriso aliviado nos lábios, e piscaram-me um olho cúmplice. Uma soergueu o indicador, aflorou com ele os lábios, e, após um «chiuuuuu» maternalmente soprado, sentaram-se simétricas, muito sincronizadas, muito domesticadas, como num bailado absurdo, nas poltronas de linhas direitas e cores neutras do quarto asséptico. Velam o sono da Maria Irene. Tão frágil, tão pequenina, essa Maria Irene que já foi senhora, com “S” maiúsculo, "Dona" e tudo o mais que os tempos pré-revolucionários toleravam.
As mães e as filhas estão sempre onde e quando são precisas.Vejo-as muitas vezes na rua, à porta do Tribunal, cada vez que um filho, um pai ou um irmão é preso. Têm um ar pesado, umas olheiras roxas, como aquelas com que fui presenteada à nascença, como uma maquilhagem permanente. Às vezes choram agarradas umas às outras. Amparam-se, irmãs na dor. Trazem invariavelmente roupas escuras, como as mulheres que nas praias da minha infância esperavam, entre rezas e canções tristes, que os barcos voltassem trazendo os seus homens.
Estão sempre lá as mães e as filhas. Nos hospitais, nos Tribunais, nas Prisões, nas Areias das Praias. São elas que vestem os filhos e os homens que a morte avara e bruta lhes roubou . São elas que, após aspirar os últimos odores deixados pelos homens que amaram, escolhem as roupas que estes, já mortos, hão-de levar para o além. São elas que beijam, para comprazimento fúnebre da plateia de preto, os rostos brancos e frios de mármore daqueles que as deixam víuvas, orfãs, mães sem filhos.
Pergunto-me, pois, aqui, nesta deslocada cama de hospital, com a minha mãe ao lado, a Maria Irene a ressonar e as duas mulheres que a velam, onde se acoitam os homens? Onde estão os homens que não foram presos, os que não partiram nos barcos, os que ainda não morreram? O que fazem com as duas dores, onde, como e com quem as expiam? Que canções entoam e a quem as cantam? Que testas acariciam e que mãos apertam?
Interrompo bruscamente estes pensamentos. O jovem auxiliar de acção médica, envergando a sua bata verde esterilizada, estende-me carinhosa e profissionalmente a arrastadeira. «Parece-me que ainda não urinou depois da operação», diz-me simpático e com um sorriso todo maternal nos lábios.
As mães e as filhas estão sempre onde e quando são precisas.Vejo-as muitas vezes na rua, à porta do Tribunal, cada vez que um filho, um pai ou um irmão é preso. Têm um ar pesado, umas olheiras roxas, como aquelas com que fui presenteada à nascença, como uma maquilhagem permanente. Às vezes choram agarradas umas às outras. Amparam-se, irmãs na dor. Trazem invariavelmente roupas escuras, como as mulheres que nas praias da minha infância esperavam, entre rezas e canções tristes, que os barcos voltassem trazendo os seus homens.
Estão sempre lá as mães e as filhas. Nos hospitais, nos Tribunais, nas Prisões, nas Areias das Praias. São elas que vestem os filhos e os homens que a morte avara e bruta lhes roubou . São elas que, após aspirar os últimos odores deixados pelos homens que amaram, escolhem as roupas que estes, já mortos, hão-de levar para o além. São elas que beijam, para comprazimento fúnebre da plateia de preto, os rostos brancos e frios de mármore daqueles que as deixam víuvas, orfãs, mães sem filhos.
Pergunto-me, pois, aqui, nesta deslocada cama de hospital, com a minha mãe ao lado, a Maria Irene a ressonar e as duas mulheres que a velam, onde se acoitam os homens? Onde estão os homens que não foram presos, os que não partiram nos barcos, os que ainda não morreram? O que fazem com as duas dores, onde, como e com quem as expiam? Que canções entoam e a quem as cantam? Que testas acariciam e que mãos apertam?
Interrompo bruscamente estes pensamentos. O jovem auxiliar de acção médica, envergando a sua bata verde esterilizada, estende-me carinhosa e profissionalmente a arrastadeira. «Parece-me que ainda não urinou depois da operação», diz-me simpático e com um sorriso todo maternal nos lábios.
http://www.youtube.com/watch?v=Noy4M91Xj08
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Afinal havia vários outros....Ainda e sempre o ( Poli )Amor
Imaginem ter um namorado mais culto para ir a peças de teatro e exposições, outro mais divertido para rir e conversar, um terceiro, romântico, para nos acompanhar a restaurantes incríveis, um quarto que acenda a paixão em cada dia... FANTÁSTICO NÃO?E puder manter todas essas relações sem ciumes. Utopia? Não para os poliamoristas. Eles permitem-se mais de um relacionamento amoroso simultâneo, não vêem o sexo como a base de uma relação, seguem o impulso natural do ser humano de se relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo e - juram - não sentem ciúme.
Enquanto conceito o poliamor até me parece interessante. Quem não gostaria de, idealmente, ter tantos homens ( ou mulheres )quantas as necessidades especificas ou os gostos que quer ver satisfeitos? Mas será que ao relacionamento com tantas pessoas diferentes em busca de ideais objectivos se pode chamar AMOR? Não estaremos antes a falar, apenas, de polirelacionamentos?
O Amor não terá mais a ver com a magia do inexplicável do que com a racionalidade da procura objectivável?
Será que o Amor já não é tal como o poeta descreveu,« Fogo que arde sem se ver .. tão contrário a si »? Estarão a mudar-se os tempos, as vontades... e as formas de sentir?
Ou será que o Amor tal como o intuimos, aprendemos e quisemos sentir tem os dias contados, por não passar de mera ficção ou... predisposição?
Responda quem souber... ou quiser...
Eu, na minha simplicidade, quer-me é parecer que se encontrar um homem interessante já é obra... encontrar quatro ou cinco ao mesmo tempo parece-me missão impossivel...ou talvez não... pensando bem se não colocarmos as expectativas todas num... não precisamos de um homem interessante, mas de cinco relativamente interessantes... o que afinal de contas é bem mais fácil de encontrar...
Brindemos, pois, ao poliamor!
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Para a Mosca Albertina
I'm Your Man
If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man
If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man
Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your sheet
I'd say please, please
I'm your man
And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man
If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
Leonard Cohen
If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man
If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man
Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your sheet
I'd say please, please
I'm your man
And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man
If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
Leonard Cohen
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
my funny valentine e a caixa com fita de seda
Removo este post, deixando a canção. Há coisas que se guardam em caixas de cartão, para animar com um sorriso condescendente a velhice. Todas as cartas de amor são ridículas, como dizia o poeta. É melhor deixar o ridículo na esfera de intimidade: lição aprendida por uma mosca impulsiva.
Visões
Hoje cheguei a casa determinada a escrever um post polémico.
Ele há dias assim... saí do trabalho com ela fisgada e a dizer para o meu fecho eclaire - Maria Belinha, já que não foste jantar sushi, arrasa- doa a quem doer ( quem lhe doer o dente que vá aos dentistas )-, diz tudo o que te vai na alma.
Depois perante a máquina, os temas foram surgindo como luzes de neon perante os meus olhos, já cansados pelas milhentas páginas que tive de ler durante o dia...
Pensei falar sobre as razões pelas quais a vitória do Obama não me fez sentir absolutamente nada....
sobre as razões pelas quais priveligio mais os sentimentos do que os ideais politicos ou sociais...
porque valorizo mais o Individuo do que o Homem social...
sobre as razões pelas quais abomino a Igreja...os fundamentalismos e os cinismos...os institucionais .. e os outros....
porque continuo a acreditar na verdade, na honestidade, na amizade, no amor...
... e na frontalidade...
porque ainda gosto de me entregar, de ajudar, de ser útil, de pensar nos outros nas minhas determinações...
porque continuo a preocupar-me mais em ajudar um colega ou um amigo, cuja resolução do problema esteja ao meu alcance... do que com os pobrezinhos de um qualquer longinquo país cujo nome acabe em ão....
porque prezo actos grandiosos de abnegação e abomino a caridadezinha...
porque priveligio as obras feitas em vez dos ideais...
porque perfiro realizar no anonimato... do que declarar a alta voz....
porque não entendo silêncios, resignações, fraquezas....
... e dependências... sobretudo as emocionais...
porque ainda acredito que o móbil da relação homem/mulher pode ser o AMOR...
porque acho que todos os problemas individuais e Mundiais se resolveriam com menos ciência, menos cultura e mais... muito mais AMOR...
porque julgo que o egoísmo e a falta de respeito são os maiores entraves ao desenvolvimento do SER HUMANO...
