amigas, desculpem o ar de táctica de guerra que rege este post, mas a situação é preocupante e há que estar atenta nestes dias. diria mesmo MUITO atenta!
indo sem mais rodeios à vaca fria, o que quero é aqui deixar-vos um poema-arma. nunca se sabe quando do mesmo iremos precisar.
reza assim, o dito:
«Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
*
Sou um vestíbulo do impossível
um lápis de armazenado espanto
e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
*
*
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
*
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque do sono
que vos roubei.
*
Senhores professores
que pusestes a prémio
minha rara edição de raptar-me em crianças
que salvo do incêndio da vossa lição.
*
Senhores tiranos
que do baralho de em pó volverdes
sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
*
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
*
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
*
Senhores juízes
que não molhais a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
*
Sou um instantâneo das coisas
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
*
Sou uma impudência
Sou uma impudência
a mesa posta de um verso
onde o possa escrever.
*
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.»
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.»
este poema, intitulado a «defesa do poeta» ( adaptável a defesa de bloguer) e publicado na obra “A mosca iluminada”, foi composto pela Natália Correia para ser lido nas suas alegações de arguida no Tribunal Plenário da Boa Hora, de má memória, na sequência da pulicação da antologia de poesia erótica, acabando, todavia, por não o usar a pedido do advogado que, sensatamente, a advertiu de que a leitura poderia ter efeitos nefastos.
os tempos são outros, contudo, e ninguém se aborreceria com um poema-arma numa sala de audiências.
já vos estou a ver a franzir o sobrolho e a pensar «agora foi de vez, a mosca intoxicou-se com a merda que sobrevoa por imposição da sua condição de insecto e avariou ». não me julguem, peço-vos, de forma precipitada e dêem-me, por uma vez na vida deste blogue, alguns créditos de atenção.
vejamos em conjunto os factos com a racionalidade e frieza que os mesmos merecem!
resumo de seguida, analítica e friamente (violando a minha essência), alguns acontecimentos dispersos mas que, uma vez conjugados, podem dar azo a preocupações maiores:
I.tudo começou com a política saudável anti-tabágica do engenheiro, tão empedernido nos seus
propósitos, que, por inépcia e ligeireza, atenuava comparativamente a sanção para o consumo de charros em locais públicos dando eco involuntário (para gaúdio de muitas moscas) aos argumentos medicinais a favor da legalização da cannabis sativa;
II.uns tempos depois alguém do partido teve a ideia de proibir piercings em zonas pudengas porque alegadamente nefastos para a saúde individual e, por conseguinte - sendo esta última entendida pelos governantes como o simples somatório numérico da primeira - lesivos do bem social maior da saúde pública. ante a estupefacção e indignação generalizadas desistiu o governo do projecto – da autoria, por certo, de alguém que, iniciado na arte do kinky, se terá ferido num objecto metálico durante uma cópula arriscada ;
III. a ASAE foi, entretanto, investida de uma visibilidade fora do comum no controlo sanitário da nossas vidinhas, começando a sua grande campanha de higienização fiscalizando, de uma assentada só, tudo o que era restaurante chinês, certamente guiada pela ideia comprovada de que os da terra do sol nascente comem tudo o que mexe, o que só pode ser uma prática indigesta;
IV.numa aliança moral inédita, fortalecida pela xenofobia , tempos depois, pretenderam a dita ASAE e a PSP «devolver o martim moniz às pessoas de bem» invadindo tudo o que era estaminé comercial explorado por não tugas;
V. acabou-se pressurosamente, e num ápice que nem deu espaço para qualquer reacção,com as ginginhas em copos de vidro, com as bolas de berlim na praia, e, temia-se, até, nos meios mais dados às patuscadas, a interdição do petisco nacional de verão: os caracóis. hábito alimentar primitivo e socialmente discriminatório das pobres lesmas consabidamente homeless;
III. a ASAE foi, entretanto, investida de uma visibilidade fora do comum no controlo sanitário da nossas vidinhas, começando a sua grande campanha de higienização fiscalizando, de uma assentada só, tudo o que era restaurante chinês, certamente guiada pela ideia comprovada de que os da terra do sol nascente comem tudo o que mexe, o que só pode ser uma prática indigesta;
IV.numa aliança moral inédita, fortalecida pela xenofobia , tempos depois, pretenderam a dita ASAE e a PSP «devolver o martim moniz às pessoas de bem» invadindo tudo o que era estaminé comercial explorado por não tugas;
V. acabou-se pressurosamente, e num ápice que nem deu espaço para qualquer reacção,com as ginginhas em copos de vidro, com as bolas de berlim na praia, e, temia-se, até, nos meios mais dados às patuscadas, a interdição do petisco nacional de verão: os caracóis. hábito alimentar primitivo e socialmente discriminatório das pobres lesmas consabidamente homeless;
VI.veio mais tarde o engenheiro a publicitar, como magna medida para a promoção da saúde do povo, a sua política do pãozinho sem sal (certamente ciente de que a cabala de tróia movida contra si a pretexto de freeports e outros empreendimentos urbanísticos originava uma hipertensão galopante no eleitorado);
VII.andava a malta aficionada dos petiscos numa lufa-lufa sem precedentes a açambarcar as especiarias, os enchidos, o café e a vinhaça, constituindo reservas para os tempos de crise que se avizinhavam, quando foi surpreendida na curva pela notícia da apreensão pela PSP de Braga de uns livros em saldo contendo na capa a “origem do mundo” de Gustave Coubert. este, apesar de socialista e republicano histórico, camarada de Proudhon e de outros figurões da comuna de paris, ao que parece, não granjeará– excepto junto do bardo alegre - de grandes simpatias no governo socialista/versão higiénica que rege a patriazinha lusa .
