quarta-feira, 11 de março de 2009

Inevitabilidades



O sol demasiado quente para a época conduziu-a ao sul e ao descanso naquela manhã de domingo.

Na viagem a aragem que se fazia sentir, conseguiu limpar, ainda que temporáriamente, todos os registos da sua mente e do seu coração, e instalar a leveza, trazida pelo descanso, pelo ócio, pela despreocupação.

Depois, o mar, o cheiro da maresia misturado com o do peixe grelhado que se servia na mesa ao lado daquela onde esperava a sangria e o arroz de tomate com pasteis de bacalhau, transportaram-na, uma outra vez, para as memórias de infencia e do tempo em que nada conseguia estragar um dia de sol, ou um domingo junto ao mar. ( há épocas, momentos, em que quase nada é o bastante para se ser feliz )...

Entre as cadeiras e os puffs coloridos havia quem descansasse... ouviam-se sorrisos de crianças...alguns chapéus de palha, cobriam as cabeças, protegendo-as do sol e promovendo uma qualquer bebida adequada para combater o calor...

Ás duas da tarde, de um domingo, no restaurante á beira-mar, não se passava nada para além do convite sereno á felicidade, ao descanso, à cavaqueira...ao namoro... ou ao descompromisso...

O casal que minutos depois entrou na esplanada, de mão dada, acompanhando o empregado que gentilmente, lhe oferecia uma mesa virada para o mar, interrompeu, inesperadamente, o vazio a que se entregara...

Ele devia ter os seus trinta e poucos anos, era magro, moreno, vestia calças de ganga de marca, camisa branca... não era o Jude Law, mas tinha melhor ar do que a maioria dos mortais do mesmo género ....

Ela, já passara os 40, de relance dava ares ao Luis Represas, devia pesar mais de 100kg, vestia camisa de quadrados, tipo camionista, e calçava sapatos de vela, tinha uma cara rude....

Ainda permaneceram, de mãos dadas mais alguns momentos, depois de se terem sentado ..e durante largos minutos olharam-se nos olhos, apaixonados e embevecidos....

O empregado olhou-a e sorriu - enquanto servia o arroz de tomate com pimentos - malandrinho....

Já há alguns dias que tinha latente essa pergunta, mais permente e presente até do que desejava, e, naquele momento a mesma voltou a importunar o vazio do lazer e do descanso a que se entregara:

- O que faz com que nos apaixonemos por determinada pessoa?

Lembrou-se da existencia de várias teses, em que relevam diferentes factores:

Aparência

Muitos pesquisadores defendem que temos tendência a procurar parceiros do sexo oposto parecidos com nossos pais. Alguns acreditam até que somos atraídos por pessoas parecidas connosco. De facto, o psicólogo cognitivo David Perrett, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, realizou uma experiência onde manipulava fotos do rosto de cada indivíduo, transformando-o em um rosto do sexo oposto. Então, ele pediu para que o indivíduo seleccionasse, numa série de fotos, qual achava mais atraente. Segundo o Dr. Perrett, as pessoas que participaram na experiência sempre preferiam a versão manipulada de seu próprio rosto e não a reconheciam como sua.

Personalidade

Assim como acontece em relação à aparência, tendemos a preferir aqueles que lembram os nossos pais ou outras pessoas próximas de nós durante a infância, por causa da personalidade, senso de humor, gostos etc.

Feromônios

A questão dos feromônios humanos ainda é importante no campo da pesquisa do amor. A palavra “feromônio” vem das palavras gregas phéro e hormôn, que juntas significam "trazer excitação".


Outros ainda defendem que o amor é « uma questão de predisposição »....

Regressou a casa mais cedo do que o previsto, na ânsia de reler o « Enamoramento e Amor » do Alberoni... talvez uma leitura mais atenta a fizesse compreender não só o casal inusitado, que mais parecia tirado de um episódio da Oprah...mas sobretudo a essência e a razão de ser dos mais nobres sentimentos e dos mais inesperados envolvimentos...

Fechou o livro, olhou por entre o vidro da janela a lua que enchia o céu e convidava a novos momentos de inspiração...

Foi dificil parar de olhar a lua... e deixar de se inspirar nela...

É impossivel ensinar alguém a escolher os seus amores... teve nesse momento essa certeza...

Os verdadeiros amores serão sempre, para além dos tempos, e das razões, os que são sentidos...sem explicações... É isso aí....



5 comentários:

mouche albértine disse...

com esse teu "verão quente" e esse vídeo anexo provocaste uma repetição mecânica sonora na minha cabeça durante todo o dia. o raio da canção passou-me relativamente despercebida no "closer" mas gravou-se-me na memória com o "caimão" do nani moretti.quanto às paixões...pois, não sei, eu que praticamente não tenho olfacto, e não tomo os meus pais como padrão, culpo simplesmente o "meu lado esquerdo", como na canção também "pegajosa" dos clã.

Anónimo disse...

afinal o "closer" era uma fita :-p. efeito de, também, ter comido à beira-mar um pastel de bacalhau rançoso que tinha - a sério! - a crocante cara do yul brynner.

missangas disse...

Como é que um pastel de bacalhau pode ter a cara do yul brynner? Agora sempre que comer um pastel de bacalhau vou-me lembrar do yul brynner!

Anónimo disse...

este pastel sonhava ser actor na broadway e estar para sempre no palco (adorava o público) tantos dias como o yul brynner (+ de 4 mil vezes a fazer o tal papel de rei - que bacalhauzada...- até vir a estatueta dourada-vómito) mas não tinha a cara dele. a ambição do pastel naquela manhã era ser o hipólito de phaedra's love da sarah kane (as peúgas dos alemães de chinelos na praia, uma excitação). ai meu pai meu pai não me amasses que a tua mulher morreu porque não a comi (com esta frase o pastel teria uma brilhante carreira, mas quem o comeu fui eu)

missangas disse...

Acabou por ter o final dramático que merecia!