Estava eu a pensar qual dos temas desenvolver, quando no telemóvel soou uma nova mensagem:
« Já está á venda o cofret de Natal La Mer, reserve já o seu apenas por 1.200€, se for uma das 30 primeiras a fazer a reserva ainda terá um desconto de 10€ na compra de um segundo cofret ».
Regozigei! Estava aberta uma nova porta para a FELICIDADE! Tentei em vão responder de imediato! Bolas ( pensei escrever a palavra começada por M ontem inaugurada pela Missangas, mas não tive coragem ) não tenho saldo no telemóvel! E agora? Lá vou ter de deixar o tema polémico para outro dia e ir num instantinho carregar o « bicho ».
COM SORTE, TALVEZ AINDA CHEGUE A TEMPO!! Talvez ainda a consiga apanhar ( Tu conseguiste Ega ?) ...
Ah, já me esquecia... mas não quero ir sem sossegar todos quantos me ligaram a perguntar se me apaixonei, se na Gomes Freire e tal, era história minha... tenham calma amigos, como diz a canção « essa história não é minha »....
... mas à cautela, já comprei uns óculos graduados... para ver a Gomes Freire, os homens... e o Mundo...
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Conselho
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Fernando Pessoa
ERA UMA VEZ UMA MOSCA NA AMÉRICA
«Que epicamente celebrada bacia não era essa América de então!
God´s own country!
Nomeada só com as letras iniciais dos seus pre-nomes:
USA
Como o nosso amigo de juventude, de todos conhecido, inconfundível!
Essa bacia insgotável-dizia-se-
Recebia tudo o que lhe caísse dentro, e transformava-o
Em duas vezes duas semanas até à cognoscibilidade!
Todas as raças desembarcadas neste voluptuoso Continente,
Renunciavam com o maior zelo, esquecendo as suas características mais arraigadas
Como maus hábitos,
Para velocissimamente se fazerem como os tão presentes por cá!»
Bertolt Brecht, «Poemas e Canções»
Aproveito o entusiasmo fresco da vitória de Obama para falar da América, da muito nossa América. Sim, a mosca tem, de quando a quando, estes ataques de sentimentalismo, pelo que não estranhem este pró-americanismo súbito. Todos temos as nossa fraquezas, e o direito a verter uma lágrima comovida ante "um instantinho de beleza" e um " gafanhoto chamado surpresa", citando o nosso amado patrono bloguista. Sentimento é o que não falta quando se fala da América, daquela, da do Norte, a da bandeira vermelha, branca e azul, a das estrelinhas. God Save America! Essa mesma, a dos indios e dos cowboys, das estrelas bruxuleantes de hollywood, da coca-cola, dos macdonals e quejandos, a dos homens de ombros largos e queixos salientes a fumar Malboro a ocuparem sozinhos os passeios, aquela dos bares de estrada de bancos corridos, onde se servem donuts e odorosos cafés extra-large a evolarem-se das mugs, essas cafetarias (tem um nome próprio de que não me lembro) com amplas vistas para desertos onde bolas de cactos secos rolam eterna e cinematograficamente pelo asfalto das estradas onde fogem as Telmas e as Louises deste mundo... falo dessa América onde nunca fui, e , que por isso mesmo, nunca perdi.
Dessa América que, adolescente, me comprazia a desdenhar, como símbolo de um liberalismo e de um puritanismo que, do alto da arrogância e da estreiteza de vistas de mosca esquerdófila, julgava constituirem a nata dos pecados capitais. Escondia, então, culpada - e por falar em natas me confesso- o deleite imenso que era saborear aquele batido cremoso de baunilha do Macdonals, entrando à socapa no temível antro capitalista do palhaço Ronald nas horas mortas e clandestinas dos shoppings centers.
Falo dessa América tão mais profunda que mais tarde me foi revelada por Faulkner, pela Flannery O´Connor, pela Carson Mccullers. Da América citadina do Paul Auster, do Michael Cunningham, da América da cidade cosmolopita de Nova York e do seu bardo Woody Allen (Na fase aúrea e pré incestuosa. Não adivinhem qualquer censura puritana na referência lateral, mas acho que comer a filha adoptiva chinesa exigiu tanta energia que acabou por lhe consumir a criatividade que pereceu, coitada, no exílio londrino.).