o último episódio relatado – cereja no topo do bolo de massa integral de um pasteleiro diabólico com nome de filósofo - aconteceu, sublinho - porque coincidência não desprezível - nessa braga católica , onde, já na década de setenta do século passado, o Luiz Pacheco fizera passear o libertino e o seu esplendor o qual se entretinha literalmente a sugar membros a belos mancebos (para evitar - imbuída do espírito- o uso de vernáculo). foi nessa mesma cidade que uns srs. PSP´s se indignaram com uma pintura de um nú revelando um púbis farfalhudo e umas generosas pernas abertas.
até seria motivo para rir se não me tivesse constado – por vias de insecto que omito revelar - que nos meios diplomáticos – por pressão do MAI- se discute até a pertinência de uma pequena manobra de incentivo judicial à expedição de uma rogatória para apreensão do original do musée D´Orsay com vista à realização de futura peritagem.
aguardemos, pois, por novas enquanto encomendamos as burkas para a primavera-verão de 2009. entretanto eu, e por mera precaução, escondi de baixo da mesa de jantar a minha antologia de poesia erótica e satírica da natália, a poesia erótica do bocage, os livros do sade e do henry miller. hesito ainda nos livros do d.h. lawrence, do oscar wilde e nas «cartas às minhas amiguinhas» do lewis caroll, bem como em retirar ou não da parede do meu quarto o quadrito de uma ninfeta do joão cutileiro (a moça está de pé, não exibindo despudoradamente a boca do corpo , também conhecida pelo soft name de madre, e tem os pelos púbicos aparados. acho que passa!).
entretanto, amigas, ouçam esta pobre e céptica mosca, não assumam uma posição passiva e imprevidente na espera das novas investidas desta política de costumes: actualizem lestas o jargão de salão e imprimam o poemita da avó Natália. decorem-no ao espelho da casa-de-banho treinando o ar mais indignado e altivo que consigam encontrar na panóplia de gestos aprendidos ao longo da vossa vida de filhas da madrugada. é que o nosso blogue- pela contabilidade aligeirada que fiz- contém referências e observações várias nem sempre coadunáveis com o espírito moralizante e higiénico do dia!
o último episódio relatado – cereja no topo do bolo de massa integral de um pasteleiro diabólico com nome de filósofo - aconteceu, sublinho - porque coincidência não desprezível - nessa braga católica , onde, já na década de setenta do século passado, o Luiz Pacheco fizera passear o libertino e o seu esplendor o qual se entretinha literalmente a sugar membros a belos mancebos (para evitar - imbuída do espírito- o uso de vernáculo). foi nessa mesma cidade que uns srs. PSP´s se indignaram com uma pintura de um nú revelando um púbis farfalhudo e umas generosas pernas abertas.
até seria motivo para rir se não me tivesse constado – por vias de insecto que omito revelar - que nos meios diplomáticos – por pressão do MAI- se discute até a pertinência de uma pequena manobra de incentivo judicial à expedição de uma rogatória para apreensão do original do musée D´Orsay com vista à realização de futura peritagem.
aguardemos, pois, por novas enquanto encomendamos as burkas para a primavera-verão de 2009. entretanto eu, e por mera precaução, escondi de baixo da mesa de jantar a minha antologia de poesia erótica e satírica da natália, a poesia erótica do bocage, os livros do sade e do henry miller. hesito ainda nos livros do d.h. lawrence, do oscar wilde e nas «cartas às minhas amiguinhas» do lewis caroll, bem como em retirar ou não da parede do meu quarto o quadrito de uma ninfeta do joão cutileiro (a moça está de pé, não exibindo despudoradamente a boca do corpo , também conhecida pelo soft name de madre, e tem os pelos púbicos aparados. acho que passa!).
entretanto, amigas, ouçam esta pobre e céptica mosca, não assumam uma posição passiva e imprevidente na espera das novas investidas desta política de costumes: actualizem lestas o jargão de salão e imprimam o poemita da avó Natália. decorem-no ao espelho da casa-de-banho treinando o ar mais indignado e altivo que consigam encontrar na panóplia de gestos aprendidos ao longo da vossa vida de filhas da madrugada. é que o nosso blogue- pela contabilidade aligeirada que fiz- contém referências e observações várias nem sempre coadunáveis com o espírito moralizante e higiénico do dia!
em guarda e alerta, portanto, camaradas no despudor, que os tempos não estão para distrações!
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1366440
http://fr.wikipedia.org/wiki/Gustave_Courbet
http://fr.wikipedia.org/wiki/Gustave_Courbet
9 comentários:
Está na hora de mais uma votação online!
A pornografia devia ser proibida?
a)estás a falar do Courbet ou do Canal Vénus?
b)sim, se não for aparada
c)não, mas as bocas do corpo cosidas do Sade fazem-me impressão
d)vivam os cumshots, as milfs e o spanking
e)proibida é que a gente gosta
b), se não for pedir demais
Bela prosa, mosca esvoaçante, com que me animaste a manhã! Voto no e) mas estou indecisa...
c), definitivamente! mas a verdade é que não sei o que são aquelas coisas da al. d). podes explicar amiga da lua?
esta votação permite bi-votos?
O voto é totalmente livre, caro Plexquba!
Ó amiga Mosca, quanto às explicações solicitadas, acho que este blogue não comporta assim tanto instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão…
vá lá! só para contrariar o espírito dos tempos! posta imagens pedagógicas...
Não posso. Pela mesma razão que tu postaste a defesa da Natália em lugar da poesia erótica que fundamentava o libelo. Que não conheço, mas que deve estar uns passitos à frente dos sonetos do Bocage, por certo.
voto então na d) mas vivam também os congressos
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