- tens que ver o 56! é um portento!
disse a M. assim que chegámos à sala. engraçada esta ideia do quadro com os números dos convivas. todos têm direito, logo à entrada, a uma pequena placa presa ao peito com um alfinete. somos uns 100. 100 caixinhas de correio para distribuir ali nas bolsas do placard. cada uma com o seu número. cada número com a sua pessoa. como é que acho o 56 no meio deste maralhal todo.. deve ser brincadeira da M. mais fácil ver a bolsa. não tem mensagens, esse 56. não deve ser assim tão charmant. e depois estes tipos da dança são todos tão com piquinho a azedo. aquele ali abanar-se freneticamente com as plumas. na, é o trinta e dois. melhor ir beber uma vodka para atestar e aquecer que a festa está morna. estes tipos do bailado levam a função muito a sério e primeiro que deixem de lado os complexos de pinas bausch´s inibidas pelo excesso de profissionalismo…pffff. bora emborcar uns copos para soltar a alma que esta coisa do fim-de-ano dá-me cá uma quebra.
-olá! posso ver o teu número, és o 56? eu sou a 37, vês, aqui, mesmo ao lado do decote!
- olá! eu sou o 26 e tenho 27…
- ahh..desculpa, pensava que eras o 56, ó 26 de 27.pareces mais velho…ou se calhar sou eu que congelei psicologicamente antes dos trinta. acontece às melhores..
- que disparate. o que é que o puto vai pensar. pela cor da bebida deve estar a dar na laranjada.
- ah! olha C. ali está o 56, que é uma 56!
- quem?onde?
- ali, aquela senhora de chapéu, a dançar a modos que uma valsa solitária, com a roupa rosa fushia!
- bolas! que figura dantesca. deve ser uma mãe que se colou ao fim-de-ano do filho à última. parece um daqueles jogos da primária: o que é que está a mais neste quadro de instrumentos de cozinha? ela é o próprio do martelo pneumático. dança sozinha. está contente, não está?
- um bocado ausente..parece um peixe exótico num aquário caído no oceano atlântico… a olhar para as sardinhas e os carapaus e a sonhar com mares cálidos.
- pois, coitada!
- opa, isto não está lá muito animado, pois não?
-na, nem por isso. não fora a 56…
- a rainha da festa! a verdadeira “dancing queen”.
- e se lhe deixássemos uma mensagem, só pelo gozo, tipo «sem ti esta festa não teria qualquer glamour! és linda».
- bora lá! passa daí uma caneta.
- estás a ver?! ela está a passar junto ao placard! eh! eh! já viu o correio. está a ler.
- está a sorrir, não está? está a corar ou é só abuso de blush, pá?
- agora vai para o bar… bahhh… aquilo verde é pisang ambong ? fónix..pensei que já não havia desde os 80, quando bebíamos tang… vai-lhe cair mal com os sapatos agulha!
- olha, que gira. encosta-se ao balcão toda langorosa e lança uns olhares em redor.. parece um farol a girar. uma diva feliniana pronta a atacar…ainda bem que não há fontes, que a gaja ainda se despia e saltava lá para dentro a exibir a roupa interior rosa carne…
- volta para a pista, vês?
- a mulher dança que se farta, pá! saltou do aquário, partiu-o… dá-lhes mulher que esses gajos da dança é mais cérebro e butô.. come as sardinhas e os carapaus.
- oh! olha ali, tens correio, tens correio!
- tás a brincar?- lê alto! vá lá lê alto…
- « e que tal esta noite fazermos um 63?»
disse a M. assim que chegámos à sala. engraçada esta ideia do quadro com os números dos convivas. todos têm direito, logo à entrada, a uma pequena placa presa ao peito com um alfinete. somos uns 100. 100 caixinhas de correio para distribuir ali nas bolsas do placard. cada uma com o seu número. cada número com a sua pessoa. como é que acho o 56 no meio deste maralhal todo.. deve ser brincadeira da M. mais fácil ver a bolsa. não tem mensagens, esse 56. não deve ser assim tão charmant. e depois estes tipos da dança são todos tão com piquinho a azedo. aquele ali abanar-se freneticamente com as plumas. na, é o trinta e dois. melhor ir beber uma vodka para atestar e aquecer que a festa está morna. estes tipos do bailado levam a função muito a sério e primeiro que deixem de lado os complexos de pinas bausch´s inibidas pelo excesso de profissionalismo…pffff. bora emborcar uns copos para soltar a alma que esta coisa do fim-de-ano dá-me cá uma quebra.