Quero falar dessa América "bacia" que recolheu, em tempos, com as suas generosas e amplas pernas abertas, os naúfragos, expatriados e refugos dos países, terras e lugares mais recônditos e os metarmofoseou, por artes de engenharia duma máquina modernista do Whitman- sempre a fazer fumo e barulhos mecânicos indescritíveis- nos afro-americanos, nos hispano-americanos, nos sino-americanos, nos sei-lá-que-mais Americanos. Esses, esses gajos as mais das vezes oversized, obesos mórbidos, amarelos, pretos, vermelhos, brancos sanguíneos, assentes em snikers Nike, tamanho quarenta e muitos, com os seus caps dos New York Yankers enfiados na tola, uma mão a segurar nos pacotes XXL de pipocas , ou no pacote XXL de ice cream, e na outra a tal bandeirinha, a das estrelas, e riscas vermelhas, azuis e brancas.
Essa América que sintetiza, tanbém por artes de engenharia mecânico-orgânica, como mais nenhum outro país, o que de melhor e de pior tem a humanidade. E que por issso mesmo me atrevo, também - eu que nunca lá fui- a chamar de minha, de nossa América.
Essa América- a mesma que criou Guantanamo, feriu de morte Hiroshima, gerou o Ku Klux Klan, instigou a baía dos porcos - pariu hoje, generosa, uma vez mais, o velho sonho americano, fazendo de um negro, de origens quénio-havainas humildes, o primeiro presidente negro da América. O primeiro presidente negro da humanidade! Parabéns, pois, sua puta amada, velha e doida!
Perdoem-me, pois, o grito rejubilante e incontido, e que segue no tom mais afinado que a minha falta de patriotismo congénito permite:
God Save Obama!
God Save Us From America!
God Save Us From Ourselves!
(pequena nota de roda-pé incaracterística:espero que o gajo não me deixe ficar mal, porque afiancei ao meu moscardo mais velho, com um tom solene de mãe a dizer coisas sérias para a posteridade e uma lágrima tremelicante e teatral no canto do olho, que o dia de hoje era um dia histórico, e que talvez estivessemos a assistir ao início de uma nova ordem mundial! A verdade é que também lhe disse que os Buraca Som Sistema eram um produto da força nascente dos subúrbios, o que soube, há pouco, pela boca de um amigo mais esclarecido, não ser verdade. Não seja, pois, em prol da minha credibilidade materna, o nosso menino, um "Barack Som Sistema", roubando a frase ao estupor do velho sábio chinês.)
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Realidades inventadas... ou talvez não
Parou o carro e acendeu um cigarro distraídamente à porta da empresa onde haviam combinado encontrar-se.
Ultimamente, sem saber muito bem explicar a razão, o cigarro fazia-lhe companhia mais vezes do que desejava... como se a ajudasse a pensar, a definir ideias, se a acompanhasse nas dúvidas, nas incertezas, nas situações inesperadas com que se deparava e para as quais não tinha a habitual resposta pronta e indubitável...
Enquanto esperava a noite começou a cair, subitamente, ocultando também a clareza das imagens que antes ainda apareciam nitidas na rua que tinha perante si...
Foi então que, pelo vidro, embaciado pelo fumo, surgiu aquele que a arrebatou ao cigarro, às ideias, às indecisões....
Por entre o vidro, o fumo, a penumbra, conseguiu delineá-lo... dar-lhe forma...imaginá-lo mais perto da perfeição do que os comuns trabalhadores do mesmo oficio....
- Desculpa se me atrasei... sempre vamos ao cinema? -a voz familiar trouxe-a à realidade...
- Claro, como haviamos combinado.- Temos colega novo?
- Hum? Temos amor novo?
Quis mais uma vez perder-se em algo que a afastasse das suas próprias ideias e cogitações....
Por momentos, em plena Gomes Freire, voltou a acreditar no amor à primeira vista... e a achar que a vida era tal como a vira descrita, nos anos 70, pela Odete de Saint Maurice...
O ser humano tem muitas defesas ocultas... e grande capacidade para sonhar... ou talvez devesse apenas começar a aceitar que a idade não perdoa e a vista já a começa a atraiçoar... Talvez uns oculos, devidamente graduados, tivessem conseguido por cobro àquele amor que por momentos, julgou ver anunciado...
Depois, durante a noite houve imagens de Desejos Brutais e Histórias Reais onde os desejos - brutais - também se misturaram...
De regresso a casa a chuva caía....
Acordou, já a noite ia longa, deitada no sofá... Arrependeu-se de não ter aceite o convite da Missangas para ir ao cinema... talvez tivesse arranjado um assunto capaz para escrever um post no blog.. talvez....no cinema.. ao jantar... ou depois dele....talvez....
