domingo, 16 de novembro de 2008

Outras vidas



Não vou à Igreja desde os meus 13 anos.... desde que comecei a entender, a ter sentido critico, a pôr em causa os dogmas... Quero dizer, não vou com regularidade, não sou aquilo a que curiosamente se chama « praticante » - como se o simples facto de se ir à missa uma vez por semana nos transformasse em praticantes ( pessoas que põem em prática ) de qualquer credo ou religião - vou, eventualmente, numa ou outra ocasião, a uma ou outra Igreja, quando o respeito pelos intervenientes, me leva a assistir a um ou outro sacramento...

Também não sinto dentro das Igrejas a serenidade e a paz que muitos dizem sentir, talvez porque não me consigo sentir naquele espaço isolado e com demasiadas figuras - que nos olham com semblantes que variam entre o angustiado e acusador - mais próxima de qualquer entidade superior, chamemos-lhe Deus, se assim o deixarem os credos pelos quais nos regemos....

Isto para dizer que quando pretendo encontrar-me comigo mesma ou equilibrar-me ou sentir-me em paz, não vou à Igreja... a uma qualquer igreja... por estranho que vos possa parecer, vou ao teatro...

Desde que me conheço que gosto de ir ao teatro... o teatro é talvez a minha mais antiga - se esquecermos a que tive aos 10 anos pelo meu colega de carteira, mas dessa não posso hoje falar, sob pena de a Proninha me voltar a dizer que não sei falar de outra coisa se não de amor... e que devo, pois, estar apaixonada- e constante paixão...

Em miuda gostava de me preparar com o meu melhor fato, de chegar à sala, de admirar todos os seus promenores... de ver as pessoas e imaginar a realidade de cada uma... para mim o espectáculo começava antes do pano subir, ali mesmo ao meu lado... Depois perdia-me na realidade que os actores criavam e imaginava o que se passaria por detrás dela, enquanto julgava eu mesma viver realidades diferentes da minha....

As vissicitudes da vida levaram-me a enveredar por caminho diferente da representação, ou melhor pelo menos diferente do teatro, mas como as paixões nunca morrem .. um dia experimentei experimentar outras vidas e, desde então, a antiga e primeira paixão passou a estender-se e a viver-se também atrás do pano...

Desde então, o prazer, que o despojamento total do que sou e sinto me dá, me chama amiude para encarnar outras formas de ser e de sentir, e, raras vezes, consigo resistir ao seu apelo...

É nesses momentos em que deixo de ser eu, de ter o meu rosto, em que me divido em multiplas realidades e me recorto em sentimentos diferentes dos que sinto, que paradoxalmente, me sinto mais eu própria....

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