-olá! posso ver o teu número, és o 56? eu sou a 37, vês, aqui, mesmo ao lado do decote!
- olá! eu sou o 26 e tenho 27…
- ahh..desculpa, pensava que eras o 56, ó 26 de 27.pareces mais velho…ou se calhar sou eu que congelei psicologicamente antes dos trinta. acontece às melhores..
- que disparate. o que é que o puto vai pensar. pela cor da bebida deve estar a dar na laranjada.
- ah! olha C. ali está o 56, que é uma 56!
- quem?onde?
- ali, aquela senhora de chapéu, a dançar a modos que uma valsa solitária, com a roupa rosa fushia!
- bolas! que figura dantesca. deve ser uma mãe que se colou ao fim-de-ano do filho à última. parece um daqueles jogos da primária: o que é que está a mais neste quadro de instrumentos de cozinha? ela é o próprio do martelo pneumático. dança sozinha. está contente, não está?
- um bocado ausente..parece um peixe exótico num aquário caído no oceano atlântico… a olhar para as sardinhas e os carapaus e a sonhar com mares cálidos.
- pois, coitada!
- opa, isto não está lá muito animado, pois não?
-na, nem por isso. não fora a 56…
- a rainha da festa! a verdadeira “dancing queen”.
- e se lhe deixássemos uma mensagem, só pelo gozo, tipo «sem ti esta festa não teria qualquer glamour! és linda».
- bora lá! passa daí uma caneta.
- estás a ver?! ela está a passar junto ao placard! eh! eh! já viu o correio. está a ler.
- está a sorrir, não está? está a corar ou é só abuso de blush, pá?
- agora vai para o bar… bahhh… aquilo verde é pisang ambong ? fónix..pensei que já não havia desde os 80, quando bebíamos tang… vai-lhe cair mal com os sapatos agulha!
- olha, que gira. encosta-se ao balcão toda langorosa e lança uns olhares em redor.. parece um farol a girar. uma diva feliniana pronta a atacar…ainda bem que não há fontes, que a gaja ainda se despia e saltava lá para dentro a exibir a roupa interior rosa carne…
- volta para a pista, vês?
- a mulher dança que se farta, pá! saltou do aquário, partiu-o… dá-lhes mulher que esses gajos da dança é mais cérebro e butô.. come as sardinhas e os carapaus.
- oh! olha ali, tens correio, tens correio!
- tás a brincar?- lê alto! vá lá lê alto…
- « e que tal esta noite fazermos um 63?»
6 comentários:
As saudades que eu já tinha da Madame Sousa!
não posso deixar de pensar que se ela tivesse uma filha mulher, esta nunca a deixaria fazer esta figura! o que nos vai proteger na velhice, mosca, vão ser as amigas, que não nos vão deixar exibir assim as nossas mágoas. e nós nunca beberíamos pisaganbon. Nem baileys!
A provinciana.
oh, querida, não sejas assim com a senhora..eu gosto dela, a sério. já sabes o que penso da tua teoria de deixar de usar mangas curtas a partir dos 60. eu acho que o amadurecimento passa por deixar de ter medo do ridículo..sabes, eu acho que as outras duas estão tão mais sózinhas que a dita senhora... e o problema é que se assim continuarem até aos 60, provavelmente, por razões estéticas, nuca irão dançar para uma festa a que não pertencem e beber aquilo que, realmente, lhes apetece beber. beijos.
olha...pensando bem...conto contigo se abusar do blush..tá? quanto às bebidas é melhor não te meteres!
tu gostas dela, mas de um modo complacente, confessa, e tens sentido estético, que eu sei... e a solidão eu via no facto dos moscardos, na realidade, não quererem a senhora na festa deles, não na dança solitária na festa a que não pertence.
tu gostas dela, mas de um modo complacente, confessa, e tens sentido estético, que eu sei... e a solidão eu via no facto dos moscardos, na realidade, não quererem a senhora na festa deles, não na dança solitária na festa a que não pertence.
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