Quem sabe... amanhã...
Ainda a Anita mas não só...
O livro da Anita de que eu mais gostava era Anita Vai às Compras (acho que não venci o estereótipo Soprónia!!! Nem este, nem outros...mas isso agora também não vem ao caso, adiante).
Não sei se se lembram, ela e o irmão iam a um grande armazém (cá não havia nenhum assim) onde havia de tudo e ambos compravam desalmadamente, sem olhar a despesas. Mas, por mais estranho que vos possa parecer não era isso que me impressionava. O que me fascinava era que, na loja, a Anita e o irmão ouviam discos com auscultadores! Aquilo, para mim, era o cúmulo da modernidade...Chegar, pôr os auscultadores e escolher a música! Lembrem-se, estávamos nos anos 70 e, quando muito, os miúdos tinham um gira-discos de agulha. Aos meus olhos de criança aquilo era o futuro! Mas, trinta anos volvidos, constanto que estava enganada. Hoje em dia os auscultadores nas lojas não passam de uma banalidade. Os miúdos já nem lhes pegam, basta ir à Fnac para os ver, sempre ali abandonados na secção de criança, tristemente pendurados...Não, queridas amigas, nunca o adivinhariamos, mas o futuro era o Magalhães!!!
Já estou a ver a nova série da Anita do séc. XXI, patrocinada pelo Sr. Primeiro-Ministro, com edição simultânea em português e espanhol, (para exportar para a Venezuela, claro!!) e 2ª edição em filandês (poderá ser editada noutras línguas mas nunca em inglês. O Sr. Primeiro-Ministro não quer. Não pode ouvir falar em inglês, fica com os nervos em franja.)
Mas como estava a dizer, a nova colecção chamar-se-á Anita e o Magalhães, claro. Nessa série de aventuras, Sócrates fará uma visita à escola da Anita onde lhe entrega o dito cujo e ambos aparecem sorridentes no desenho da página seguinte. No livro 2, por alguma razão obscura, Anita leva o Magalhães para a aula de natação (o título será Anita,o Magalhães e a Aula de Natação) e, acidentalmente (sim, que a Anita nunca o faria de propósito!) deixa o computador cair na piscina (onde, por coincidência, na altura não está ninguém a nadar pois, nos livros da Anita não há electrocussões)e o bicho continua intacto.
No livro seguinte é Sábado e Anita leva o Magalhães para o Jardim Zoológico. A certa altura, num momento de distracção em que Anita se lambusa com um algodão doce, um macaco mais maroto saca-lhe o computador e leva-o para a jaula da macacada. Aí, a confusão é geral e o pobre Magalhães é atirado de macaco para macaco e coberto de merda (já tínhamos esta palavra no blogue?) de macaco mas, ainda assim, sobrevive. Há, então, o derradeiro episódio em que o escritor contratado pelo Governo se passa, revolta-se contra este disparate e escreve o seguinte argumento: Anita vai de férias para a quinta dos avós(o título do livro 4 é: adivinhões... Anita e o Magalhães na Quinta dos Avós da Primeira). Nessas férias, numa manhã, sabe-se lá porquê, Anita leva o Magalhães consigo para o curral onde se vai encontrar com o moço de estrebaria com quem tem um caso. Enquanto se beijam apaixonadamente e rebolam na palha, esquecidos do Magalhães, um burro temperamental que não gostou da agitação, assenta um valente coice no portátil que, finalmente, se esfrangalha em mil pedaços para deleite do autor e dos leitores....Por distracção do governo, ocupado com outras grandes questões do país, este episódio é publicado e exportado para a Venezuela. É assim que, só após um telefonema de um Hugo Chavez deveras admirado com o desfecho do enredo (nunca duvidara da indestrutibilidade do Magalhães), Sócrates toma conhecimento das liberdades do autor que contratara e que, afinal, mordia a mão que lhe dera de comer. Dois dias depois, o nosso herói autor recebe uma carta com o seguinte teor: "Prezado Senhor, É com pesar e tristeza que lhe comunicamos que devido aos custos inesperados com a nacionalização do BPN nos vemos obrigados a cessar o alto patrocínio do Sr. Primeiro-Ministro à colecção Anita e o Magalhães. Gratos pela sua compreensão." O nosso autor dobra a carta cuidadosamente, quer guardá-la, é o seu troféu, acende um cigarro e caminha em direcção ao pôr-do-sol enquanto trauteia: "I'm a poor lonesome cowboy...".
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