sábado, 15 de novembro de 2008

Ioga Degenerativo



Uma das grandes alegrias de estar em licença de maternidade é poder fazer desporto sem sentir grandes pesos na consciência. Afinal, sempre engordei quase 20 quilos e é mesmo uma questão de saúde pública mexer-me. Assim, o gaiato fica devidamente entregue a quem de direito e lá vai a recente mãe de tapete de ioga em punho, pronta a fazer uns asanas e a alinhar os seus chakras...

São 10 da manhã e na sala encontramo-nos sempre os mesmos - avós, reformados, mães recentes, grávidas, professores e jovens estudantes. No fundo, todos aqueles que não têm de estar a trabalhar a meio da manhã. Entra a professora com o seu ar sereno (isso é importante, pois já tive uma professora de ioga que teve uma crise nervosa e, afianço-vos, não é nada bom). Coloca uma música suave e começa a nossa aula.

Oiço a sua voz forçadamente suave: "Coloquem-se em Konasana; o pé direito por dentro para as mulheres e para os homens o pé esquerdo". Questiono o que me aconteceria se trocasse os pés? Se calhar acordava com pêlos no peito e voz grossa... mas com o saber milenar não se brinca e cumpro.

Seguem-se os exercícios respiratórios (pomposamente chamados de pranayama). Como é já Inverno convém não estar muito perto uns dos outros durante os mesmos, pois as secreções nasais tendem a ser mais fluídas e, com contracções respiratórias tão violentas, a voar.

Uns tadasanas, uttanasanas e trikonasanas depois já suo em bica. Mas a mestra guru insiste: "mantenham uma respiração lenta, estritamente nasal, profunda e completa". Tento não arfar e fazer esgares de dores. Questiono-me se os indianos tinham alguma ideia do que estavam a fazer...

O culminar da aula são as posturas invertidas. Quer isto dizer que nos temos de colocar uns valentes minutos de cabeça para baixo... Fará muito bem à circulação e ao intelecto. Ataco decidida uma invertida sobre os ombros (sarvangasana). O rabo custa-me a subir e as costas a endireitar. Insisto; dou um puxão e zás - sinto uma pontada nas costas. Fico sem me conseguir mexer. Penso com raiva naqueles que dizem que o ioga é mesmo bom para as costas...

Saio a custo da posição já na expectativa do momento seguinte - o relaxamento. Após as minhas noites em claro, o difícil é mesmo não adormecer. Ouço as palavras da professora e a grande deixa do Mestre De Rose: "Ouça tudo o que vou dizer, mas aproveite apenas o que lhe convier". As costas doem-me e a custo tento abstrair-me e a concentrar-me na luz azul brilhante, a que a mestra guru se refere, que supostamente envolve e relaxa todo o meu corpo. Mas, na minha mente apenas pairam os seguintes pensamentos: O puto estará bem? O que vamos almoçar? M***a!! Felizmente, acaba o relaxamento.
Volto para casa e, apesar de toda torcida e com dores nas costas, sinto a pairar algures no meu ser uma energia positiva.

Namasté!

1 comentário:

mouche albértine disse...

Ai amiga soprónia que inveja tenho das Konasas... será que o meu menisco me vai deixar voltar ao yoga e poderei, finalmente, fazer uma flor de lótus inteira sem crac-cracs a destoar no Karma-Kola Zen da aula?E as invertidas, as invertidas...anseio por fluxos sanguíneos rápidos pelo meu cérebro de doente acamada.Venham os pelos e as restantes consequências nefastas, mas tirem-me desta cama e as dores da merda do joelho. Vivó Yoga! Viva a Morfina! Vivam todas as panaceias alienígenas, orientais ou ocidentais, diz convicta a mosca da asa partida.