segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

caos calmo


1.aqui estou, a estas horas tardias, para vos dar conta do belo filme a que assisti esta noite:«Caos Calmo», com interpretação do Nani Moretti. o filme não foi por ele realizado, mas podia tê-lo sido. fala, entre outras coisas, da perda e das paragens para assimilação das situações irreversíveis. uma mulher, aparentemente não amada pelo seu homem, morre e este, acto seguido à morte da companheira de 12 anos, faz uma paragem inusitada no seu quotidiano: senta-se num banco de jardim em frente à escola primária da filha. espera pela criança todos os dias no banco, garantindo-lhe a presença securitária (da criança?do adulto?) nas imediações do edifício escolar . à noite conta-lhe as histórias do escritor que descobriu ter sido correspondente electrónico da sua mulher . deixa-se dormir com a criança. disfruta e redescobre a filha ao mesmo tempo que conhece uma outra mulher diferente daquela que não soube ou não quis amar. uma mulher que tinha mais sapatos do que aqueles de que ele se recordava, detentora de uma conta à ordem aprovisionada, consultora de cartomantes e paciente numa lista de espera para um cirurgião plástico. uma mulher que se sabia não amada e que morreu sabendo-se só. o homem vai relembrando, através das listagens compulsivas que faz em mente, as moradas das casas que habitou, os lugares a que não quer voltar, as companhias aéreas em que já viajou. as pessoas que orbitam à volta da vida do homem , continuando o seu rame-rame diário, procuram-no no banco do jardim, local onde lhe falam do que lhes vai sucedendo enquanto ele se decide pela imobilização . invariavelmente afastam-se do homem com um abraço.

2. gosto do relato destas paragens para o luto e o renascimento que sempre lhe segue. da consciência filmada da irreversibilidade da vida sem qualquer tom lamechas. gosto da consciência de que a vida não se refaz com a facilidade aquisitiva e de montagem das lojas Ikea. gosto do silêncio e do olhar surpreso e algo perdido ante a brutalidade da vida e da morte. gosto das perdas que nos fazem mover para os encontros. gosto da celebração fina e inteligente da perda como momento de recriação do homem.

3.também aprendi o que era um palíndromo ou uma frase anacíclica: Um palíndromo é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades (como uma cadeia de ADN; Enzima de restrição) que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. Num palíndromo, normalmente são desconsiderados os sinais ortográficos (diacríticos ou de pontuação), assim como o espaços entre palavras. é o caso da seguinte frase ensinada pela filha ao pai: i topi non avevano nipoti . frases reversíveis. podem ser percorridas também de trás para a frente. algo que não acontece na vida, a não ser- parece-me- para efeitos de ruminâncias de memória ou para fins literários...

1 comentário:

suprónia insuflávia disse...

Após busca, deixo as minhas preferidas:

Erro comum ocorre.

Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces.